No Meeting 2025 da cidade italiana de Rimini, um tradicional encontro sobre a amizade entre os povos, o debate entre os escritores Colum McCann, Javier Cercas e o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, sobre os limites de uma comunicação capaz de construir comunhão.
Guglielmo Gallone – Rimini
«Não sei onde nasce uma história. Mas sei que, para que, para fazer ela nascer, é preciso estar aberto. Aberto à contradição. Vivemos em um mundo doente de certezas. Todos têm certezas absolutas, todos têm sempre a segurança de saber, de conhecer tudo. Esquecemos, porém, que uma história é a distância entre duas pessoas. Sempre. E o essencial, para uma história, é achar uma espécie de verdade segundo a qual eu reconheço que você existe e você reconhece que eu existo. Não precisamos necessariamente nos amar, mas se não nos compreendermos mutuamente, um ao outro, então estaremos perdidos. É por isso que as histórias podem lavar os pés do mundo”: foi assim que respondeu o escritor irlandês naturalizado americano, Colum McCann, quando lhe perguntaram onde nasce uma história.
No quarto dia do Meeting de Rimini e neste 24 de agosto, aconteceu um dos eventos mais intensos e emocionantes, no qual, junto com McCann, o escritor espanhol Javier Cercas e o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, moderados pela jornalista da RAI da Itália, Linda Stroppa, tentaram traçar os limites de uma comunicação que construa comunhão. Um objetivo nada fácil em um mundo cada vez mais marcado por conflitos e polarizações, propaganda e simplificações mentirosas.
Na verdade, o encontro começou justamente com esta pergunta: ainda é possível comunicar com esperança? “Não só é possível, como é necessário”, começou Ruffini, “mas temos que procurar a esperança. Esse é o tema, que porém não é fácil, porque estamos constantemente cegados pelo mal. Nos jornais, na televisão, nas redes sociais: o mal brilha e as histórias que contam o bem parecem ser ocultadas. Nossa tarefa, então, é procurar, contar e compartilhar histórias que façam compreender como, mesmo onde parece não haver nada a fazer e nada a esperar, na realidade não é assim. Tudo isso é útil para os católicos, certamente, mas é útil para o mundo inteiro. Ser católico não significa viver dentro de uma fronteira”.
O convite de Cercas foi então o de “voltar ao mais essencial: contemos a verdade. Devemos fazê-lo por uma razão evangélica”:
O problema, acrescentou o escritor espanhol, “não é a tecnologia: quando o homem inventou a escrita, todos diziam, desde Platão em diante, que nos esqueceríamos do que pensávamos; o mesmo aconteceu com a invenção da imprensa; o que dizer então da invenção da televisão, quando se dizia que a cultura desapareceria. Nada disso aconteceu. Porque tudo depende do uso que fazemos da tecnologia e, hoje em particular, da inteligência artificial”.
E se, por um lado, Colum McCann admite que “sempre vivemos épocas difíceis, mas esta em particular nos parece mais complexa porque o processo de reparação de certos problemas é cada vez mais difícil”, por outro lado, ele sugere, justamente por isso, que “aprendamos a desacelerar. Precisamos nos concentrar na reparação, na cura. E isso só pode acontecer através do conhecimento mútuo. Ouvir o outro não é fácil, mas é maravilhoso. Devemos fazê-lo com aqueles que são diferentes de nós, mas não devemos esquecer de fazê-lo também e sobretudo dentro de nossas comunidades. Na família, na escola, nas universidades”. É aqui que surge o papel da Igreja que, reitera McCann, é “local e global. O Papa Francisco deixou-nos precisamente esta mensagem de comunicação, de encontro, de escuta: eu te reconheço. Eu te vejo”.
No entanto, Cercas não hesita em acrescentar que “a Igreja hoje tem de mudar de linguagem porque tem um problema linguístico. O cristianismo é revolucionário porque mudou a forma de estar no mundo. O paradoxo é que hoje a Igreja não consegue comunicar a revolução social de Cristo. A Igreja tem uma linguagem antiga. Não é atraente, não é vital”.
O prefeito Paolo Ruffini não concorda totalmente: “há um problema de linguagem, certamente, mas a linguagem vem depois das coisas. A Igreja ou é comunhão ou não existe. E essa comunhão, esse corpo único, não diz respeito apenas à Igreja. Diz respeito a acreditar que somos todos filhos e filhas de Deus. Se vivemos dessa maneira, nossas palavras são significativas. Mas se duas pessoas dizem que se amam e não se amam, podem dizer ‘eu te amo’ ou ‘eu te quero bem’ de qualquer maneira, mas essas palavras não têm sentido. Esse, na minha opinião, é o ponto em que a Igreja deve redescobrir a beleza da comunhão”.
Caso contrário, continua Cercas, corre-se o risco de que “nem mesmo os católicos compreendam o que a Igreja quer dizer. Vou dar um exemplo concreto. Uma das palavras fundamentais do pontificado de Bergoglio permaneceu incompreendida: sinodalidade. A Igreja não soube explicar o que é. E, mais ainda, falta-lhe algo muito relevante, que devemos aprender com o Papa Francisco: o senso de humor, a ironia”.
O escritor espanhol lembra, nesse sentido, “o ato de ternura que a Igreja teve comigo, pedindo-me para participar da viagem do Papa Francisco e escrever um livro sobre ela, Il folle di Dio alla fine del mondo (Milão, Guanda, 2025, 464 páginas, 20 euros), apesar de eu ser um não crente. Francisco dizia a todos para arriscarem. E isso foi um risco para a Igreja, enquanto para mim foi um grande trabalho: tive que limpar meus preconceitos. Muitas pessoas, em todo o mundo, mas especialmente em países de tradição católica como Itália, Espanha ou Irlanda, têm enormes preconceitos em relação à Igreja e ao Vaticano. Escrever um livro desse tipo exigiu um trabalho imenso: ver, sem julgamentos automáticos, o que realmente acontece, quem são essas pessoas, o que a Igreja faz hoje. É isso que nós, escritores, fazemos: desautomatizamos a realidade. Como se a víssemos pela primeira vez. E, assim, tudo se torna surpreendente”.
Mas, para que isso aconteça, concluiu Colum McCann, “nós, escritores, devemos ter humildade. Não se deve privilegiar o papel dos romancistas ou dos poetas. Os jornalistas têm um papel, uma possibilidade e uma imenso responsabilidade, mas é preciso ter cuidado, os fatos são mercenários, vendem-se facilmente. No entanto, há coisas que não se baseiam em fatos: o amor, o orgulho, o sacrifício, a violência. Nós devemos analisar essas coisas. Para fazer isso, um jornalista, um escritor ou um romancista não deve ficar fechado em si mesmo ou viver separado dos outros. Ele deve sair para a rua, achar pessoas, contar histórias que funcionam mesmo quando ele não quer contá-las. Devemos nos esforçar para contar histórias, mesmo que simples, mas capazes de revelar a simplicidade humana. Depende apenas de nós”.