No encontro com a Delegação do Prêmio “é jornalismo”, o Papa fez um pedido: “A esperança é que, hoje – um tempo em que todos parecem comentar tudo, prescindindo dos fatos e, muitas vezes, até antes de se informar, – o ‘princípio da realidade’ seja cada vez mais redescoberto e cultivado: a realidade e o dinamismo dos fatos, que nunca são imóveis, mas evoluem sempre para o bem ou para o mal, apara não correr o risco de a sociedade da informação se transformar em uma sociedade da desinformação”
Manuel Tavares/Raimundo de Lima – Vatican News
O Santo Padre recebeu no Vaticano, na manhã deste sábado, 26, uma delegação que lhe conferiu o Prêmio “Jornalismo”. Em sua saudação, o Papa confessou aos presentes que “antes de se tornar Bispo de Roma, recusava o oferecimento de prêmios, que continuou a fazê-lo também como Papa”. No entanto, explicou o motivo que o levou a aceitar este prêmio: “A urgência de uma comunicação construtiva que favoreça a cultura do encontro e não do desencontro, da paz e não da guerra, da abertura aos outros e não do preconceito”.
Aos ilustres expoentes do jornalismo italiano, Francisco confiou sua esperança e, ao mesmo tempo, fez-lhes um pedido de ajuda. Sobre a esperança, disse:
“A esperança é que, hoje – um tempo em que todos parecem comentar tudo, prescindindo dos fatos e, muitas vezes, até antes de se informar, – o ‘princípio da realidade’ seja cada vez mais redescoberto e cultivado: a realidade e o dinamismo dos fatos, que nunca são imóveis, mas evoluem sempre para o bem ou para o mal, para não correr o risco de a sociedade da informação se transformar em uma sociedade da desinformação”.
A desinformação é um dos pecados do jornalismo, que são quatro, acrescentou o Santo Padre: a desinformação, quando o jornalismo não informa ou informa mal; a calúnia – tantas vezes usada; a difamação, que é diferente da calúnia, mas destrói; e o quarto é a coprofilia, ou seja, o amor pelo escândalo, pela sujeira. O escândalo vende. E a desinformação é o primeiro dos pecados, os erros – digamos assim – do jornalismo.
É preciso difundir uma cultura do encontro, do colóquio, da escuta do outro e das suas razões. A cultura digital oferece-nos tantas novas possibilidades de intercâmbio, mas também corre o risco de transformar a comunicação em slogans. Aqui, Francisco expressou sua preocupação, por exemplo, pelas manipulações dos que propagam, de modo egoístico, falsas notícias para orientar a opinião pública. Por isso, pediu, encarecidamente, o favor de não ceder à lógica da contraposição e não se deixar condicionar pelas linguagens do ódio. E acrescentou:
“Na atual conjuntura dramática, atravessada pela Europa, devido à continuação da guerra na Ucrânia, somos chamados a um salto de responsabilidade. A minha esperança é que seja dado mais espaço aos que defendem a paz; aos que estão comprometidos em pôr um ponto final neste, mas também em tantos outros conflitos; aos que não se rendem à lógica perversa da guerra, mas continuam a acreditar, apesar de tudo, na paz, no colóquio e na diplomacia”.
Após expressar a sua “esperança” aos líderes do jornalismo italiano, Francisco referiu-se ao seu “pedido de ajuda”, sobretudo, neste tempo, em que se fala muito e se escuta pouco, em que o sentido do bem comum corre o risco de enfraquecer. E o Papa explicou:
“Toda a Igreja empreendeu um caminho para redescobrir a palavra ‘juntos: caminhar juntos, interrogar-se juntos, assumir juntos um discernimento comunitário, que, para nós, é oração, como fizeram os primeiros Apóstolos: sinodalidade, que pudesse se tornar um costume diário, em todas as suas expressões. Por isso, em um pouco mais de um mês, Bispos e leigos do mundo inteiro vão se reunir aqui em Roma para a realização de um Sínodo sobre a sinodalidade”.
Falar de um “Sínodo sobre a sinodalidade”, disse o Papa, pode parecer algo complicado, autorreferencial, excessivamente técnico e pouco interessante para o público em geral. Mas, o que aconteceu no ano passado, que continuará com a Assembleia sinodal no próximo mês de outubro e, depois, com a segunda etapa do Sínodo em 2024, é algo muito relevante para a Igreja. A Igreja propõe este evento ao mundo, por vezes, incapaz de tomar decisões, mesmo quando a nossa sobrevivência está em jogo. E Francisco acrescentou:
“Estamos tentando aprender um novo modo de nos relacionar, ouvir uns aos outros para ouvir e seguir a voz do Espírito. Por isso, abrimos as portas, oferecendo a todos a oportunidade de participar, levando em conta as diversas necessidades e sugestões de todos. Queremos contribuir juntos para a construção de uma Igreja, onde todos se sintam em lar, onde ninguém esteja excluído”.
Para que isso seja possível, o Santo Padre pediu a ajuda dos mestres do jornalismo: ajudá-lo a falar deste processo como ele realmente é, deixando de lado a lógica dos slogans e das histórias pré-confeccionadas. Todos trarão benefício disso; isso também “é jornalismo”!