Embaixador do Equador: com solidariedade buscamos sair deste momento difícil

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A atual situação que o Equador está enfrentando diante da pandemia de coronavírus; o colapso do sistema de saúde, dos serviços jurídicos e funerários em Guayaquil; a realidade do sistema de saúde no país e a situação precária da população. Estes são alguns dos temas tratados na entrevista com o embaixador do Equador junto à Santa Sé.

Renato Martinez – Cidade do Vaticano

O Equador é um dos países latino-americanos mais afetados pelo Covid-19, onde as “condições climáticas e a precariedade” não ajudam a manter as pessoas confinadas em suas casas, agravando essa trágica realidade. A este respeito, conversamos com José Luis Álvarez Palacio, embaixador do Equador junto à Santa Sé, que explica as medidas tomadas pelo governo para lidar com a epidemia sanitária.

Qual é a atual situação no Equador diante da pandemia de coronavírus?

R.- Infelizmente, a pandemia de Covid-19 teve um impacto profundo em meu país, o Equador. Tivemos que lamentar uma série de mortes de irmãos equatorianos, especialmente na cidade de Guayaquil. No momento, o Equador representa um dos países cujo nível de contágio é um dos mais altos da América Latina, aproximadamente 170 por cada milhão de habitantes, combinado com uma taxa de mortalidade pelo vírus de cerca de 4%. Isso afetou principalmente as províncias costeiras, onde nossa população obviamente tem maiores dificuldades em ficar em lar devido às condições climáticas e, em muitos casos, também devido às condições precárias em que vive.

No entanto, o governo do Equador implementou uma série de atividades para inicialmente combater o contágio e depois ajudar as famílias a sepultar o falecido. Na semana passada, na cidade de Guayaquil, houve um momento difícil devido ao acúmulo de mortos, número que excedia as capacidades do sistema de saúde, do sistema jurídico e também do sistema operacional das empresas que prestam serviços funerários. Isso já foi corrigido neste momento e fez com que muitas imagens fossem publicadas na mídia internacional, revelando uma dura realidade, dramática, mas também devo dizer que, infelizmente, grupos políticos que buscam retornar ao poder no Equador, usaram e usaram mal essas imagens; em muitos casos, montaram áudios e vídeos, sugerindo que no Equador, por exemplo, corpos foram queimados nas ruas, isso não é verdade, não é verdade.

Qual é a verdadeira situação em Guayaquil, onde as notícias que nos chegam falam de um estado de calamidade, e qual é a situação em outras cidades do Equador?

R.- Sem dúvida, o que está acontecendo em Guayaquil, e volto a repetir, é sério, é lamentável, mas o governo igualmente de maneira solidária e todo o país de maneira unida e coordenada, está apoiando  a população da cidade de Guayaquil, onde efetivamente se concentram três quartos dos casos de contágio. No resto do país, nas cidades do centro, por exemplo, os casos são menores. A segunda província em número de contágios em Guayas é Pichincha, com uma proporção de praticamente 7 para 1. Portanto, no momento, o problema está muito concentrado na província de Guayas e é um momento em que tanto o setor público do Equador, o governo do presidente Moreno e empresas privadas, se uniram para ajudar nossos irmãos no litoral. No momento, o Equador está atendendo à emergência e temos certeza de que sairemos disso mais forte e mais unido.

 

Que medidas concretas o governo do Equador tomou junto com outras instituições do país para enfrentar a pandemia de coronavírus?

R.- Se há algo de bom nessa crise que estamos enfrentando, é justamente que ela acabou nos unindo. O governo do presidente Moreno, em coordenação com várias entidades dos setores público e privado, tomou várias medidas. A primeira, a mais relevante, é ajudar as famílias a ficarem em lar, e para tal foram implementadas estratégias e operações para que os alimentos cheguem ao lar dessas famílias ou, na sua falta, dinheiro, para fazer com que por três, quatro semanas, as famílias não tenham que sair para trabalhar, nem se concentrar em locais públicos como mercados. Em segundo lugar, estamos tentando incrementar a níveis massivos os testes para detectar o vírus, porque ficou provado que isso definitivamente ajuda a manter, a conter o contágio. E então, na parte final do processo, equipar, proteger nossos médicos, e falo em parte final, porque é um processo, porém quando os pacientes que necessitam de atenção médica chegam aos hospitais, é muito relevante que nossos médicos estejam bem protegidos, eles também são uma prioridade. Temos previsto que, durante as próximas duas semanas, o Equador ainda deverá estar confinado e é uma etapa crítica e, pouco a pouco, voltaremos às atividades normais, sempre pensando no bem-estar da maioria e principalmente dos mais vulneráveis.

Qual é a real situação do sistema de saúde no Equador e como está enfrentando essa emergência na saúde?

R.- Nenhum sistema de saúde no mundo, e isso está comprovado, quer na China, aqui na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos, está preparado para uma epidemia, para uma pandemia como esta que está nos atingindo com tanta crueldade, com tanta dureza. O sistema de saúde equatoriano não foi, não é a exceção, no entanto, a saúde pública no Equador é bem atendida, estamos conseguindo os recursos, temos tido momentos duros e difíceis, justamente porque não estávamos preparados, mas depois de praticamente três semanas de coordenação logística, técnica e científica, o governo nacional tem sob controle a conteção do vírus e procuramos conter o contágio, de forma tal que o sistema de saúde não entre em colapso, principalmente em outras cidades. Essas são as medidas que foram tomadas, priorizamos os gastos públicos, fortalecemos os orçamentos de saúde e estamos trabalhando em estreita colaboração com nossas equipes médicas, com o sistema de medicina privada, a fim de melhor resolver esse problema, e esperamos que a famosa curva se achate e que os contágios que virão sejam diluídos da melhor maneira ao longo do tempo, esse é o objetivo, uma vez que os cientistas nos dizem que este é um vírus com o qual teremos que aprender a viver, ao menos até que se encontre uma vacina, o que esperamos ocorra em breve.

O Equador, juntamente com outros países, está participando de uma iniciativa para combater o Covid-19. Qual é a proposta de constituir uma frente global para combater o coronavírus?

O presidente Lenin Moreno, juntamente com outros quatro líderes mundiais, assinou uma proposta para formar uma verdadeira aliança global para mobilizar a engenhosidade e a solidariedade humanas. Devemos pensar que diante de uma situação como a que o mundo está passando neste momento, é muito relevante que também estejamos unidos como países. Que a pesquisa e a solidariedade se unam para superar essa pandemia e, principalmente, esperara que, se a vacina for encontrada, seja acessível a toda a população. O presidente Moreno, junto com o presidente da Alemanha, o rei da Jordânia, o presidente da Etiópia e Cingapura, assinaram este documento que faz um apelo global, que faz um chamado mundial paea essa solidariedade e para a necessidade de trabalhar juntos contra a pandemia.

Qual é a sua mensagem à população do Equador e também aos nossos irmãos latino-americanos que são atingidos por esta crise de saúde?

Quero agradecer ao povo italiano, onde tive que viver esse problema, e vi como eles lidaram com isso. Eles se tornaram uma referência para nós e, seguindo o exemplo, meu apelo é que o Equador confie em suas autoridades, fique em lar que é a melhor maneira para conter o vírus, manter a distância física de outras pessoas, que cuidemos de nossos idosos; porém, principalmente, é uma mensagem de solidariedade e é uma mensagem de esperança, sairemos disso fortalecidos, não apenas os equatorianos, o mundo inteiro sairá disso melhor do que éramos até o dia em que isso começou.

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