O Arcebispo de Joanesburgo e Presidente da Conferência Episcopal Católica da África Austral (SACBC), emitiu uma forte condenação contra os recentes episódios de xenofobia na África do Sul. A sua mensagem chega num momento em que aumentam os relatos de famílias migrantes impedidas de aceder a hospitais, clínicas e escolas públicas.
Sheila Pires – Joanesburgo, África do Sul
Numa mensagem pastoral dirigida a todas as paróquias da Arquidiocese de Joanesburgo, o Cardeal Stephen Brislin descreveu a situação como “profundamente repugnante”.
“A situação atual, em que certos grupos impedem não-sul-africanos de aceder a serviços médicos e escolas, é profundamente repugnante”, declarou, referindo-se a incidentes em Yeoville e Soweto, onde multidões bloquearam o acesso de estrangeiros a clínicas.
“Independentemente do estatuto legal, todos têm o direito, na África do Sul, de receber cuidados de saúde e de frequentar a escola”, afirmou. “Nenhum grupo tem autoridade para substituir as forças da lei por ações de multidão.”
“Uma falha grave do dever”
O Arcebispo de Joanesburgo expressou preocupação com relatos de agentes da lei que permaneceram inativos durante os confrontos. “Não proteger pessoas em perigo é uma falha grave do dever e deve ter consequências sérias”, advertiu.
De acordo com notícias veiculadas na imprensa, ativistas da Operation Dudula confrontaram estrangeiros em clínicas de Soweto e Yeoville, acusando-os de “esgotar os recursos públicos”.
“Estas ações carecem de propósito ética e contribuem para normalizar a política de exclusão e privação”, disse o Cardeal Brislin, acrescentando que “a verdadeira causa da falta de recursos é a corrupção, não os migrantes.”
A voz da Escritura e da Igreja
Citando as Escrituras, o Cardeal Brislin citou versículos de Êxodo 22:21, Levítico 19:33 e Deuteronômio 27:19, lembrando aos católicos o seu dever ética em relação aos estrangeiros e aos vulneráveis.
“Deuteronômio 27:19 é muito claro”, disse ele, “Maldito seja aquele que negar justiça ao estrangeiro, ao órfão ou à viúva.” Ele continuou, “Jesus retoma esse ensinamento no célebre Sermão da Montanha, dizendo categoricamente: ‘Eu era estrangeiro e vocês me acolheram.’ E novamente, em Hebreus 13:2, lemos: ‘Não se esqueçam de mostrar hospitalidade ao estrangeiro, pois alguns, sem o saber, hospedaram anjos.”
Da Assembleia Plenária da IMBISA
Durante a 14ª Assembleia Plenária da IMBISA, realizada em Matsapha, Essuatíni, o Cardeal Brislin apresentou o Relatório da SACBC, no qual destacou o aumento da xenofobia na região:
“O movimento Operation Dudula tem impedido estrangeiros sem documentos de aceder a hospitais e clínicas, e ameaça fazer o mesmo com as escolas,” afirmou. “A Igreja tem procurado apoiar migrantes, refugiados e menores indocumentados sempre que possível. É uma tarefa imenso.”
O relatório também apontou as causas profundas desta crise — desemprego, corrupção e a fragilidade das famílias —, desafiando a Igreja a ser “sinal de esperança” e não cúmplice do silêncio.
“Não podemos permanecer indiferentes à pobreza, à tirania económica e ao sofrimento que afeta tantos em todo o mundo e na nossa região,” escreveu. “Temos de ser sinais de esperança — e isso significa não ficarmos calados.”
Esperança e ação
Inspirando-se nas palavras do Papa Leão XIV, o Cardeal Brislin concluiu:
“Encontramos a verdadeira esperança quando nos damos com amor e generosidade.”
E apelou aos católicos para que se mantenham firmes na solidariedade:
“A esperança não é um simples desejo, mas uma confiança seguro em Deus — uma esperança que se traduz em justiça, misericórdia e hospitalidade.”