“Desarmamento não é fraqueza”. Foi o que o Observador Permanente da Santa Sé na ONU, destacou em sua intervenção em uma sessão de trabalho na ONU em Genebra, ao desejar a ampliação do número de Estados no Tratado de Ottawa. “A Santa Sé — declarou — está profundamente preocupada com a intenção de alguns Estados-parte de se retirarem da Convenção”
Valerio Palombaro – Vatican News
Cada novo Estado que ratifica a Convenção contra as minas antipessoais renova o compromisso da comunidade internacional em alcançar a universalização deste instrumento, que visa fornecer assistência às vítimas e prevenir danos futuros. São palavras do Observador Permanente da Santa Sé junto à ONU e outras Organizações Internacionais sediadas em Genebra, Arcebispo Ettore Balestrero, ao saudar a ratificação por parte das Ilhas Marshall da Convenção Internacional sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Antipessoais e sobre a Sua Destruição (conhecida como Tratado de Ottawa). “Por esses motivos, a Santa Sé está profundamente preocupada com a intenção de alguns Estados-parte de se retirarem da Convenção”, declarou Balestrero durante seu discurso em uma sessão de trabalhos sobre o tema na sexta-feira (20), em Genebra.
Desarmamento não é fraqueza
“Colocando a pessoa humana no centro, a Convenção estabelece uma clara ligação entre desarmamento e desenvolvimento”, observou o prelado. Ele expressou então “profunda preocupação” pelo fato de que, a cada ano, as minas antipessoais e os resíduos explosivos de guerra “continuam a fazer vítimas inocentes”. Muitas vezes, são crianças que sofrem “ferimentos e traumas que mudam a vida”. O Observador Permanente da Santa Sé sublinhou, em seguida, que os Tratados existentes representam “não apenas obrigações jurídicas, mas também compromissos morais para com as gerações presentes e futuras”. “A adesão e o respeito aos acordos internacionais sobre desarmamento e ao direito internacional, incluindo o direito internacional humanitário, não são uma forma de fraqueza. Ao contrário, são uma fonte duradoura de força e responsabilidade para com toda a humanidade”, acrescentou Balestrero, referindo-se às palavras proferidas pelo Papa Francisco na mensagem de 2022 aos representantes dos Estados-parte do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares.
O “escândalo” dos gastos militares recordes
Por fim, o arcebispo abordou a necessidade de uma recolocação dos recursos econômicos destinados aos gastos militares. Os 2.700 bilhões de dólares gastos em armamentos a nível global — denunciou — são “uma questão de grave desequilíbrio e até de escândalo”. Em particular, se comparados “aos limitados recursos dedicados à assistência daqueles que estão em estado de necessidade, a nutrir os famintos e a promover o desenvolvimento humano integral”. Por isso — indicou o prelado, citando novamente o Papa Francisco — “nenhuma paz é possível sem um verdadeiro desarmamento”, e a Santa Sé partilha o apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, segundo o qual “a proteção das vidas inocentes depende da nossa ação e do nosso compromisso coletivo”. No atual contexto global, marcado pela intensificação das tensões, segundo Balestrero, “é imperativo retornar à razão e ao colóquio, utilizando ao mesmo tempo todos os meios diplomáticos para prevenir qualquer escalada e desestabilização”. “Não devemos nunca nos acostumar com a guerra”, concluiu o prelado, citando o Papa Leão XIV para relançar um apelo a “promover uma cultura da paz e da vida”.