Palestina, não é só com bombas que se mata um povo

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O empobrecimento da população atingiu níveis recordes. Tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia, toda a atividade econômica desapareceu e a luta é por uma “pedaço de pão”

Roberto Cetera – Vatican News

Há uma guerra além daquela de foguetes, drones e bombas que é travada diariamente na Palestina, e é aquela baseada no empobrecimento progressivo da população palestina. Se Gaza praticamente não existe mais e 90% de sua população foi forçada à migração interna, em toda a Faixa toda atividade econômica praticamente desapareceu. A luta diária hoje na Faixa de Gaza é por um pedaço de pão. A situação na Cisjordânia é igualmente dramática devido à falta generalizada de dinheiro para comprar alimentos e necessidades básicas. A Organização Internacional do Trabalho (a agência especializada das Nações Unidas em questões trabalhistas e de política social) divulgou recentemente um relatório que, na objetividade dos dados relatados, mostra todo o drama da situação atual. Após 7 de outubro de 2023, todas as autorizações de trabalho para entrada em Israel, com exceção de profissionais de saúde e professores, foram canceladas, e a taxa de desemprego somente na Cisjordânia subiu para 35% da população ativa. Durante anos, Israel seguiu uma política de substituição da mão de obra palestina por imigrantes, principalmente do sudeste asiático. Agora, com as restrições impostas após 7 de outubro, tornou-se praticamente impossível cruzar o muro de separação para trabalhar em Israel. Construção e agricultura são os setores onde a mão de obra palestina transfronteiriça foi particularmente disseminada. Os próprios empresários israelenses reclamaram das consequências que a proibição do trânsito de trabalhadores palestinos causou às suas empresas: bloqueio de canteiros de obras por meses e dificuldade para completar as colheitas sazonais de produtos agrícolas. Dos 155.000 empregos perdidos na Palestina desde 7 de outubro de 2023, aproximadamente 140.000 são empregos transfronteiriços em Israel. O total de salários perdidos chega a cerca de 3 bilhões de dólares. consideração-se que o Produto Interno Bruto (PIB) nos territórios ocupados tenha caído 27% no último ano, atingindo os níveis de dezesseis anos atrás. Na Palestina, onde a moeda israelense, o shekel, está em circulação, a espiral inflacionária resultante da guerra contribuiu para o empobrecimento generalizado. As previsões para o ano atual são, na melhor das hipóteses, de estagnação, mas se a guerra em Gaza continuar, é concebível uma nova contração do PIB de 5%.

Gastos públicos

O melancólico balanço de 2024 foi de 503 palestinos mortos e 3.147 feridos na Cisjordânia. Números que, diante da carnificina em Gaza, foram relegados a segundo plano. Os gastos públicos administrados pela Autoridade Palestina (ANP) em Ramallah certamente não podem impulsionar investimentos produtivos que criem novos empregos, pois suas receitas tributárias foram bastante reduzidas, tanto porque a queda drástica do PIB levou a uma redução nas receitas tributárias, quanto porque Israel reduziu unilateralmente e significativamente o reembolso da receita tributária à Autoridade Nacional Palestina. Israel justificou os cortes com a intenção de não querer mais pagar os salários dos funcionários públicos em Gaza, muito menos as indenizações devidas às famílias dos “mártires” mortos na guerra. O resultado é que hoje a ANP recebe um retorno de 4,4 bilhões de shekels do fisco israelense, insuficiente para pagar todos os salários públicos, que somam 6,1 bilhões. Na época dos Acordos de Oslo, Gaza representava 36% do Produto Interno Bruto da Palestina, valor que já havia caído para 13% antes de 7 de outubro e agora está praticamente próximo de 0. O PIB per capita na Palestina é hoje de US$ 2.087. Em Gaza, o acidente não é apenas econômico, mas também financeiro: há falta de dinheiro em espécie. Para comprar o pouco disponível ou para escapar, as pessoas se endividam, dando os escombros de suas casas como garantia. As taxas de juro podem chegar a 30%.

As restrições impostas por Israel ao mercado de trabalho nos territórios ocupados da Cisjordânia variam muito dependendo da área considerada: mais brandas nas zonas A e B, muito mais severas na zona C, que também é a mais ameaçada pelos colonos. Um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento afirma que, se essas restrições fossem removidas, os bolsos das famílias palestinas poderiam ser enriquecidos em até US$ 4,4 bilhões por ano.

A situação em Jerusalém Oriental

A situação dos palestinos em Jerusalém Oriental não é menos grave. As duas principais atividades da cidade (especialmente a Cidade Velha), comércio e turismo, estão em queda livre. No ano passado, a ocupação hoteleira não passou de 9% da temporada anterior ao início da guerra. Obviamente, os abrigos para peregrinos cristãos estão em primeiro plano. A famosa lar Nova dos Franciscanos está fechada (exceto por algumas semanas na Páscoa) há 21 meses. consideração-se que cerca de 80% das empresas comerciais da Cidade Velha tenham falido desde outubro de 2023. Todos os dados divulgados – alerta a Organização Internacional do Trabalho – não levam em conta o fenômeno generalizado, especialmente na agricultura e na construção civil, de trabalho “ilegal” realizado por palestinos que não têm permissão para ingressar em Israel. O conhecido mediador e pacifista israelense Gershon Baskin escreve: “Quer sejam dois Estados ou ocorra uma anexação, os palestinos sempre serão vizinhos de Israel. E Israel não tem interesse em manter seu vizinho palestino em estado de pobreza. Com os controles de segurança necessários, é claro, mas é necessário permitir que os trabalhadores palestinos retornem ao trabalho em Israel. Na realidade, manter os palestinos afastados do trabalho e desempregados constitui um perigo muito mais sério para a segurança de Israel do que permitir que eles voltem a trabalhar”. Palavras de bom senso sobre as quais as tendências discriminatórias prevalecem hoje. Não apenas com bombas, mas também dessa forma se mata um povo.

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