Uganda, a Fundação Ambrosoli apoia os vulneráveis

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A Fundação Ambrosoli está comprometida em erradicar o estigma da deficiência e promover uma vida digna onde ninguém se sinta abandonado. A presidente Giovanna Ambrosoli, sobrinha do beato comboniano Giuseppe Ambrosoli, falou à imprensa vaticana sobre o trabalho da fundação.

Por Enrico Casale

A placa pesada se move lentamente. Abaixo, um espaço vazio. Depois, o caixão. Mas, uma surpresa: logo acima, um favo transbordando de mel. Os agrônomos não conseguem explicar sua presença. Alguns fiéis falam de um sinal divino. A descoberta é surpreendente, pois naquele túmulo está sepultado Giuseppe Ambrosoli, um médico e missionário comboniano muito querido em Uganda, beatificado em 2022, membro da família produtora de mel mais famosa da Itália: os Ambrosoli.

Uma obra inspirada no beato Ambrosoli

“É difícil, em situações como essa”, diz Giovanna Ambrosoli, sobrinha do missionário e presidente da Fundação Ambrosoli, “definir os limites com a ciência. Vejo essa descoberta mais uma vez como um sinal tangível da diligência infinita e amorosa que o padre Giuseppe nos deixou, e que nos lembra de olhar para o próximo, de permanecer perto dos mais necessitados e de construir um porvir melhor para as novas gerações”. É precisamente a Fundação Ambrosoli que continua, no rastro traçado pelo comboniano, a trabalhar ao lado dos mais necessitados em Kalongo, uma cidade no norte de Uganda, onde o padre Giuseppe dirigiu o hospital de 1959 até sua morte em 1987. “Ele era um homem simples”, lembra Giovanna, “mas cheio de coragem e fé. Ele não falava muito, mas fazia muito”. Um raro exemplo de coerência: um médico que escolheu viver e morrer ao lado dos pobres e que hoje continua salvando vidas por meio de seu trabalho construído com amor e dedicação.



Beato Giuseppe Ambrosoli, médico em Uganda

Ninguém é deixado sozinho

Todos os anos, o hospital atende mais de 50 mil pacientes, muitos deles mulheres e crianças. A escola de obstetrícia, que agora leva seu nome, forma jovens profissionais que permanecem trabalhando no território, ajudando a reduzir a mortalidade materna e infantil. Há três anos, a instituição também atende pessoas com deficiência, graças ao projeto “Você não está sozinho”, financiado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento. De acordo com o censo de 2014, vivem em Uganda 34,6 milhões de pessoas, 12,5% das quais têm pelo menos uma forma de deficiência. As deficiências mais comuns dizem respeito à visão (6,5%), às capacidades cognitivas (5,4%), à deambulação (4,5%) e à audição (3,1%).

O estigma da deficiência

No distrito de Agago, onde Kalongo está localizado, 22% da população tem alguma deficiência. Na região de Acholi, 24,7% das pessoas com deficiência entre 6 e 24 anos abandonaram a escola, enquanto 11% nunca frequentaram a escola. “O projeto visa enfrentar a deficiência em três áreas principais — mental, oftalmológica e ortopédica/neuromotora — em um contexto onde o estigma e a negligência ainda são a norma”, observa Giovanna Ambrosoli. “A deficiência, muitas vezes invisível e não relatada, ainda é uma fonte de marginalização social em muitas aldeias ugandenses. Antigamente, as pessoas com deficiência eram escondidas ou, nos piores casos, eliminadas. Hoje”, continua ela, “a situação está mudando lentamente graças a um modelo de intervenção que combina prevenção, diagnóstico, tratamento e conscientização”. Entre os resultados mais significativos está a criação de uma clínica oftalmológica no hospital de Kalongo, que também oferece exames para diabetes, uma condição que frequentemente causa deficiência visual. Em colaboração com a CBM Itália e o Hospital São José em Kitgum, aproximadamente 1.589 exames oftalmológicos e 469 cirurgias oculares foram realizados somente em 2024.

Hospital Ambrosoli em Kalongo

Hospital Ambrosoli em Kalongo

Conscientização e prevenção

O projeto também construiu um centro de fisioterapia para tratar deficiências ortopédicas e neuromotoras, frequentemente decorrentes de acidentes, malformações ou traumas relacionados à guerra (4.036 atendimentos). Graças à formação no hospital CORSU em Entebbe, pacientes que necessitam de atendimentos pediátricos especializados poderão se beneficiar de cirurgia de reabilitação diretamente em Kalongo a partir de 2025. “No entanto”, continua Giovanna Ambrosoli, “é na área da saúde mental que a iniciativa teve um de seus impactos mais evidentes. O distrito de Agago tem uma das maiores taxas de suicídio em Uganda, um legado do trauma da longa guerra civil e do isolamento geográfico. Em 2024, 1.597 pacientes com transtornos psiquiátricos foram tratados. A presença constante de pessoas especializadas, terapias medicamentosas, aconselhamento familiar e atividades de extensão nas aldeias levaram a um resultado surpreendente: a taxa de mortalidade em hospitalizações por tentativa de suicídio caiu de 13% para 0%. O projeto é acompanhado por atividades de conscientização por meio de rádios locais, talk shows, paróquias e reportagens fotográficas, com o objetivo de combater o estigma e informar as comunidades sobre a importância do diagnóstico e do tratamento. “Estamos trabalhando em uma iniciativa de comunicação e conscientização na Itália”, conclui Giovanna, “por meio da qual queremos documentar o que significa viver com uma deficiência num contexto rural africano. Nosso compromisso continua seguindo o exemplo do padre Giuseppe”.

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