Francisco, Karol e a Divina Misericórdia: para quem sofre “neste momento difícil”

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No final da Audiência Geral, na saudação aos fiéis poloneses, o Papa Francisco lembrou que no próximo domingo, 19 de abril, a Igreja celebra a festa da Divina Misericórdia, instituída 20 anos atrás por São João Paulo II, no dia da canonização da irmã Faustina Kowalska.

Alessandro Di Bussolo/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano

Na saudação aos fiéis poloneses, na audiência geral desta quarta-feira (14/04), o Papa Francisco recordou que no próximo domingo, 19 de abril, será celebrada a “festa da Divina Misericórdia”. Em suas palavras, a memória de São João Paulo II, o Pontífice que veio da Polônia, e a instituiu vinte anos atrás, em 30 de abril de 2000, “em resposta ao pedido de Jesus transmitido a Santa Faustina Kowalska”, a pequena religiosa polonesa, venerada como apóstola da Divina Misericórdia, que entre o Primeira e Segunda Guerra Mundial teve numerosas visões de Jesus ressuscitado.

Visão de irmã Faustina: Jesus ressuscitado e os dois raios de luz

“Desejo que a festa da misericórdia”, disse Jesus à irmã Faustina, que relatou essas palavras em seu Diário, no número 699, “seja um abrigo e refúgio para todas as almas. A humanidade não encontrará paz enquanto não se voltar para a fonte da minha misericórdia”. Do coração transpassado de Cristo, recordava São Wojtyla na homilia de canonização da religiosa, no primeiro domingo depois da Páscoa do ano 2000, em que instituiu a festa da Divina Misericórdia, Santa Kowalska viu “dois raios de luz que iluminam o mundo. ‘Os dois raios, o próprio Jesus a explicou um dia, representam sangue e água’”. Desse coração, comentou o Papa polonês, “jorra a grande onda de misericórdia derramada sobre a humanidade”.

Pedir a Jesus Misericordioso pela Igreja e pela humanidade

Francisco conclui sua saudação aos poloneses, com confiança: “Peçamos a Jesus Misericordioso pela Igreja e por toda a humanidade, especialmente pelos que sofrem neste momento difícil. Cristo ressuscitado anime a esperança e o espírito de fé em nós”.

Dois Papas unidos pela Divina Misericórdia

A Divina Misericórdia é certamente um dos temas mais fortes que unem João Paulo II e Francisco. A encíclica escrita por São João Paulo II nos primeiros anos de seu pontificado, Dives in Misericordia, de 30 de novembro de 1980, é constantemente retomada pelo Papa Francisco nos atos, nas palavras e no anúncio do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016. Ambos os pontífices vêm de situações marcadas por distúrbios sociais e dificuldades históricas. A sensibilidade humana, a concretude histórica e a atenção que ambos prestam à dignidade humana, aos problemas dos mais pobres que os tornam tão próximos em lembrar à Igreja e o mundo da força da Divina Misericórdia.

Estátua de São João Paulo II diante do Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia




Estátua de São João Paulo II diante do Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia

João Paulo II, em 1980, escreveu Dives in Misericordia

A misericórdia não elimina a justiça, mas a supera, esclareceu João Paulo II em sua encíclica dedicada ao “Deus rico em misericórdia”, intitulando um capítulo “Bastará a justiça? À pergunta ele respondeu que a Igreja é chamada a proclamar e anunciar a misericórdia como a mais alta forma de justiça no amor. Porque a misericórdia não é ser tolerante, e a justiça humana sem Deus leva à negação do ser humano, a um sistema de escravidão e à negação da dignidade da pessoa.

30 de abril de 2000, a canonização da irmã Faustina Kowalska

Vinte anos depois de escrever Dives in Misericordia, no coração do Grande Jubileu do Ano 2000, Karol Wojytla canonizou a religiosa Maria Faustina Kowalska, que morreu, em Cracóvia, em 5 de outubro de 1938, com apenas 33 anos e abriu a homilia com as palavras do Salmo 118, cantado na oitava de Páscoa: “Dai graças ao Senhor porque ele é bom, eterna é a sua misericórdia”.

Imagem de Jesus Misericordioso semelhante à da irmã Faustina




Imagem de Jesus Misericordioso semelhante à da irmã Faustina

Do coração transpassado de Jesus uma “grande onda de misericórdia”

São palavras, comentava, quase retiradas “dos lábios de Cristo ressuscitado”, que no Cenáculo “traz o grande anúncio da misericórdia divina e confia o ministério aos apóstolos: ‘A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, eu também vos envio… Recebam o Espírito Santo; a quem perdoarem os pecados, eles serão perdoados e a quem não perdoarem, eles permanecerão”. Antes de dizer essas palavras, João Paulo II lembrou: “Jesus mostra suas mãos e seu lado, ou seja, aponta para as feridas da paixão, sobretudo a ferida do coração”, fonte da “grande onda de misericórdia que derrama sobre a humanidade”.

Divina Misericórdia e Ressurreição de Cristo

Não é possível pensar na Divina Misericórdia sem a Ressurreição do Senhor, explicou o Papa Wojtyla, porque este é o ponto culminante da revelação da Misericórdia de Deus, abertura à vida eterna, o dom supremo que Deus em Cristo oferece ao homem e Jesus veio ao mundo para revelar a face misericordiosa de Deus. “A sua mensagem de misericórdia”, concluiu em sua homilia de canonização, “continua nos alcançando através do gesto de suas mãos estendidas para o homem sofredor. Foi assim que a irmã Faustina o viu e o anunciou aos homens de todos os continentes, que, escondida em seu convento em Lagiewniki, em Cracóvia, fez de sua existência um canto à misericórdia: Misericordias Domini in aeternum cantabo”.

