Após uma visita ao Burkina-Faso, a Diretora Executiva do UNICEF, Catherine Russell, apelou a medidas urgentes para proteger as crianças no Sahel, cujas vidas estão a ser afetadas pela insegurança, pelo deslocamento e pelas alterações climáticas.
Dulce Araújo – Vatican News
Russell viajou para Burkina-Faso para analisar os esforços do Governo, parceiros e jovens no sentido de enfrentar os principais desafios nas áreas da saúde, educação e proteção infantil, e para apelar à comunidade internacional para que apoie intervenções concretas e eficazes que comprovadamente salvam e melhoram a vida de crianças.
“O Sahel é um dos lugares mais difíceis para as crianças hoje-em- dia, mas recebe pouca atenção do mundo” – disse Catherine Russell após uma visita de três àquele país da África Ocidental.
A insegurança no Sahel Central – Burkina Faso, Mali e Níger – já provocou a deslocação de cerca de três milões de pessoas, quase metade das quais crianças. Comunidades, escolas, centros de saúde e pontos de fornecimento de água foram atacados, pondo as crianças em risco de desnutrição, doenças, casamento precoce ou recrutamento para grupos armados. Ciclos de seca e inundações relacionados com o clima contribuem para a insegurança alimentar e outras dificuldades.
Em todo o Sahel Central, o número de crianças menores de cinco anos que sofrem de desnutrição aguda aumentou em mais do que o dobro, passando de 2,2 milhões em 2015 para 6 milhões em 2023. Hoje, mais de 2,5 milhões de crianças correm o risco de desnutrição.
Milhões de crianças não podem frequentar as aulas, ficando, portanto, à margem da instrução. Mais de 8.000 escolas foram fechadas devido a ataques ou à insegurança de forma geral.
“O Sahel é o retrato perfeito duma tempestade: conflitos, catástrofes climáticas e subfinanciamento crónico se alimentam mutuamente”, disse Russell. “Isso deve servir de alerta para todos: quando as crises não são combatidas, elas se agravam. Como sempre, as crianças são as que mais têm a perder.”
Apesar dos grandes desafios, houve algum progresso. A maioria das crianças está vacinada e os agentes comunitários de saúde continuam a alcançar as crianças, mesmo nas áreas mais remotas.
O UNICEF e seus parceiros estão a trabalhar com comunidades e apoiar governos no Sahel Central para abrir escolas e fornecer serviços essenciais para milhões de crianças, incluindo vacinação, nutrição, água potável e proteção social.
No Burkina Faso, Russell se encontrou com o Primeiro-Ministro e os Ministros das Relações Exteriores, Saúde e Educação, agradecendo-lhes por terem aumento o investimento governamental nas áreas da saúde, educação e proteção da criança. Russell visitou um programa apoiado pelo UNICEF na zona rural de Kokologho, onde uma positiva combinação de iniciativas de nutrição e água, saneamento e higiene está a fortalecer a resiliência da comunidade e a salvar vidas infantis. Ela também visitou a cidade de Fada, no leste do país, onde o UNICEF apoia milhares de famílias deslocadas que fugiram da violência.
Uma mulher, Mariam, disse que pegou nos seus sete filhos e fugiu depois que homens armados chegaram à sua aldeia e mataram o seu marido em frente da família. “Apesar do sofrimento e dos desafios que crianças e famílias como a de Mariam enfrentam, tenho sido grata por ver como as pessoas estão a fazer o melhor que podem com o pouco que têm para ajudar umas às outras. Mas elas não conseguem fazer isso sozinhas, e as necessidades estão a ultrapassar rapidamente os fundos disponíveis” – disse Russell.
Prevê-se que o financiamento do UNICEF na África Ocidental e Central venha a diminuir de 35% devido a cortes repentinos e drásticos no financiamento global.
O apelo humanitário do UNICEF para crianças no Sahel Central este ano é de 489,7 milhões de dólares americanos para poder alcançar as crianças mais vulneráveis. Em junho de 2025, o financiamento foi inferior a 7%.