Hiroshima, Cupich: memória viva para despertar as consciências

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Na homilia da Missa celebrada em Hiroshima, o cardeal arcebispo de Chicago ressaltou que “há oitenta anos, o mundo testemunhou o abuso alarmante da engenhosidade humana voltada para a destruição. Hoje, aqui em Hiroshima, somos chamados a usar essa engenhosidade para nos proteger e construir caminhos de paz. Esta festa da Transfiguração mudou para sempre há oitenta anos. Que possamos permanecer firmes em dizer ao mundo o porquê”

Sara Costantini – Vatican News

“No Monte Tabor, a luz revelou nossa vocação para participar eternamente da grandeza divina como filhos e filhas do Pai; em Hiroshima, a luz trouxe destruição, escuridão e morte inimagináveis.” Com estas palavras, o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, abriu sua homilia na Missa pelas vítimas da bomba atômica, celebrada na manhã desta quarta-feira em Hiroshima, no dia em que a Igreja celebra a Transfiguração do Senhor e no octogésimo aniversário daquela explosão que mudou para sempre o rosto da história humana.

Uma luz de destruição

No cerne de sua homilia, o cardeal Cupich contrastou “a luz que brilhou no Monte Tabor” com a “luz ofuscante” que devastou Hiroshima: “No Tabor”, disse ele, “Jesus se revelou aos discípulos como o Senhor da história, e o Pai proclamou do céu: ‘Este é meu Filho amado… ouvi-o’. Mas aqui, oitenta anos atrás, uma luz diferente desceu do céu: uma luz de destruição, que mergulhou o mundo em um silêncio devastador.” Para o purpurado, esse contraste nos obriga a encarar a verdade: “Quando ignoramos a visão do Tabor, quando fazemos ouvidos moucos à voz de Deus que nos chama ao amor fraterno, acabamos abrindo caminho para o ódio e a devastação.”

O testemunho dos sobreviventes

Recordando as palavras do Papa Francisco, proferidas no mesmo local em 2019, Cupich reiterou o que chama de “três imperativos morais” para salvaguardar o porvir da humanidade: recordar, caminhar juntos e proteger. “recordarar”, enfatizou, “significa evitar que a tragédia de Hiroshima caia no esquecimento. Significa transmitir às gerações futuras a memória dos hibakusha, aqueles sobreviventes que, com seu testemunho, clamaram por décadas: nunca mais.” Mas a memória, acrescentou, não pode ser meramente histórica: “Como Jesus conversando com Moisés e Elias no monte, somos chamados a inserir nossas tragédias no plano de salvação de Deus, que abrange as origens e aponta para o dia em que o Filho do Homem reunirá todos os povos e línguas. Precisamos de uma memória viva que desperte as consciências e possa dizer a cada geração: nunca mais!”

Escuta e respeito

Para Cupich, a resposta cristã exige “gerar reações em cadeia de paz e reconciliação, caminhar juntos como um povo em êxodo, deixar de lado o nacionalismo e a rivalidade, ouvir as histórias uns dos outros e construir uma mesa onde ninguém seja excluído”. O arcebispo de Chicago também enfatizou a contribuição da Igreja para o bem comum: “Nossa experiência sinodal”, disse ele, “oferece ao mundo um exemplo concreto: aprender a ouvir uns aos outros, a dialogar, a respeitar uns aos outros. Este é o caminho para a paz e, juntos, para a libertação interior”.

Construir caminhos de paz

Por fim, o cardeal abordou o terceiro imperativo: proteger. “Em um mundo marcado por uma guerra mundial travada ‘em pedaços'”, lembrou ele, “não há segurança para ninguém enquanto a paz não existir, mesmo que seja em um único canto da terra”. Após evocar a imagem evangélica dos discípulos “envoltos pela nuvem sobre o monte” para indicar o significado mais profundo dessa proteção, Cupich concluiu sua homilia com um convite que é ao mesmo tempo compromisso e missão: “Há oitenta anos, o mundo testemunhou o abuso alarmante da engenhosidade humana voltada para a destruição. Hoje, aqui em Hiroshima, somos chamados a usar essa engenhosidade para nos proteger e construir caminhos de paz. Esta festa da Transfiguração mudou para sempre há oitenta anos. Que possamos permanecer firmes em dizer ao mundo o porquê.”

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