Portugal, jovens: “quero escutá-los, compreendê-los, ler os sinais dos tempos”

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Pedro Carvalho é o novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil em Portugal e vai dedicar-se a tempo inteiro a esta missão.

Rui Saraiva – Portugal

A pastoral juvenil em Portugal tem um novo coordenador nacional. É leigo, natural da diocese de Aveiro, é casado e tem três filhos, o Salvador, o Sebastião e o Salomão. Soma 20 anos de matrimónio com a Catarina Pereira e foi em Roma, no Jubileu do ano 2000, que decidiram casar.

Um novo coordenador para a pastoral juvenil nacional

Chama-se Pedro Carvalho e em 2024 celebra 48 anos. É licenciado em Educação Física com mestrado em Gestão Desportiva. Deixa agora o município de S. João da Madeira, onde é técnico superior há 14 anos, para se dedicar a tempo inteiro à pastoral juvenil nacional.

Ao longo da sua vida envolveu-se na coordenação de projetos paroquiais e diocesanos com destaque para a coordenação do Festival Jota 2009 e a preparação da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa no Comité Organizador Diocesano de Aveiro.

O novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil em Portugal foi o convidado no Domingo de Cristo-Rei, Dia Mundial da Juventude, da entrevista conjunta da Rádio Renascença e da Agência Ecclesia.

O responsável promete “ouvir os jovens”. “Quero escutá-los, compreendê-los, ler os sinais dos tempos”, diz Pedro Carvalho. A entrevista foi conduzida pelos jornalistas Henrique Cunha da Rádio Renascença e Octávio Carmo da Agência Ecclesia.

Por onde vais começar o teu trabalho?

Primeiro, ouvir muito, ouvir os jovens, ouvir as estruturas. Temos que pensar de duas formas: há uma coisa que são os jovens, há outra coisa que são as estruturas. Temos duas vias para trabalhar. A estrutura do departamento pastoral juvenil, com os secretariados, com as congregações e com os movimentos, e, depois, temos mais uma via que são os jovens.

Temos que pensar em canais de comunicação entre todos, pensar como é que podemos ser mais eficazes na transmissão do Evangelho ou na nossa evangelização. Isso é uma parte. A outra parte foi o que me fez estar. Foi pelos jovens e com eles querer embarcar nesta grande aventura e ser mais um a ajudar a construir caminhos a partir do amor e da beleza. Quero escutá-los, compreendê-los, ler os sinais dos tempos com eles e levarmos juntos esta pastoral juvenil.

Sabemos que ir ao encontro dos jovens implica conhecer as suas prioridades, os seus problemas. Há uma intenção da parte dos bispos de criar um novo quadro para a pastoral juvenil, como foi dito no comunicado final da última Assembleia Plenária da CEP, e esse quadro vai implicar um período de escuta. Vai ser preciso ter esta escuta prévia antes de se avançar propriamente com propostas concretas?

Sim. Há um mar imenso de desafios na pastoral juvenil, um mar imenso. E das muitas mensagens que o Papa Francisco nos deixou há uma interessantíssima, deixado no Mosteiro dos Jerónimos, que é falar para nós, para a estrutura. Vale a pena a todos nós, que estamos na estrutura eclesial, todos os departamentos, todos os secretariados, ler aquele discurso do Papa Francisco. Ele aí deixou-nos uma missão irrecusável: pediu-nos para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão. Indicou-nos os caminhos: fazermo-nos ao largo, levarmos juntos por diante a pastoral e não termos medo de nos tornarmos, efetivamente, pescadores de homens.

Portanto, o desafio da Conferência Episcopal é isto que já estamos a fazer: há um novo quadro, pode haver um novo quadro de referência, há uma base de trabalho, e essa base de trabalho vai ser de escuta com as estruturas e também com os jovens. Para quê? Para conseguirmos comunicar, comunicar com a mesma linguagem. Se conseguirmos perceber que são estas as “guidelines” que temos, mais fácil será comunicar.

Depois da Jornada Mundial da Juventude, ficou a sensação de que voltámos a uma certa letargia, a sensação de que aquela a lufada de ar que a Jornada foi capaz de insuflar, se foi perdendo na espuma dos dias. Acreditas que ainda estamos a tempo de arrepiar caminho?

Eu acredito e tenho visto muitos projetos fantásticos a acontecer no território e em todas as dioceses. Acredito e acredito que há sempre um laboratório de experimentação, de evangelização em cada paróquia, em cada diocese. Tenho visto muitos projetos muito bons, mas o maior desafio é ousar sonhar coisas grandes com os jovens, isto é, nós temos que trabalhar com os jovens, não é só para eles e por eles, mas trabalhar com eles. Que que sejam eles os nossos grandes inspiradores e percebamos quais são os anseios deles.

A Pastoral Juvenil, tradicionalmente, é pensada como algo que se passa aos jovens. Há iniciativas para os jovens, eles são destinatários… Há mensagens que se têm de passar aos jovens. A experiência da JMJ em concreto mostrou que estamos prontos para que eles sejam protagonistas?

