A catequese de Leão XIV foi centrada na experiência de Jesus crucificado. “Na cruz, Jesus não morre em silêncio”, disse o Papa. Ele “deixa a sua vida com um grito” e “este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega”, sublinhou o Pontífice.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
A morte de Jesus na cruz foi o centro da catequese do Papa Leão XIV na Audiência Geral, desta quarta-feira (10/09), realizada na Praça São Pedro.
Não obstante o dia nublado e chuvoso, milhares de fiéis e peregrinos participaram deste encontro semanal com o Pontífice.
“Os Evangelhos atestam um pormenor preciosíssimo, que merece ser contemplado com a inteligência da fé: na cruz, Jesus não morre em silêncio. Ele não se apaga lentamente, como uma luz que se consuma, mas deixa a sua vida com um grito: «Então Jesus, soltando um forte grito, expirou». Este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega”, disse o Papa Leão.
“O grito de Jesus é precedido de uma pergunta, uma das mais pungentes que se pode proferir: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». É o primeiro versículo do Salmo 22, mas nos lábios de Jesus assume um peso singular”, frisou o Pontífice, acrescentando:
O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta agora o silêncio, a ausência, o abismo. Não é uma crise de fé, mas a etapa final de um amor que se entrega completamente. O grito de Jesus não é de desespero, mas de sinceridade, de verdade levada ao limite, de confiança que perdura mesmo quando tudo é silêncio.
“Deus já não habita atrás de um véu; o seu rosto é agora totalmente visível no Crucifixo. É ali, naquele homem atormentado, que se revela o maior amor”, sublinhou o Papa, ressaltando que o centurião, que era um pagão, compreendeu, mas não “porque ouviu um discurso, mas porque viu Jesus morrer daquela maneira”. Ele disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!».
É a primeira profissão de fé após a morte de Jesus. É o fruto de um grito que não se perdeu no vento, mas tocou um coração. Por vezes, o que não conseguimos expressar com palavras, expressamo-lo com a voz. Quando o coração está cheio, clama. E isso nem sempre é sinal de fraqueza; pode ser um profundo ato de humanidade.
De acordo com o Papa, “o Evangelho dá ao nosso clamor um imenso valor, lembrando-nos que pode ser uma invocação, um protesto, um desejo, uma entrega. De fato, pode ser a forma suprema da oração, quando já não nos restam mais palavras. Naquele grito, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança”.
“Uma esperança que não desiste. Gritamos quando acreditamos que alguém ainda pode ouvir. Clamamos não por desespero, mas por desejo. Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Mesmo em silêncio, estava convencido de que o Pai estava ali. E assim nos mostrou que a nossa esperança pode gritar, mesmo quando tudo parece perdido”, disse ainda o Pontífice.
Gritar torna-se então um gesto espiritual. Não é apenas o primeiro ato do nosso nascimento — quando viemos ao mundo a chorar — é também uma forma de nos mantermos vivos. Gritamos quando sofremos, mas também quando amamos, chamamos, invocamos. Gritar é dizer que estamos aqui, que não nos queremos esvair em silêncio, que ainda temos algo para oferecer.
O Papa recordou que existem momentos na vida “em que guardar tudo dentro de nós pode consumir-nos lentamente. Jesus nos ensina a não ter medo do clamor, desde que seja sincero, humilde e dirigido ao Pai. Um clamor nunca é em vão, se vier do amor. Nunca é ignorado, se for entregue a Deus. É uma forma de evitar ceder ao cinismo, de continuar a acreditar que outro mundo é possível”.
Leão XIV concluiu, convidando a aprender com Jesus “aprendamos o grito da esperança quando chega a hora da provação extrema. Não para magoar, mas para confiar. Não para gritar contra ninguém, mas para abrir o coração. Se o nosso grito for verdadeiro, pode ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento. Como foi para Jesus: quando tudo parecia terminado, a salvação estava, na verdade, prestes a começar. Se expressada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz angustiada da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se fonte de esperança para nós e para os que nos rodeiam”.