Papa: a grandeza da justiça emerge se aplicada com fidelidade ao respeito pela pessoa

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“A grandeza da justiça não diminui quando se exerce nas pequenas coisas, mas emerge sempre quando é aplicada com fidelidade ao direito e ao respeito pela pessoa”. São palavras do Papa Leão XIV por ocasião da audiência deste sábado (20/09), na Praça São Pedro, pelo Jubileu dos Operadores de Justiça.

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Vatican News

Por ocasião do Jubileu dos Operadores de Justiça deste sábado, 20 de setembro, o Papa Leão XIV recebeu os peregrinos na Praça São Pedro após a saudação de dom Rino Fisichella e a Lectio Magistralis de dom. Juan Ignacio Arrieta. O Pontífice iniciou o discurso falando sobre a importância de refletir mais profundamente sobre a justiça e sua função, “que sabemos ser indispensável tanto para o desenvolvimento ordenado da sociedade quanto como virtude cardinal que inspira e orienta a consciência de cada homem e mulher”. Recordando que ao desempenhar uma função superior na convivência humana, a justiça “não pode ser reduzida à mera aplicação da lei ou à atuação dos juízes, nem se limitar aos aspectos processuais”.



O Papa ao ouvir a saudação de dom Rino Fisichella   (@VATICAN MEDIA)

Circularidade da relação social

Entre os princípios da justiça, o Papa Leão disse que “na justiça, de fato, conjugam-se a dignidade da pessoa, sua relação com o outro e a dimensão da comunidade feita de convivência, estruturas e regras comuns. Uma circularidade da relação social que coloca no centro o valor de cada ser humano, a ser preservado por meio da justiça diante das diversas formas de conflito que podem surgir na ação individual, ou na perda do senso comum que pode envolver também os aparatos e as estruturas”.

A justiça é uma virtude

Citando o Catecismo da Igreja Católica, Leão XIV recordou que a justiça é sobretudo uma virtude, ou seja, “uma atitude seguro e estável que ordena nossa conduta de acordo com a razão e a fé. A virtude da justiça, em particular, consiste na ‘vontade constante e seguro de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido’.

O mal deve ser punido e reparado

Após citar episódios evangélicos em que a ação humana é avaliada por uma justiça capaz de derrotar o mal da opressão, como lembra a insistência da viúva que leva o juiz a reencontrar o sentido da justiça, com a misericórdia e com o perdão, Leão afirmou: “é a força do perdão, própria do mandamento do amor, que emerge como elemento constitutivo de uma justiça capaz de conjugar o sobrenatural com o humano”. Continuando, ele disse ainda:

“A justiça evangélica, portanto, não se afasta da humana, mas a questiona e redesenha: ela a provoca a ir sempre além, porque a impele à busca da reconciliação. O mal, de fato, não deve apenas ser punido, mas reparado, e para isso é necessário um olhar profundo para o bem das pessoas e o bem comum.”

A igualdade é ver os direitos inerentes à dignidade garantidos

“Como se sabe”, continuou o Papa, “a justiça se concretiza quando se volta para os outros, quando a cada um é dado o que lhe é devido, até alcançar a igualdade em dignidade e oportunidades”. Porém, ponderou o Pontífice, “a verdadeira igualdade, é a possibilidade dada a todos de realizar suas aspirações e ver os direitos inerentes à sua dignidade garantidos por um sistema de valores comuns e compartilhados, capazes de inspirar normas e leis nas quais se baseia o funcionamento das instituições”. “Hoje”, disse ainda o Papa sobre esse ponto, “o que motiva os operadores da justiça é justamente a busca ou a recuperação dos valores esquecidos na convivência, seu cuidado e seu respeito”. Advertindo em seguida que se trata de “um processo útil e necessário, diante do surgimento de comportamentos e estratégias que demonstram desprezo pela vida humana desde o seu início, que negam direitos básicos à existência pessoal e não respeitam a consciência da qual brotam as liberdades”.

Para a justiça: atenção constante, desinteresse radical e discernimento assíduo

Citando Santo Agostinho, “a justiça não é tal se não for ao mesmo tempo prudente, forte e moderada”, o Papa Leão afirmou que isso “requer a capacidade de pensar sempre à luz da verdade e da sabedoria, de interpretar a lei indo em profundidade, além da dimensão puramente formal, para captar o sentido íntimo da verdade a que servimos”. Portanto buscar a justiça “requer amá-la como uma realidade que só pode ser alcançada se combinarmos atenção constante, desinteresse radical e discernimento assíduo”. “Quando se exerce a justiça, de fato, coloca-se a serviço das pessoas, do povo e do Estado, com dedicação plena e constante”. Explicando em seguida que a “grandeza da justiça não diminui quando se exerce nas pequenas coisas, mas emerge sempre quando é aplicada com fidelidade ao direito e ao respeito pela pessoa, em qualquer parte do mundo que ela se encontre”.

Ter “fome e sede de justiça”

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). Com essa bem-aventurança, explicou o Papa, o Senhor Jesus quis expressar a tensão espiritual à qual é necessário estar aberto, não só para obter a verdadeira justiça, mas sobretudo para procurá-la por parte daqueles que devem realizá-la nas diferentes situações históricas.

Ter ‘fome e sede’ de justiça equivale a estar consciente de que ela exige um esforço pessoal para interpretar a lei da forma mais humana possível, mas, acima de tudo, exige tender para uma ‘saciedade’ que só pode ser alcançada numa justiça maior, que transcende as situações particulares”.

“O Estado, no qual não há justiça, não é um Estado”

Por fim, Leão XIV convidou a refletir sobre a realidade de muitos países que têm “fome e sede de justiça”, porque as suas condições de vida são tão injustas e desumanas que se tornam inaceitáveis. Com palavras de Santo Agostinho recordou: “sem justiça não se pode administrar o Estado; é impossível que haja direito em um Estado onde não há verdadeira justiça. […] O Estado, no qual não há justiça, não é um Estado. A justiça, de fato, é a virtude que distribui a cada um o que lhe pertence. Portanto, não é justiça do homem aquela que subtrai o próprio homem do Deus verdadeiro”. Em conclusão, o Papa desejou que as palavras inspiradoras de Santo Agostinho motivem cada um a exercer sempre da melhor forma a justiça a serviço do povo, com os olhos voltados para Deus, de modo a respeitar plenamente a justiça, o direito e a dignidade das pessoas.

Papa Leão XIV e o Jubileu dos Operadores de Justiça

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