Claro. Eles têm de ser os protagonistas. Devem ter o palco para eles, serem ousados, serem poéticos e serem criativos. E isto tem que nos fazer sair, pois temos esta Igreja de saída. Mas permitam-me dizer uma coisa: estes jovens de agora são os jovens que passaram muito tempo em solidão, na solidão da pandemia. Reparem: um jovem que tem agora 19 anos passou a sua adolescência na pandemia. Portanto, temos que compreendê-los. Compreender todas as suas inquietudes, as suas fragilidades, questionar, falar com eles, refletir em todas as dimensões, desde a ecologia ao desenvolvimento sustentado, educação e trabalho, a saúde, a saúde mental, as dependências, a solidão, a sociedade, o aumento do custo de vida. Temos que ter uma linguagem fácil e compreensiva. Eu acho que o maior desafio é conseguirmos que os jovens de hoje sejam cristãos no dia-a-dia e que ocupem o espaço público. Isto é difícil, mas cabe-nos a nós, animadores, acompanhadores dos jovens, dar-lhes ferramentas para que eles consigam perceber como é que eu posso, no espaço público, na sociedade, ser cristão e ter uma voz neste espaço, no meu território.

A importância de se reverem na igreja?

Sim, sim. Acho que é fácil rever-se na igreja. Às vezes, o que é necessário é mudarmos um bocadinho o “chip”, não é? Ou melhor, vamos lá ver: como é que os jovens podem rever-se na Igreja? Temos que perceber qual é o algoritmo deles, qual é o algoritmo que eles querem, não é?

“Isto é fixe, isto é uau!!!” Nós queremos criar espanto nos jovens, temos que ter essa capacidade para que eles possa dizer “uau, a Igreja está comigo, acompanha-me.” Muitas vezes, é difícil para nós, metermos a igreja no algoritmo deles, seja nas redes sociais, seja na vida. Mas, mais do que redes virtuais, temos que conseguir que eles tenham redes de jovens que consigamos unir. É isso um dos meus propósitos na minha missão: conseguir perceber os jovens portugueses, conseguirmos unir as suas inquietudes. Porque há uns que têm uma e vamos falar com estes, há outros que têm outra com o ambiente, vamos falar com esses jovens. Não podemos é ter todos os jovens a falar sempre para os mesmos, porque eles têm inquietudes diferentes.

Desse ponto de vista é também um sinal relevante confiar num leigo para dinamizar um setor tão relevante como o da relação da Igreja com os jovens?

Sim, é um sinal. Obviamente, é um sinal. A Conferência Episcopal foi ousada nesta visão para a Pastoral Juvenil. Eu tenho essa responsabilidade, sou o primeiro que me vou dedicar em pleno à Pastoral Juvenil. Isto permite que eu consiga cooperar, sonhar, arriscar, criar e partir rumo ao outro, terra a terra, diocese a diocese. Este tempo dá-me tempo para eu estar com eles e dá-me tempo para eu alegrar-me com a felicidade deles, dá-me tempo para pensar nas suas inquietudes e, depois, pensarmos juntos, enquanto estrutura eclesial e estrutura da Igreja, em busca das melhores propostas. Eu acredito nas redes da Igreja, acredito também que temos que aprofundá-las, aprofundar esta ligação bispos-párocos-leigos-congregações-movimentos… Os próprios departamentos da CEP. Temos que estar todos ligados, em sintonia, sintonizados.

Acabámos de falar em estar juntos, em redes, o que remete para o processo sinodal que o Papa Francisco lançou. Esta experiência dos últimos anos, em particular dos últimos três, pode inspirar novas experiências de encontro nas paróquias, nas universidades, nos locais onde os jovens estão?

Eu encontrei, e foi muito bom achar, companheiros do entusiasmo da juventude. Encontrei-os e eles estão aqui, eles estão por aí, eu vou tocar-lhes à porta. Mais uma vez, é preciso sermos Igreja em saída. Os dias nas dioceses são um bom exemplo de Igreja em saída. Se há bom exemplo de igreja sinodal, foi aquele que foi vivido na construção da Jornada Mundial da Juventude. Quem passou, como eu passei, por todas as dioceses e viu o empenho de todas as comunidades, dos 8 aos 80 anos ou aos 90 anos, percebe o que estou a dizer. E a forma como vimos a distribuição de tarefas… A pessoa que tinha jeito para as finanças estava nas finanças, a pessoa que tinha jeito para a comunicação estava na comunicação.

Criámos tantas comunidades, tantas, tantas… Eu sou testemunha do entusiasmo das paróquias de Aveiro e de todo o país, porque consegui percorrer o país. Foi um grande laboratório de sinodalidade, um grande exemplo. Se quisermos, temos grandes exemplos para mostrar e dizer “aqui foi possível”. Já vivemos essa sinodalidade e temos de continuar.

Por uma pastoral juvenil sinodal e missionária

A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa em comunicado declara sobre a nova nomeação para a coordenação da pastoral juvenil: “Reconhecendo a necessidade de constituir uma equipa nacional que tenha total disponibilidade para um trabalho de contacto e proximidade com as realidades locais, procurando promover uma pastoral juvenil sinodal missionária, a Assembleia nomeou o Dr. Pedro Carvalho, leigo da Diocese de Aveiro, como novo coordenador, a tempo inteiro, do Departamento Nacional de Pastoral Juvenil”.

Laudetur Iesus Christus

Fonte

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