O presidente da Pontifícia Academia Latinitatis, professor de Língua e Literatura Latina da Universidade Roma Tre, relê as palavras de Francisco na Mensagem por ocasião da entrega do “Prêmio das Academias Pontifícias 2023”. “O Santo Padre – sublinha ele – recorda-nos que o latim é uma língua universal que pode criar pontes”
Fabio Colagrande – Cidade do Vaticano
“Parece urgente apoiar o compromisso por um maior conhecimento e um uso mais competente da língua latina, tanto no °ambito eclesial como no mundo mais amplo da cultura”.
Com esta motivação, em novembro de 2012, Bento XVI instituiu – com o Motu Proprio Latina Lingua – a Pontificia Academia Latinitatis, reiterando a sua preocupação pela promoção e difusão da língua latina, “capaz de transmitir universalmente a mensagem do Evangelho”, já afirmado por João XXIII, pouco antes da abertura do Concílio, na Veterum sapientia.
Os premiados pela Pontifícia Academia da Latinidade
Na esteira destas páginas do Magistério é possível ler as recentes palavras do Papa Francisco que definiu o latim como “um tesouro de conhecimento e de pensamento”, que “representa as raízes da civilização ocidental e, em muitos aspectos, a nossa própria identidade”.
O Pontífice assim se expressou numa Mensagem publicada por ocasião da entrega do “Prêmio Academias Pontifícias 2023”, organizado precisamente pela Pontifícia Academia Latinitatis com o objetivo de “promover e desenvolver o humanismo cristão”.
Em uma cerimônia realizada no Dicastério para a Cultura e a Educação, no dia 24 de outubro de 2024, o prefeito, cardeal José Tolentino de Mendonça, leu o texto de Francisco e entregou as Medalhas de ouro do Pontificado aos vencedores.
Primeiro prêmio para o Dr. Enrico Piergiacomi, pesquisador de História da Filosofia junto ao “Technion – Israel Institute of Technology” de Haifa, que – lê-se nas motivações – “no seu trabalho promoveu a aplicação dos valores humanísticos aos desafios atuais”, analisando, entre outros, “como o pensamento matemático de Leonardo da Vinci é influenciado pela tradição clássica”.
Segundo prêmio ao trabalho dos colaboradores da edição nacional da “Opera Mathematica” de Francesco Maurolico, sacerdote humanista do século XVI, realizada sob a direcção do professor Daniele Napolitani na Universidade de Pisa.
Linguagem da história
O professor Mario De Nonno, presidente da Pontificia Accademia Latinitatis e professor de Língua e Literatura Latina da Universidade Roma Tre, comenta com orgulho e satisfação, aos microfones da mídia vaticana, as palavras do Papa Francisco sobre o valor atual do Língua latina.
“Como sublinha o Santo Padre – explica – o latim é um tesouro de conhecimento e de pensamento na medida em que é uma chave de acesso aos textos clássicos, ou seja, não só os clássicos pagãos, mas também aqueles cristãos que moldaram o nosso mundo. Portanto, uma linguagem que abraça a filosofia, a ciência, a arte e a política.”
“Parece-me poder ler nesta apreciação do Papa – continua o professor – essencialmente o valor do latim como língua da história, como língua da memória. Uma memória na qual estamos inseridos e com a qual devemos estabelecer uma relação fecunda, colocando sempre em relação memória e contemporaneidade”.
Uma linguagem universal que cria pontes
Na sua Mensagem, Francisco também exalta a capacidade da língua latina de funcionar como “instrumento de reflexão e colóquio”. “O colóquio – acrescenta o Papa – mais necessário do que nunca em um mundo fragmentado como o nosso”. “Também estas palavras – comenta o presidente da Pontifícia Academia Latinitatis – nos confortam, porque o Santo Padre sublinha o elemento universal que caracteriza a língua latina, língua que expressa historicamente uma cultura na qual existe uma forte integração entre a elaboração cultural e sociedade. Não é por acaso que é a linguagem do antigo enciclopedismo e, portanto, da capacidade de relacionar ciências pertencentes a vários âmbitos culturais”.
“Parece-me que o Papa – acrescenta o prof. De Nonno – nesta Mensagem nos convida diversas vezes a procurar elaborar um saber capaze de formar corações e mentes, capaz de criar pontes. Parece-me que ele também quis brincar um pouco com o seu próprio título de Pontífice, recordando a sua etimologia. A missão da cultura e em particular do estudo do mundo representado por meio da língua latina, é precisamente a de criar pontes e o Pontifex na religião dos romanos, para uma cidade como Roma nascida sobre um rio, com a necessidade de colocar em contato duas margens diferentes, era precisamente aquele que tinha a arte de construir fisicamente estas pontes”.
O latim da ciência e da política
“Os premiados oferecem-nos uma visão contemporânea e vigorosa do modo como esta antiga língua ainda pode falar-nos e estimular a nossa reflexão”, escreve o Papa Francisco no texto, confirmando como a pesquisa da obra dos autores latinos do passado ajuda a enfrentar o desafios de hoje.
“Creio que o Santo Padre – comenta De Nonno – expressou aprovação em particular no que diz respeito aos dois temas que escolhemos como tema do prêmio deste ano, resumidos nas expressões dos dois títulos de duas famosas obras de latim literatura: De rerum natura e De re publica, isto é, o latim e a ciência e o latim e a política”. “Trata-se de contextos em que se cria uma convergência de responsabilidades e de compromisso para a qual a experiência de conhecimento dos textos clássicos, a reflexão, também no decorrer da era moderna sobre temáticas da ciência e da política, permite adquirir uma bagagem de experiências históricas que nos tornam mais capazes de enfrentar a realidade contemporânea, com uma profundidade e uma maturidade adequadas”.
Conhecer o latim para viver melhor o presente
“Amar o passado é uma coisa relevante, mas deve ser feito, como diz o Santo Padre, traduzindo na vida quotidiana os aprofundamentos culturais ligados à história que está atrás de nós e encorajando as jovens gerações a empreender caminhos de pesquisa, a interrogar-se e não ter medo de explorar. Assim, esta recordação do Papa é muito pertinente no campo dos estudos latinos. Devemos manter viva a cultura ligada ao latim, pois se trata de uma ferramenta extraordinária para aprofundar a nossa consciência do presente”.