O cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o colóquio Inter-Religioso fala sobre a próxima festa do fim do Ramadã, e sobre a mensagem para os irmãos muçulmanos centralizada na proteção dos locais de culto
Hélène Destombes, Jane Nogara– Cidade do Vaticano
Aproxima-se a festa do fim do Ramadã, que neste ano por causa da pandemia é celebrada sem o aspecto comunitário. O cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o colóquio Inter-Religioso, recorda que é celebrada “como nós cristãos celebramos a última Páscoa”, destacando muito o aspecto interior da celebração. Também fala sobre a Mensagem do Dicastério que neste ano centraliza-se na proteção dos locais de culto, inspirada no Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado pelo Papa Francisco e o Grão-Imame de Al-Azhar em fevereiro de 2019.
Estamos nos aproximando da Festa do fim do Ramadã, no contexto atual, como se pode ver esta celebração?
Cardeal Guixot: É uma festa essencial, relevante e significativa para os nossos amigos muçulmanos, embora, assim como foi para nós a celebração da Páscoa, neste ano a Festa assume um significado particular por causa da pandemia da Covid-19. Creio que o Ramadã deste ano tenha assumido uma dimensão mais introspectiva porque o aspecto comunitário não pôde ser celebrado. Por isso, como Presidente do Pontifício Conselho para o colóquio Inter-Religioso faço votos de que cristãos e muçulmanos, unidos em espírito de fraternidade, demonstrem solidariedade com a humanidade duramente atingida, e dirijam suas orações a Deus Todo Poderoso e Misericordioso, para que estes momentos tão difíceis possam ser superados.
Qual é o conteúdo da Mensagem pelo fim do Ramadã deste ano?
Cardeal Guixot: Todos os anos o Dicastério propõe à comunidade islâmica um tema comum a ambas religiões. Neste ano em particular, destacamos o tema da proteção dos locais de culto, inspirados no Documento sobre a Fraternidade Humana, no qual o Papa Francisco, junto com o Grão-Imame de Al Azhar, dizia que “a proteção dos locais de culto é um dever garantido pelas religiões, pelos valores humanos, pelas leis e pelas convenções internacionais. Qualquer tentativa de atacar locais de culto é um desvio dos ensinamentos das religiões, bem como uma clara violação do direito internacional, que são condenáveis pelos crentes e não-crentes. A necessidade de liberdade de culto é um direito e um dever.
Qual pode ser a contribuição do colóquio entre pessoas de várias religiões nesta situação e em vista do porvir?
Cardeal Guixot: Sinto o dever de fazer referência ao Papa Francisco. Em várias situações desta difícil realidade o Santo Padre nos chamou a difundir o “contágio da esperança” para enfrentar os desafios atuais e os do próximo porvir. Quando os vários líderes religiosos serão chamados a promover a unidade, a solidariedade e a fraternidade, devemos nos preparar para sair deste momento melhores do que éramos antes e ajudar as nossas sociedades a estarem prontas a mudar tudo o que for necessário, não só as leis da economia e do lucro.