Presidência dos bispos da Europa com Leão XIV: o rearmamento não é a solução

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Uma entrevista com o vice-presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), cardeal Ladislav Nemet, que junto com a presidência encontrou o Papa no sábado (28/06) para confirmar as linhas de ação do organismo. O conforto dos jovens, que mostram um despertar na fé, cruza-se com as preocupações pelos conflitos. “A Europa está dividida, a sua fraqueza é falta de uma verdadeira colaboração. Se continuarmos sendo uma Europa econômica, veremos que chegará ao fim”.

Antonella Palermo – Vatican News

Evangelização, ecumenismo, paz: esses foram os temas principais do encontro no Vaticano na manhã do último sábado, 28 de junho, entre Leão XIV e uma delegação do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE). Um encontro de tom familiar, no qual o Papa encorajou a continuar no caminho do colóquio e da proximidade com as pessoas, em um mundo “tão inseguro”, relatou à mídia vaticana o cardeal Ladislav Nemet, vice-presidente do CCEE, arcebispo de Belgrado.

Dom Gintaras Grušas, presidente do CCEE, ao encontrar o Papa Leão XIV

Dom Gintaras Grušas, presidente do CCEE, ao achar o Papa Leão XIV   (@VATICAN MEDIA)

Na Europa, a fé está despertando

“Foi uma conversa muito útil, o Papa foi muito concreto”, conta o cardeal, que, em nome do organismo eclesial europeu, acolhe o convite a “fazer tudo para que a convivência se torne cada vez mais amigável e humana na Europa, onde está em curso uma guerra que destrói tantas vidas”. A matéria pode sempre ser renovada, observa Nemet, fazendo suas as palavras do Pontífice, mas a vida humana, uma vez perdida, nunca será recuperada. O compromisso com o ecumenismo, levando em conta a especificidade de uma convivência consistente, no Velho Continente, das três grandes famílias cristãs (católicos, protestantes e ortodoxos) é um desafio relevante. Nesse sentido, o cardeal sérvio destacou diante do Sucessor de Pedro a constatação de um despertar da religiosidade, especialmente entre os jovens, após a pandemia.

Uma consciência que surge das numerosas viagens que o missionário verbita teve a oportunidade de realizar e que continua a sustentar, ocasiões em que emerge aos seus olhos um fenômeno contrário ao da secularização, especialmente na parte ocidental da Europa e nos países ortodoxos. “No meu país, por exemplo, 85% da população é ortodoxa e, na verdade, a vida religiosa está florescendo, a liturgia é muito bem frequentada, a presença das pessoas nas ações da Igreja, o número de vocações… tudo isso é muito relevante. E é reconfortante também para nós, católicos. Isso também acontece na Romênia, na Bulgária”.

O cristianismo não é fanatismo

Revitalizar as raízes cristãs da Europa, evitando muros e derivações nacionalistas, é outro desafio para o qual “precisamos de novos métodos”, afirma o cardeal Nemet. “Hoje temos que fazer muito mais na Europa para nos abrirmos ao mundo digital, preparar nossos influenciadores e dar a conhecer nossas Igrejas para evitar o crescimento de um fundamentalismo cristão. Essa onda vem dos Estados Unidos – enfatiza – e, na minha opinião, não reflete a verdadeira imagem do cristianismo. O cristianismo não cresceu através do fanatismo”.

O rearmamento não é uma solução

O vice-presidente do CCEE também comenta as recentes recomendações do Papa Leão XIV quando, em seu discurso à ROACO, alertou contra a falsa propaganda do rearmamento. “São palavras lindas, das quais concordo plenamente. Espalhou-se uma falsa opinião de que não podemos viver sem armamentos, que o rearmamento é a única solução para a paz. Isso não é verdade. Vemos isso nas guerras dos últimos anos, mas também naquelas das quais não se fala. E quando leio os valores previstos para o rearmamento, me doi pensar que tantas pessoas morrem por falta de medicamentos, escolas, água e outras coisas necessárias”. E ele menciona os danos já dramaticamente visíveis decorrentes da suspensão da ajuda da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), fundamental para os países do sul do mundo: “vemos quais são as consequências, jovens e crianças que morrem. Muitas escolas permanecerão fechadas porque não há financiamento”.

Mais colaboração entre os políticos na Europa

A escalada dos conflitos é uma preocupação prioritária para a CCEE e destinar 5% do PIB para a defesa “é uma quantia imenso”, continua Nemet, que se detém em uma avaliação geral da liderança atual. “Faltam grandes políticos, depois da Segunda Guerra Mundial. Não se pode dizer que vamos fazer a paz com a força, não se pode trabalhar assim”. E sobre a suposta fraqueza da Europa, incapaz, segundo alguns observadores, de gerir adequadamente as crises internacionais, o cardeal afirma: “a Europa está dividida, a sua fraqueza é a falta de verdadeira colaboração, de verdadeiras ideias comuns. Se continuarmos a ser uma Europa econômica, veremos que isso acabará. Faltam os valores constitutivos que deveriam unir e uma visão comum para todos os europeus. Se a Europa estiver bem, todo o mundo viverá melhor, porque a Europa ainda hoje é uma bela parte do mundo. Na minha opinião, seria necessária muito mais colaboração entre os políticos, mas que fossem verdadeiramente honestos no sentido do colóquio e que não procurassem apenas as fraquezas dos outros”.

O pensamento vai para o sangrento Oriente Médio: “é uma ferida incrível para todo o mundo. Apoio a solução da Santa Sé: sem os dois países não será possível seguir em frente. Assim como em 1948 foi criado o Estado de Israel, é necessário um território onde os palestinos possam se sentir em lar. Isso está faltando”.

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