O observador permanente da Santa Sé na Onu falou no Fórum político de alto nível sobre desenvolvimento sustentável promovido em Nova York pelo Conselho Econômico e Social: estratégias de reestruturação da dívida devem ser implementadas para dar aos países em desenvolvimento “o espaço fiscal de que precisam para investir em suas populações
L’Osservatore Romano
Se as tendências atuais continuarem, apenas um terço dos países do mundo terá reduzido a pobreza nacional pela metade nos próximos seis anos, conforme previsto pelas metas da Agenda 2030 da Onu para o desenvolvimento sustentável. E a “realidade escandalosa” é que o compromisso de enfrentar os aspectos “multidimensionais” da pobreza está “fora do alcance” de muitos países em desenvolvimento, que são forçados a “desviar recursos preciosos para o pagamento de dívidas insustentáveis”. Foi o que destacou na terça-feira, 9 de julho, o arcebispo Gabriele Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, no Fórum político de alto nível sobre desenvolvimento sustentável promovido em Nova York pelo Conselho Econômico e Social. Reiterando que a pobreza continua sendo “o maior desafio global que devemos enfrentar”, dom Caccia ressaltou que esse flagelo não diz respeito “apenas aos recursos financeiros” das pessoas, mas se manifesta “em uma variedade de formas que exigem uma abordagem integral”, alinhando “medidas baseadas em dinheiro com políticas globais que enfrentem as privações não monetárias experimentadas diariamente por milhões de pessoas”, educação, saúde, proteção social.
Ele ressaltou que há, de fato, uma “disparidade significativa” entre a porcentagem de gastos públicos com serviços essenciais nas economias avançadas e nas economias emergentes e em desenvolvimento. Portanto, é “imperativo” tomar medidas “radicais e transformadoras” em relação à dívida. Relembrando os apelos do Papa às nações mais ricas para que “concordem em perdoar as dívidas de países que nunca poderão pagá-las”, o observador permanente citou como exemplo “a implementação de estratégias de reestruturação da dívida” que forneçam aos países em desenvolvimento “o espaço fiscal de que precisam para investir em suas populações”.
Ao mesmo tempo, o arcebispo Caccia constatou que atualmente existem “níveis alarmantes de fome e desnutrição no mundo inteiro”. Crises econômicas, mudanças climáticas e conflitos estão agravando as vulnerabilidades de milhões de pessoas, “distanciando a visão de um mundo sem fome”. Nos esforços para lidar com esse contexto de emergência – prosseguiu – o papel desempenhado por atores não-estatais permanece ‘central’, incluindo a Igreja católica, que, por meio de inúmeras organizações, iniciativas e associações de beneficência, está presente no local ‘incluindo, mas não se limitando a’, a distribuição de refeições diárias. No entanto, a dependência de soluções de curto prazo é inadequada, observou, enfatizando a necessidade de “agir com um renovado senso de urgência” para aliviar a fome e também para transformar os sistemas alimentares e garantir “sustentabilidade, resiliência e equidade” na produção e distribuição de alimentos.