No Jubileu da Espiritualidade Mariana, Leão XIV reuniu milhares de fiéis na Praça São Pedro para rezar o Terço pela paz. Diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, o Pontífice fez seu apelo: “Como já tive a oportunidade de recordar noutras ocasiões, a paz é desarmada e desarmante. Não é dissuasão, mas fraternidade; não é ultimato, mas colóquio”.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Milhares de fiéis se reuniram na Praça São Pedro com o Papa Leão XIV para rezar o Terço pela paz. Antes do início da cerimônia, o Pontífice fez o giro de papamóvel para saudar os presentes, entre eles os participantes do Jubileu da Espiritualidade Mariana. Na sequência, o Santo Padre se deteve em oração diante da imagem original de Nossa Senhora de Fátima, que excepcionalmente deixou o santuário mariano português para esta ocasião.
“Caros irmãos e irmãs, reunimo-nos nesta tarde para rezar juntos o Santo Rosário e confiar à intercessão de Maria, que veneramos com o título de Mãe da Igreja e Mãe da Esperança, o anseio de paz que brota de toda a humanidade. A ela, mãe amorosa, dirigimos a nossa oração para que guarde em nós a imagem do seu Filho e, sob a sua proteção, possamos viver como irmãos e irmãs, tornando-nos assim, num mundo dilacerado por lutas e discórdias, artífices de paz”, disse o Santo Padre antes do “Veni creator” e de guiar a oração dos mistérios gozosos.
A paz é colóquio, não ultimato
Após o Salve Rainha e a Ladainha dos Santos, Leão XIV pronunciou seu discurso inspirado nas palavras de Maria pronunciadas nas bodas de Caná, quando, indicando Jesus, ela diz aos servos: “Façam tudo o que ele lhes disser” (Jo 2,5).
Depois disso, ela não falará mais. Portanto, disse o Papa, essas palavras devem ser muito queridas aos filhos, como todo testamento de uma mãe. “Maria, como um sinal indicador, orienta para além de si mesma, mostra que o ponto de chegada é o Senhor Jesus e sua Palavra, o centro para o qual tudo converge, o eixo em torno do qual giram o tempo e a eternidade.”
E entre as palavras de Jesus que não queremos deixar cair, uma ressoa particularmente hoje, nesta vigília de oração pela paz: aquela dirigida a Pedro no horto das oliveiras: “Mete a espada na bainha” (cf. Jo 18,11).
Mete a espada na bainha é uma mensagem dirigida aos poderosos do mundo, àqueles que conduzem o destino dos povos, disse ainda o Pontífice, que foi veemente em seu apelo: “Tenham a audácia de se desarmar!”. Esta mensagem é dirigida ao mesmo tempo a cada um de nós, para nos tornar cada vez mais conscientes de que não podemos matar por nenhuma ideia, fé ou política. “O primeiro a ser desarmado é o coração, porque se não houver paz em nós, não daremos paz.”
“Entre vocês não seja assim”
Ouvindo ainda as palavras do Mestre, Jesus pede que não seja feito como os grandes do mundo, que constroem impérios com poder e dinheiro. O seu império, explicou o Papa, é aquele pequeno espaço que basta para lavar os pés dos seus amigos e cuidar deles.
É também o convite a adquirir um ponto de vista diferente para olhar o mundo de baixo, com os olhos de quem sofre, não com a ótica dos grandes; com o olhar de quem naufraga, do pobre Lázaro. “Caso contrário, nada mudará, e não surgirá um tempo novo, um reino de justiça e paz.”
Assim faz também a Virgem Maria no cântico do Magnificat, quando volta o seu olhar para os pontos de ruptura da humanidade, e fica do lado dos últimos da história, para nos ensinar a imaginar, a sonhar junto com Ela novos céus e uma nova terra.
Coragem, exortou o Pontífice a quem constrói as condições para um porvir de paz, na justiça e no perdão: “Não desanimem. A paz é um caminho e Deus caminha com vocês.”
Leão XIV concluiu dirigindo a Nossa Senhora a seguinte oração:
Rezai conosco, Mulher fiel, ventre sagrado do Verbo. Ensinai-nos a ouvir o clamor dos pobres e da mãe Terra, atentos aos apelos do Espírito no segredo do coração, na vida dos irmãos, nos acontecimentos da história, no gemido e no júbilo da criação.
Santa Maria, mãe dos viventes, mulher forte, dolorosa, fiel, Virgem esposa junto à Cruz onde se consuma o amor e brota a vida, sede Vós a guia do nosso compromisso em servir.
Ensinai-nos a permanecer convosco junto às infinitas cruzes onde o vosso Filho ainda está crucificado, onde a vida está mais ameaçada; a viver e testemunhar o amor cristão
acolhendo em cada homem um irmão; a renunciar ao egoísmo opaco para seguir Cristo, verdadeira luz do homem.
Virgem da paz, porta de esperança segura, Aceitai a oração dos vossos filhos!
A cerimônia prosseguiu com a exposição e adoração do Santíssimo. E se concluiu com a bênção apostólica.