O Papa Francisco abraça uma idosa doente durante a viagem ao Paraguai




O Papa Francisco abraça uma idosa doente durante a viagem ao Paraguai

Francisco: a misericórdia é a mensagem mais forte de Deus

Quase 13 anos depois, em 17 de março de 2013, na pequena igreja de Sant’Anna, sua paróquia no Vaticano, o Papa Francisco, eleito quatro dias antes, celebra sua primeira missa aberta aos fiéis, depois na Capela Sistina para os cardeais. O Evangelho de João apresenta o episódio da mulher adúltera que Jesus salva da condenação à morte. “Para mim, digo humildemente”, afirma o Papa argentino, “é a mensagem mais forte do Senhor: a misericórdia. Ele mesmo disse: “Eu não vim para os justos; os justos se justificam sozinhos. Eu vim para os pecadores”, explicou citando o Evangelho de Marcos. “Não é fácil”, acrescentou, “confiar-se à misericórdia de Deus, porque esse é um abismo incompreensível. Mas temos que fazer isso!”. E concluiu: “O Senhor nunca se cansa de perdoar: nunca! Somos nós que nos cansamos de pedir-lhe perdão”.

O primeiro Angelus: Deus nunca se cansa de nos perdoar

No Angelus, o primeiro de seu pontificado, Francisco enfatizou que “a face de Deus é a de um Pai misericordioso, que sempre tem paciência. Vocês já pensaram na paciência de Deus, a paciência que Ele tem com cada um de nós? Essa é a sua misericórdia. Ele sempre tem paciência, paciência conosco, nos entende, nos espera, não se cansa de nos perdoar se soubermos retornar a Ele com um coração contrito. ‘Grande é a misericórdia do Senhor’, diz o Salmo. E recordou de ter lido um livro do cardeal Kasper sobre a misericórdia. “O cardeal Kasper dizia que, sentir misericórdia, essa palavra muda tudo”, reiterou. “É o melhor que podemos ouvir: muda o mundo. Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo. Precisamos entender bem essa misericórdia de Deus, esse Pai misericordioso que tem muita paciência”.

O Papa Francisco na missa da Divina Misericórdia de 2018




O Papa Francisco na missa da Divina Misericórdia de 2018

Jubileu da Misericórdia: Deus escancara a porta do coração

“Ele”, concluiu o pontífice, “é o Pai amoroso que sempre perdoa, que tem um coração de misericórdia por todos nós. E nós também aprendemos a ser misericordiosos com todos. Peçamos a intercessão de Nossa Senhora, que teve em seus braços a Misericórdia de Deus que se fez carne”. Aqui se encontra todo o magistério do Papa Francisco sobre a misericórdia. Na bula de proclamação do jubileu, Misericordiae vultus, ele convida a deixar-se “surpreender por Deus”, que “nunca se cansa de escancarar a porta do seu coração para repetir que nos ama e quer partilhar sua vida conosco”.

As Sextas-feiras e os missionários da misericórdia

Um Ano Santo instituído “para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus com a qual todos somos chamados a consolar todos os homens e mulheres do nosso tempo”, explicou Francisco no anúncio de 13 de março de 2015, segundo aniversário da eleição, durante uma celebração penitencial. Durante o Jubileu, o Papa não apenas falou, mas também concretizou a misericórdia, prosseguindo com os seus gestos contínuos de proximidade aos últimos, inaugurando as “Sextas-feiras da misericórdia”, visitas particulares às comunidades e estruturas de acolhimento e solidariedade para com aqueles que sofrem e enviando milhares de “missionários da misericórdia” ao mundo, para oferecer a todos o perdão de Deus através do Sacramento da Reconciliação.

O Papa Francisco visita uma comunidade de idosos numa Sexta-feira da misericórdia




O Papa Francisco visita uma comunidade de idosos numa Sexta-feira da misericórdia

Dia Mundial dos Pobres, presente do Jubileu

Na Carta Apostólica Misericordia et misera, divulgada no final do Ano Santo, o Pontífice estabeleceu o Dia Mundial dos Pobres, celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, e concedeu permanentemente a todos os sacerdotes de absolver o pecado do aborto. “Misericordia et misera” são as duas palavras que Santo Agostinho usa para contar o encontro entre Jesus e a adúltera narrado no Evangelho de João. “É uma expressão esplêndida”, explicou o Papa Francisco, do mistério “do amor de Deus quando ele vem ao encontro do pecador: ‘Apenas os dois permaneceram: a adúltera e a misericórdia”.

Somos objeto da misericórdia de Deus

Poucos meses atrás, em 13 de dezembro passado, encontrando os representantes de associações, congregações e movimentos eclesiais franceses dedicados à Divina Misericórdia, o Papa lembrou que podemos ser verdadeiros apóstolos da misericórdia somente com a consciência de que nós mesmos fomos e somos objeto da misericórdia por parte do Senhor. Ele cita uma passagem da Dives in misericórdia de São João Paulo II.

Karol: a verdadeira misericórdia é um ato de reciprocidade

“Também devemos purificar continuamente todas as nossas ações e todas as nossas intenções nas quais a misericórdia é entendida e praticada de maneira unilateral […]. Somente então, de fato, ela é realmente um ato de amor misericordioso: quando, implementando-a, somos profundamente convencidos de que, ao mesmo tempo, a experimentamos por parte daqueles que a aceitam de nós. Se falta essa bilateralidade, essa reciprocidade, as nossas ações ainda não são atos autênticos de misericórdia”.

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