Jorge Carlos Fonseca – Democracia e literatura

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Jorge Carlos Fonseca é, como o define Filinto Elísio, na sua crónica, um dos rostos da democracia e um dos proeminentes escritores de Cabo Verde. Ele deu a 7/5/25, na Universidade de Pádua, uma conferência intitulada “Línguas, Literatura e Política em Cabo Verde. O mel, o sal e o sol, os búzios , depois a maresia do Universo pelas ilhas”. Nesta senda, para o programa da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos”, ilustrou o conteúdo e teceu considerações sobre o encontro.

Dulce Araújo – Vatican News

A Universidade de Pádua e os seus Departamentos de Ciências Biomédicas e de Estudos Linguísticos e Literários desenvolvem ao longo do mês de maio o Festival “Aproximações: Dizer e Desdizer o Mal”, com um programa recheado de atividades literárias, cinematográficas, teatrais e mostras. Tudo numa perspetiva de partilha não só entre académicos e estudantes, mas também com a população da cidade. 

Na base da iniciativa está a ideia de unir contributos de ciências diferentes para, numa ótica multidisciplinar, combater um mal tão complexo como o cancro, em que contam não apenas cuidados biomédicos como também a abordagem humana em todas as suas vertentes e linguagens.   

As datas de 6 e 7 foram dedicadas, de modo particular, ao Dia Mundial da Língua Portuguesa e aos 50 anos de Independência (1975) de quatro antigas colónias africanas de Portugal: Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe. 

Foi, portanto, neste contexto, que interveio, o escritor e antigo Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, com uma conferência sobre “Línguas, Literatura e Política em Cabo Verde. O mel, o sal e o sol, os búzios, depois a maresia do Universo pelas ilhas”. 

Jorge Carlos Fonseca com docentes e estudantes participantes do evento

Jorge Carlos Fonseca com docentes e estudantes participantes do evento

Jorge Carlos Fonseca, Clara Silva (esquerda) e Graça de Pina

Jorge Carlos Fonseca, Clara Silva (esquerda) e Graça de Pina

Entrevistado pela emissão semanal “África em Clave Cultural: personagens e eventos”, Jorge Carlos Fonseca ilustrou o teor da sua comunicação e teceu comentários em volta da originalidade do projeto que dá título ao Festival e acerca do amplo volume “História Global da Literatura Portuguesa” que foi apresentado durante o encontro. 

O volume de cerca de 700 páginas, apresentado na Universidade de Pádua

O volume de cerca de 700 páginas, apresentado na Universidade de Pádua

Siga aqui a emissão (com músicas de Vasco Martins e de Mariza ) e, em baixo, a crónica de Filinto Elísio sobre a figura poliédrica de Jorge Carlos Almeida Fonseca. 

A Professora, Graça de Pina, uma das artífices e intervenientes no encontro

A Professora, Graça de Pina, uma das artífices e intervenientes no encontro

(Fotos: cortesia de Jorge Carlos Fonseca) 

Crónica 

Jorge Carlos Fonseca – Um dos rostos da democracia e um dos proeminentes escritores de Cabo Verde

Jorge Carlos Fonseca é um proeminente político, jurisconsulto, académico e escritor cabo-verdiano, tendo sido Presidente da República de Cabo Verde, em dois mandatos, entre 2011 e 2021.

Nasceu na cidade do Mindelo, a 20 de outubro de 1950, filho de Mário Ivo de Almeida Fonseca e de Albertina Maria Neves. Estudou na cidade da Praia, onde fez o curso secundário no Liceu Domingos Ramos, antes nominado Liceu Adriano Moreira. É casado com a advogada Lígia Lubrino Dias Fonseca. É pai de três filhas.

Jorge Carlos Fonseca fez licenciatura em Direito e mestrado em Ciências Jurídicas, pela Faculdade de Direito de Lisboa, onde mais tarde torna-se Assistente Graduado, em disciplinas como o Processo Civil, Direito Penal e Direito Processual Penal. Foi investigador na área do Direito Penal no Instituto Max-Planck, na Alemanha, Professor de Direito e Processo Penal no Instituto de Medicina Legal de Lisboa e Diretor Residente e Professor Associado Convidado na Universidade de Macau.

