Cardeal Zuppi: “Língua latina, riqueza e bem comum”

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Publicamos o prefácio do cardeal Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, no livro de Francesco Lepore: “Beleza antiga e sempre nova. O latim no mundo de hoje”, Editora Castellvecchi, disponível nas livrarias italianas, desde 29 de agosto

Matteo Maria Zuppi

Nunca, como neste ano de 2025, o latim voltou ao centro do debate público, após a anunciada reintrodução desta disciplina no ensino fundamental italiano. Pertenço à geração, que o começou a estudar no ensino fundamental, antes da sua abolição, em 1977; fui acompanhado também por minha mãe, que era professora de latim, que deixou a profissão para se dedicar à educação dos filhos! O ex-reitor da Universidade de Bolonha, Ivano Dionigi, advertiu contra a sua metamorfose em “bandeira identitária” ou “questão ideológica”. É o que Francesco Lepore explica neste livro sobre o latim no mundo de hoje. Na primeira parte da obra, o autor, que deve a seu pai, aluno de Francesco Arnaldi, o amor pela língua da Roma Antiga, exclui qualquer mal-entendido. Nesta polarização generalizada, temerosa, às vezes até cômica e, certamente, ignorante, o latim não é prerrogativa de ninguém: é uma riqueza e um bem comum, um meio para melhor compreender o italiano e outras línguas europeias, língua de dois mil anos da identidade europeia. Em seu conjunto e, portanto, não apenas em sentido clássico, o latim desempenhou um papel fundamental na construção da identidade da Europa.

Identidade, que, como escreve Lepore, “nada mais é que a consciência de quem somos e, de consequência, um pré-requisito necessário para a abertura e o colóquio com outras culturas. […] Nesta perspectiva, o reconhecimento do latim, como língua da civilização europeia por excelência, sempre estará isento de qualquer forma de exclusividade e amnésia cultural. Pelo contrário, levará a não esquecer e, por conseguinte, a valorizar corretamente as contribuições restantes, a partir daquelas do grego, hebraico bíblico e árabe”.

Porém, o latim é e continua sendo a língua oficial da Igreja, como os Papas têm reiterado, explícita e repetidamente, desde o Concílio Vaticano II. Francesco Lepore trata este tema em um parágrafo específico, com o título provocante “Igreja e o latim: uma história de amor terminada?”; observa também que as cíclicas alegações da mídia, sobre a suposta abolição do uso do latim na liturgia, são alimentadas “pela identificação errônea e grosseira entre a língua e a antiga forma do rito romano”. Ele não deixa de ressaltar também a relevante contribuição dos scriptores da Seção Latina da Secretaria de Estado para a atualização do latim, por meio de neologismos ou significados adicionais de termos antigos, a fim de expressar realidades e conceitos contemporâneos.

Enfim, pode-se dizer que o latim está mais vivo do que nunca, como demonstram os diversos noticiários de rádio, revistas e sites on-line nesta língua. Lepore confirma isso, desde 2020, na coluna de “Linkiesta”, na sua edição diária “O tempora, o mores“, ao comentar em latim um acontecimento da atualidade. Desta coluna são extraídos cinquenta artigos curtos ou commentatiunculae, que, divididos por ano e publicados, em italiano ao lado, constituem a segunda parte deste livro.

Imergindo-se nas quase duzentas páginas do volume, pode-se experimentar o poder sedutor do latim, — como sugere o título, inspirado e adaptado em uma das passagens mais famosas das Confissões de Agostinho — uma língua de “beleza antiga e sempre nova”. Não é por mera coincidência que o lema da União é em latim, sugerindo a sua utilidade: In varietate concordia.



Capa do livro de Francesco Lepore “Beleza antiga e sempre nova: o latim no mundo de hoje” (Editora Castelvecchi)

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