Discurso do Papa João Paulo II sobre a Família aos Bispos do Leste em 22/11/2002
Como aprender a amar e a dar-se generosamente? Nada impele tanto a amar, dizia Santo Tomás, como saber-se amado. E é precisamente a família – comunhão de pessoas onde reina o amor gratuito, desinteressado e generoso – o lugar em que se aprende a amar. O amor mútuo dos esposos prolonga-se no amor aos filhos. Com efeito, mais do que qualquer outra realidade humana, a família é o ambiente em que o homem é amado por si mesmo e aprende a viver “o dom sincero de si”. A família é, portanto, uma escola de amor, na medida em que persevera na própria identidade: a comunhão estável de amor entre um homem e uma mulher, fundada no matrimônio e aberta à vida.
Quis recordar estes princípios, pois quando desaparecem o amor, a fidelidade ou a generosidade perante os filhos, a família se desfigura. E as consequências não se fazem esperar: para os adultos, solidão; para os filhos, desamparo; para todos a vida se torna território inóspito. O fiz, de certo modo, para convocar todas as forças da pastoral diocesana para não hesitar em atender aqueles casais que se encontram em dificuldades, animando-os oportunamente a serem fiéis à sua vocação de serviço à vida e à plena humanidade do homem e da mulher, fundamento da “civilização do amor”. Aos que temem as exigências que tal fidelidade comporta, o Papa diz-lhes: Não tenham medo dos riscos! Não existe uma situação difícil que não possa ser enfrentada de modo adequado quando se cultiva um clima de vida cristã coerente. De resto, imensamente maior que o mal que opera no mundo é a eficácia do Sacramento da Penitência, caminho de reconciliação com Deus e com o próximo.
Na Campanha da Fraternidade de 1994 voltei a observar, com certa apreensão, os rumos tomados pela instituição da família na vossa pátria. “O clima de hedonismo – dizia naquela ocasião – e de indiferentismo religioso, que está na base do esfacelamento da sociedade, propaga-se no seu interior e é a causa da desagregação de muitos lares”.
Quisera, por isso, convidar os que se dedicam à Pastoral Familiar das vossas dioceses a dar novo impulso na defesa e na promoção da instituição familiar, com uma adequada preparação deste Sacramento grande, “com referência a Cristo e à Igreja”, como diz São Paulo (Ef 5, 32). Através dos ensinamentos da Igreja, fornecidos em aulas, preparação dos noivos ao casamento, conversas particulares com algum casal idôneo ou com um sacerdote experiente, o matrimônio reforçará a fé, a esperança e a caridade dos noivos face à nova situação social e religiosa que são chamados a assumir.
(4ª parte do artigo sobre o “Discurso do Papa João Paulo II sobre a Família aos Bispos do Leste em 22/11/2002”).