Tem publicado vasta obra científica nas áreas do Direito Penal, Processual Penal e Constitucional – quase uma trintena de livros, dezenas de trabalhos doutrinários e escritos sobre política, cultura, democracia, direitos humanos e cidadania, em revistas da especialidade cabo-verdianas e estrangeiras.

Foi ainda presidente e professor do Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais de Cabo Verde e presidente da Fundação «Direito e Justiça», sendo, também, um de seus principais fundadores. Participou na elaboração da Constituição de Cabo Verde (em 1992) e, como perito contratado pelas Nações Unidas, nos trabalhos de elaboração da Constituição de Timor-Leste (em 2001). E é fundador da revista “Direito e Cidadania” que se edita, em Cabo Verde, desde 1997.

A sua vida política começou cedo e, na clandestinidade, militou pela independência de Cabo Verde, nas estruturas do PAIGC, ainda antes da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, que restaura as liberdades políticas e civis por todo o então Império Português e o processo de descolonização nos antigos territórios africanos ocupados por Portugal e, o consequente, caminho para as independências nacionais, inclusive de Cabo Verde, a 5 de Julho de 1975.

Faz parte dos jovens quadros que regressam a Cabo Verde para dar contributo nos esforços da Reconstrução Nacional, onde é nomeado diretor-geral da Emigração e Serviços Consulares do Ministério dos Negócios Estrangeiros e o primeiro secretário-geral desse Ministério. Em 1979, por questionar o regime do partido único, é parte dos considerados “trotskistas” que rompem com o PAIGC e regressa a Portugal, onde funda, em 1980, os Círculos Cabo-verdianos para a Democracia e, em 1982, a Liga Cabo-verdiana dos Direitos Humanos.

Com a abertura democrática e a instauração da II República, nos princípios dos anos Noventa, Jorge Carlos Fonseca torna-se ministro dos Negócios Estrangeiros e, mais tarde, vence as eleições presidenciais, em 2011 e em 2016, como Presidente da República de Cabo Verde.

A esta extraordinária biografia, Jorge Carlos Fonseca – deve-se acrescentar – é um poeta e escritor com lugar marcado na História da Literatura Cabo-verdiana.

Um mergulho na sua obra literária identifica serem os Jogos Florais (12 de setembro de 1976), o momento de sua estreia pública, através de um texto poético, intitulado “Poesiaaa, ombrooo, armaaas” e outros poemas premiado ex-aequo nesse certame.

É autor de vários livros de romance e poesia. por exemplo: “Porcos em Delírio”, “O albergue espanhol”, “A Sedutora Tinta de Minhas Noutes”, “A Grua e Musa de Mãos Dadas” e “Escritos Ucranianos” são algumas das suas obras de escrita criativa. Estruturalmente poeta, Jorge Carlos Fonseca tem forte extrato surrealista, como revelam a sua intertextualidade e colóquio poético com André Breton, Renè Charr, Mário Cesariny, Alexandre O’Neill, Mário Fonseca e Arménio Vieira, entre outros de diversas gerações políticas.

É ainda membro-fundador da Academia Cabo-verdiana de Letras, Cidadão Honorário da Cidade Velha (Património Mundial) e Sócio Emérito do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Tem Doutoramento Honoris Causa pelas universidades do Brasil, Portugal e República Checa. É Comendador da Ordem Amílcar Cabral, Grande Oficial da Ordem do Rio Branco, Ordem Infante D. Henrique, nomeadamente na Guiné-Bissau, Cabo Verde, Brasil e Portugal.

Define-o bem o livro, coordenado por Lígia Lubrino Dias Fonseca e Sofia Dupret Fonseca, “Homenagem a Jorge Carlos de Almeida Fonseca por ocasião dos seus 70 anos – Liberdade, Sempre!”

Filinto Elísio

Filinto Elísio

 

Fonte

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