1802, o último funeral de um Papa celebrado pelo seu sucessor

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A cerimônia do funeral de Bento XVI na Praça de São Pedro tem como precedente mais recente o que aconteceu com Pio VI, que morreu no exílio em Valence, em 1799, como prisioneiro de Napoleão. Três anos depois, quando seus restos mortais foram trazidos de volta a Roma, foi realizado um funeral solene celebrado por Pio VII

ANDREA TORNIELLI

Um Papa que celebra o funeral de seu predecessor: o que está para acontecer nas próximas horas na Praça São Pedro com Francisco presidindo o funeral de Bento XVI foi apresentado, compreensivelmente, como algo sem precedentes na história da Igreja nos tempos modernos. Certamente sem precedentes foi a renúncia do Papa Ratzinger, motivada por razões de idade e falta de força física e mental para sustentar as responsabilidades e o peso dos compromissos associados ao pontificado. Mas um Pontífice reinante que abençoa o corpo de seu predecessor antes do enterro é um fato que tem um precedente bastante recente quando comparado com os dois mil anos de história da Igreja.

Aconteceu em fevereiro de 1802, com o solene funeral de Pio VI, celebrado na Basílica de São Pedro por seu sucessor Pio VII. Pio VI, que nasceu com o nome de Giannangelo Braschi (Cesena 1717 – Valence 1799), foi eleito pontífice em 1775, depois de um longo reinado faleceu no exílio na França, prisioneiro de Napoleão. O funeral foi realizado em Valence, imediatamente após sua morte, enquanto os “novendiali” (os nove dias de missas de sufrágio antes do início da votação no conclave) foram realizados em Veneza, na cidade onde os cardeais se reuniram para eleger o sucessor.

Pio VII, eleito em 14 de março de 1800, mandou vir os restos mortais de seu predecessor de volta a Roma. A exumação foi feita em dezembro de 1801 e os restos mortais saíram de Valence para Marselha e de lá de navio para Gênova. Ao desembarcar na Itália, o corpo do Pontífice exilado começou uma triunfante peregrinação, com solenes exéquias celebradas em cada etapa da viagem. Em 17 de fevereiro de 1802, aconteceu “a magnífica entrada triunfal em Roma”, com os cardeais aguardando os restos mortais na Ponte Milvio. A solene cerimônia fúnebre foi celebrada na Basílica de São Pedro com a presença do Papa Pio VII.

Porém os restos de Pio VI não tiveram paz: o coração e o “precórdio” (antigo nome para os órgãos e formações anatômicas da cavidade torácica que circunda o coração, considerados a sede dos afetos, dos sentimentos e da sensibilidade) de Pio VI foram levados de volta a Valence, a pedido explícito do governo de Paris, em uma longa viagem de retorno através de várias paradas na França em 1802. Mas em 1811 o coração foi novamente devolvido a Roma.

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