No jubileu dos catequistas que culminou com a Eucaristia presidida pelo Papa Leão XIV, no domingo 28 de setembro, cinco representaram Moçambique, dos quais 4 receberam do Papa o ministério de catequista. Em entrevista à Rádio Vaticano os catequistas sublinharam a urgência da missão do catequista para difundir a mensagem esperança em contextos muitas vezes difíceis, como o conflito em Cabo Delgado.
P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano
Os cinco catequistas moçambicanos que participaram, em Roma, nos dois dias de jubileu ressaltaram, antes de tudo, a importância da sua missão de catequistas na Comunidade e na Igreja diocesana, e se mostraram quase incrédulos pelo raro privilégio da peregrinação e uma celebração com o Santo Padre.
Para António Fernando Uarrota, da Diocese de Chimoio (centro de Moçambique) e catequista há muitos anos, é relevante a existência do Catequista numa Comunidade, Paróquia ou na Diocese: a diocese tem muitas Paróquias e comunidades, e com várias línguas diferentes, mas graças ao serviço dos catequistas, a Palavra chega a todo lado, apesar das inúmeras dificuldades e desafios.
E António Uarrota não pode esconder a sua felicidade por ter participado na Missa com o Papa Leão XIV com o rito da instituição de 39 catequistas vindos de muitas partes do mundo: “Não é fácil sair de Moçambique e vir para aqui …”, concluiu dizendo.
Da diocese de Pemba, na província de Cabo Delgado (norte de Moçambique), tristemente famosa pelos ataques jihadistas que desde 2017 semeiam mortes, feridos, deslocados e destruições de casas e outras propriedades, quatro participaram na Missa e foram instituídos catequistas, tendo recebido das mãos do Santo Padre a Cruz de envio em missão.
Paulo Agostinho Matica, em missão na Paróquia São Bento de Palma, norte de Cabo Delgado e palco dos ataques jihadistas, confessa que “o trabalho de Catequista não é fácil …, por causa da guerra”. Um dos grandes desafios, com efeito, para o catequista, é a de uma população em movimento, muitos deslocados em fuga da violência dos ataques: “muita população está em Palma, mas muitos outros fugiram, apesar de tudo, existem ainda catequistas fazendo catequese em Palma”.
Francisco Jamal Tarige, deu também o seu testemunho de catequista na Paróquia Santa Isabel de Chiúre (centro de Cabo Delgado). A diocese de Pemba, explica Francisco, tem 2250 catequistas, enquanto a sua Paróquia (de Chiúre) conta com apenas 22.
Aqui também, confessa, não faltam as dificuldades e desafios, mas sempre na felicidade de servir a Palavra de Deus e os irmãos: “Fazer catequese na Paróquia de Chiúre é uma tarefa muito difícil, é difícil testemunhar a Cristo, darmos a catequese e sermos acolhedores dos nossos irmãos e irmãs refugiados ou deslocados internos”.
A região do Chiúre, na verdade, não tem sido poupada aos ataques jihadistas que aos cristãos reservam tratamentos particularmente duros, embora consiga igualmente acolher os muitos deslocados vindos de outros pontos da província, e que também precisam receber o Evangelho, através da catequese, enfatiza Francisco.
Por sua vez, Adérito Benjamim Monteiro, é catequista na Paróquia Nossa Senhora da Consolata de Montepuez, região Sul da diocese de Pemba. Também para Adérito ser catequista é um imenso desafio entre vários outros: grandes distâncias e poucos catequistas, preparação insuficiente destes últimos, poucos manuais, a catequese aos deslocados vindos de outros distritos.
“Ser catequista na nossa Diocese não é uma tarefa fácil, é um desafio imenso: Paróquia muito grande, com poucos catequistas para muitos catequisandos e catecúmenos; e também tantos outros desafios, tais como a falta de manuais, a pouca formação dos catequistas, e os muitos deslocados internos vindos de outros distritos, sobretudo do norte da província de Cabo Delgado”, conclui desconsolado Adérito, mas sempre feliz de servir e participar neste jubileu.
A cidade de Pemba (e arredores) faz parte da região centro na organização pastoral da diocese, e Cristóvão Artur Micunda é catequista na Paróquia Maria Auxiliadora, em Pemba. Aos nossos microfones Cristóvão ressaltou que existem na Paróquia muitas comunidades e os sacerdotes e religiosas não as podem atender todas com a sua atividade pastoral, daí o trabalho insubstituível dos catequistas na catequese e outros serviços, como o acolhimento aos deslocados em busca de segurança, sempre numerosos em Pemba por ser a capital de Cabo Delgado.
“Pemba é a capital da província (Cabo Delgado) e é o epicentro dos refugiados e deslocados internos; é um trabalho imenso, com gente que vem e vai, e muitas crianças para a catequese”, sublinha ainda Cristóvão.
A terminar, Micunda observa que Pemba é centro urbano em que a maior parte da população professa a religião muçulmana. Ainda assim, “com os nossos esforços conseguimos unir estas pessoas e dar-lhes uma mensagem de esperança pela paz”.
Enfim, pequenos testemunhos para um grande serviço, numa Igreja que se quer missionária, em Moçambique e no resto do mundo. Como dizia António Uarrota, dirigindo-se aos catequistas, “nós Catequistas, de cada Diocese e do mundo inteiro, nos devemos preocupar em descobrir e reconhecer o chamamento que Cristo nos faz, a servir na Sua Igreja”.