O Papa recebeu os participantes da plenária do Dicastério para a Cultura e a Educação e os exortou a comprometerem-se com modelos educativos que não “sejam meras “fábricas de resultados”, sem um projeto cultural que permita a formação de pessoas capazes de ajudar o mundo a mudar o rumo, erradicando a desigualdade, a pobreza endêmica e a exclusão. As patologias do mundo atual não são uma fatalidade que devemos aceitar passivamente, muito menos comodamente”.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência na Sala Clementina, no Vaticano, nesta quinta-feira (21/11), os participantes da primeira Assembleia Plenária do Dicastério para a Cultura e a Educação.
O Pontífice iniciou o seu discurso, chamando a atenção para o risco de unir o binômio: cultura e educação, e disse que que quando decidiu, com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, unir os dois Organismos da Santa Sé que se ocupavam da educação e da cultura, foi “motivado não tanto pela busca de uma racionalização econômica, mas por uma visão das possibilidades de colóquio, sinergia e inovação que podem tornar essas duas esferas ainda mais fecundas”.
Segundo o Papa, “o mundo não precisa de repetidores sonâmbulos do que já existe; ele precisa de novos coreógrafos, novos intérpretes dos recursos que o ser humano carrega dentro de si, novos poetas sociais”.
De fato, não há necessidade de modelos educacionais que sejam meras “fábricas de resultados”, sem um projeto cultural que permita a formação de pessoas capazes de ajudar o mundo a mudar o rumo, erradicando a desigualdade, a pobreza endêmica e a exclusão. As patologias do mundo atual não são uma fatalidade que devemos aceitar passivamente, muito menos comodamente.
De acordo com Francisco, “as escolas, as universidades, os centros culturais devem nos ensinar a desejar, a ter sede, a sonhar, porque, como nos lembra a II Carta de Pedro, «esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça»”.
Segundo o Papa, “a qualidade das expectativas deve se tornar o critério básico de discernimento e conversão das nossas práticas culturais e educacionais”, sublinhando que “a pergunta-chave para as nossas instituições é a seguinte: “O que realmente esperamos?” Talvez a resposta verdadeira seja decepcionante: sucesso aos olhos do mundo, a honra de estar no “ranking” ou a autopreservação. Claro, se fosse esse o caso, seria muito pouco”!
O Papa convidou os participantes da plenária do Dicastério para a Cultura e a Educação a entenderem sua missão “nos campos educativo e cultural como um chamado a alargar os horizontes, a arriscar”.
De acordo com o Santo Padre, “não temos motivos para deixar o medo nos dominar. Primeiro, porque Cristo é o nosso guia e companheiro de viagem. Segundo, porque somos guardiões de um patrimônio cultural e educativo superior a nós. Somos herdeiros da profundidade de Agostinho. Somos herdeiros da poesia de Efrém, o Sírio. Somos herdeiros das Escolas Catedrais e de quem inventou as Universidades. De Santo Tomás de Aquino e Edith Stein. Somos herdeiros de um povo que encomendou obras a Beato Angelico e Mozart ou, mais recentemente, a Mark Rothko e Olivier Messiaen. Somos herdeiros dos artistas e das artistas que se inspiraram nos mistérios de Cristo. Somos herdeiros de cientistas sábios como Blaise Pascal. Numa palavra, somos herdeiros da paixão, somos herdeiros da paixão educativa e cultural de muitos Santos e Santas”.
“Rodeados por uma multidão de testemunhas”, frisou o Papa, “livremo-nos de todo peso do pessimismo: o pessimismo não é cristão”.
Convirjamos, com todas as nossas forças, para tirar o ser humano da sombra do niilismo, que talvez seja a praga mais perigosa da cultura atual, porque é a que pretende apagar a esperança. Não nos esqueçamos: a esperança não desilude, ela é a força. Aquela imagem da âncora: a esperança não desilude.
O Papa disse ainda que às vezes sente vontade de gritar ao ouvido desta época da história: “Não esqueçam a esperança!”. “Conto com vocês para que o Ano Jubilar, que já se aproxima, possa ampliar este grito. Há tanto para fazer: esta é a hora de arregaçar as mangas”, sublinhou.
A seguir, Francisco disse que “hoje o mundo tem o maior número de estudantes da história. Existem dados encorajadores: cerca de 110 milhões de crianças concluem o ensino fundamental. No entanto, permanecem tristes disparidades. Cerca de 250 milhões de crianças e adolescentes não frequentam a escola”.
É um imperativo ética mudar esta situação. Porque os genocídios culturais não acontecem apenas pela destruição de um patrimônio; irmãos e irmãs, é um genocídio cultural quando roubamos o porvir das crianças, quando não lhes oferecemos condições para se tornarem o que poderiam ser. Quando vemos crianças em muitos lugares indo ao lixo em busca de coisas para vender e assim poder comer, pensamos no porvir da humanidade com essas crianças.
Segundo o Papa, “uma área particularmente relevante que determina a mudança de época é a dos enormes saltos que estão ocorrendo no desenvolvimento científico e nas inovações tecnológicas”.
Hoje, não podemos ignorar o advento da transição digital e da inteligência artificial, com todas as suas consequências. Este fenômeno nos apresenta questões cruciais. Peço aos centros de pesquisa de nossas universidades que se comprometam a estudar a revolução em andamento, esclarecendo as vantagens e os perigos.
Por fim, Francisco concluiu o seu discurso, convidando os participantes da os participantes da plenária do Dicastério para a Cultura e a Educação a “não deixar vencer o sentimento de medo”. Lembrem-se de que as transições culturais complexas muitas vezes revelam-se as mais fecundas e criativas para o desenvolvimento do pensamento humano. Contemplar Cristo vivo permite-nos ter a coragem de nos lançarmos ao porvir, confiando na palavra do Senhor que nos interpela: «Passemos para a outra margem». Por favor, não sejam educadores aposentados: o educador sempre vá em frente, sempre”.