No coração de Jesus jamais habitou a indiferença, sempre teve compaixão dos necessitados; por isso, se comoveu diante da multidão faminta. A compaixão de Jesus pelo povo mostra a sua força de vontade de estar próximo de nós e de nos salvar. Jesus quer que os seus discípulos, também, sejam movidos por um coração que tenha a capacidade de se comover com aqueles que vivem em situações desumanas, como é o caso da fome. Hoje, somos chamados a contemplar o agir de Jesus para que, assim, a nossa vida de comunidade seja iluminada por sua prática solidária.
Celebrar o Natal do Senhor é renovar o nosso compromisso de colaborar na construção de um mundo mais fraterno e solidário. Em Mt 14,13-21 vemos que os discípulos queriam lavar as mãos diante das necessidades daquela multidão, querem dar o povo à própria sorte. Porém, Jesus aponta outro caminho: “eles não precisam ir embora”. Jesus devolve aos discípulos e a nós a responsabilidade de saciar a fome do povo. Também a comunidade cristã não pode assistir, com indiferença, a fome do mundo.
A Palavra de Deus é luz que ilumina o agir solidário do discípulo de Jesus. A situação da multidão faminta começa a ser solucionada quando Jesus pede que, apesar de pouco, os discípulos coloquem à disposição da multidão faminta tudo o que têm. É isso que Jesus espera de nossas comunidades, o pouco que cada um possui deve ser colocado a serviço de todos e, assim, o que é pouco se torna muito. É preciso que nossas comunidades encontrem possibilidades e condições para solucionar os seus problemas, sobretudo a realidade da fome e da miséria, em uma constante busca pela superação do egoísmo, da inveja, do orgulho e do desejo de poder.
Jesus, ao alimentar a multidão, age como verdadeiro pastor. No relato, podemos ver os mesmos sinais que Ele fez durante a última Ceia; e são também os mesmos gestos de cada sacerdote ao celebrar a Eucaristia. A comunidade cristã nasce e renasce continuamente desta Comunhão Eucarística. Por isso, viver a comunhão com Cristo é totalmente oposto ao permanecer passivo e alheio à vida de todos que sofrem na miséria, na doença, na violência e no abandono. O discípulo de Jesus, que participa e celebra a Eucaristia, jamais poderá dizer que não tem nada a ver com a fome e com as necessidades dos mais desfavorecidos. Devemos estar sempre comprometidos com a superação da fome e com toda e qualquer realidade desumanizadora.
A ordem de Jesus, “dai-lhes vós mesmos de comer”, é um duplo convite que une a intenção e a prática, a interioridade e a exterioridade. Aquele que segue Jesus deve aprender que a compaixão o impele a agir; por isso, deve estar sempre com os olhos abertos para a realidade e tomar atitudes que promovam a vida. Jesus rompe com a cultura da indiferença e propõe a fraternidade: Ele não despede ninguém sem saciar sua fome ou sede; Ele deseja que aqueles que encontram conforto em seu pastoreio também vivam dignamente. A celebração do Natal do Senhor deve renovar as nossas práticas pastorais, concedendo-nos um olhar sensível e comprometido em relação às realidades que carecem de gestos de esperança e de fraternidade.