Papa ao encontro da amizade em Rimini, na Itália: a idolatria do lucro compromete a paz

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Dirigida ao bispo de Rimini, na mensagem para a 46ª edição do Meeting 2025 promovido por “Comunhão e Libertação”, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, Leão XIV escreve que, para servir a Deus, é preciso abandonar “a idolatria do lucro” que comprometeu a justiça e a paz e traduzir o Evangelho “em formas alternativas de desenvolvimento” àquelas “sem igualdade e sustentabilidade”.

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Alessandro Di Bussolo – Vatican News

“Não podemos mais nos permitir de resistir ao Reino de Deus, que é um Reino de paz”. E onde os responsáveis pelos Estados e pelas instituições internacionais “parecem não conseguir fazer prevalecer o direito, a mediação e o colóquio, as comunidades religiosas e a sociedade civil devem ousar a profecia”. É o que escreve o Papa Leão XIV ao bispo de Rimini, dom Nicolò Anselmi, na mensagem para o 46º Encontro pela Amizade entre os Povos – o Meeting 2025, assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. Uma profecia que pede para abandonar “a idolatria do lucro” que comprometeu a justiça e a paz, para “servir ao Deus Vivo” e traduzir o Evangelho “em formas alternativas de desenvolvimento aos caminhos de crescimento sem igualdade e sustentabilidade”. Assim, “o deserto se torna um jardim” e a “cidade de Deus”, anunciada por Santo Agostinho, “transfigura nossos lugares desolados”.



O evento italiano começa nesta sexta-feira, 22 de agosto   (ANSA)

O tema: “nos lugares desertos construiremos com tijolos novos”

A mensagem inspira-se no tema do Meeting 2025, que se realiza de 22 a 27 de agosto na Feira de Rimini, evento de verão promovido pelo movimento Comunhão e Libertação, “Nos lugares desertos construiremos com tijolos novos”, que, sublinha, é um convite à esperança “que não decepciona”. No deserto, antes de tudo, nasce o povo de Deus, que somente caminhando entre suas asperezas “amadurece a escolha da liberdade”. E o Deus bíblico “o faz florescer como um jardim de esperança”. Os monges e monjas habitam o deserto “em nome de todos nós”, junto ao “Senhor do silêncio e da vida”. O Papa aprecia que uma das exposições do Meeting 2025 seja dedicada ao testemunho dos mártires da Argélia, nos quais “resplandece a vocação da Igreja de habitar o deserto em profunda comunhão com toda a humanidade, superando os muros de desconfiança que opõem as religiões e as culturas”, imitando integralmente “o movimento de encarnação e de doação do Filho de Deus”.

Os muitos diálogos do Meeting 2025

A preparar os “novos tijolos” com os quais construir “aquele porvir que Deus já tem reservado para todos, mas que só se revela quando acolhemos uns aos outros”, lê-se na mensagem, serão os “diálogos entre católicos de diferentes sensibilidades e com crentes de outras confissões e não crentes”. Para “ousar a profecia”, as comunidades religiosas e a sociedade civil devem “deixar-se levar ao deserto” e ver o que pode nascer “de tanta, demasiada dor inocente”. Para os católicos italianos, trata-se dos “caminhos de educação para a não violência, iniciativas de mediação em conflitos locais, projetos de acolhimento que transformem o medo do outro em oportunidade de encontro” que Leão XIV recomendou aos bispos italianos promover, na audiência de 17 de junho. Para fazer de cada comunidade uma “lar de paz”, “onde se aprende a desarmar a hostilidade através do colóquio, onde se pratica a justiça e se guarda o perdão”.

Para os novos tijolos são necessárias “as vítimas da história”

O Pontífice, portanto, incentiva “a dar nome e forma ao novo, para que a fé, a esperança e a caridade se traduzam em uma grande conversão cultural”. E na mensagem são citados “o amado Papa Francisco” e “a opção pelos pobres” como categoria teológica da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Deus, de fato, “escolheu os humildes”, “os sem poder” e “se fez um deles, para escrever em nossa história a sua história”. Ele também lembra a Encíclica Fratelli tutti e o pedido de incluir aqueles que “têm outro ponto de vista, veem aspectos da realidade que não são reconhecidos pelos centros de poder onde são tomadas as decisões mais determinantes”. E para ter novos tijolos, são necessárias “as vítimas da história”, os “famintos e sedentos de justiça”, os “operadores de paz, as viúvas e os órfãos, os jovens e os idosos, os migrantes e os refugiados, o clamor de toda a criação”. Porque, ainda se lê na mensagem, “negar as vozes dos outros e renunciar à compreensão mútua são experiências fracassadas e desumanizantes” e a elas “deve se opor a paciência do encontro com um Mistério sempre novo, cujo sinal é a diferença de cada um”.

O cristão não pode tolerar a desertificação do mundo

Portanto, a presença dos cristãos nas sociedades contemporâneas, “desarmada e desarmante”, deve traduzir o Evangelho do Reino “em formas alternativas de desenvolvimento aos caminhos de crescimento sem igualdade e sustentabilidade”. Para servir ao Deus vivo, sublinha o Papa Leão XIV, é preciso abandonar “a idolatria do lucro que comprometeu gravemente a justiça, a liberdade de encontro e de intercâmbio, a participação de todos no bem comum e, finalmente, a paz”. Não segue Cristo, acrescenta, “uma fé que se estranha da desertificação do mundo ou que, indiretamente, contribui para tolerá-la”. E, portanto, também a revolução digital, que “corre o risco de acentuar discriminações e conflitos”, deve ser vivida com criatividade. Só assim a “cidade de Deus” agostiniana transfigurará “nossos lugares desolados”. A Virgem Maria, “Estrela da Manhã”, é a oração final do Papa, que sustenta o compromisso de todos os participantes “em comunhão com os Pastores e as comunidades eclesiais nas quais estão inseridos”. Que devem agir em harmoniosa sintonia “com todos os outros membros do Corpo de Cristo”, obedecendo assim ao Espírito Santo, como Leão XIV pediu na homilia da Vigília de Pentecostes com os Movimentos, associações e novas comunidades, em 7 de junho de 2025.

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