Santa Sé: o abuso das novas tecnologias favorece o tráfico de seres humanos

0

Em seu pronunciamento na sede das Nações Unidas em Nova York, monsenhor Marco Formica, conselheiro da Missão Permanente vaticana, reitera que o tráfico das categorias mais vulneráveis deve ser combatido por meio de uma cooperação internacional mais intensa. Ele ressalta a necessidade de promover respostas da justiça penal e atender às necessidades específicas das vítimas

Vatican News

Recrutamento, controle e abuso de vítimas: essas são as atividades que alimentam o flagelo do tráfico de seres humanos, um fenômeno exacerbado pelo uso cada vez mais frequente e distorcido de novas tecnologias. Para combatê-lo, são necessárias políticas que coloquem essas ferramentas a serviço do bem comum. Foi o que afirmou a Santa Sé, por meio de monsenhor Marco Formica, conselheiro da Missão Permanente vaticana junto às Nações Unidas, em pronunciamento feito na terça-feira, 26 de novembro, na Quarta Reunião de Alto Nível sobre a avaliação do Plano de Ação Global das Nações Unidas contra o Tráfico de Seres Humanos, na sede em Nova York.

Menores entre os mais afetados pelo tráfico

O prelado manifestou o apreço de toda a delegação pelas avaliações feitas sobre o Plano de Ação Global, quinze anos após sua adoção. Ele observou, no entanto, que o número de vítimas continua a aumentar no mundo inteiro, com um envolvimento cada vez mais significativo de menores desacompanhados ou separados de suas famílias. Entre eles, as meninas são frequentemente vítimas de tráfico “para fins de exploração sexual”, enquanto os meninos são submetidos a trabalho forçado, atividades criminosas ou mendicância. “Ambas as formas de exploração – afirmou – minam a dignidade dada por Deus às vítimas”.

Tecnologias fomentam recrutamento, controle e exploração

Reiterando a preocupação da Santa Sé com essa situação “dramática”, monsenhor Formica enfatizou que, apesar dos progressos alcançados, as redes de tráfico continuam a explorar as vulnerabilidades geradas pela pobreza, pelo subdesenvolvimento e pelas emergências humanitárias. “O crescente abuso de tecnologias em rápida evolução – acrescentou – facilita o recrutamento, o controle e a exploração das vítimas”. Essa tendência deve, portanto, ser revertida, garantindo que novas ferramentas, incluindo a inteligência artificial, sejam utilizadas “a serviço da dignidade humana, da justiça e do bem comum”.

Justiça e reunificação familiar

Na perspectiva da Santa Sé, a nova Declaração Política sobre a implementação do Plano Global apela ao fortalecimento da cooperação internacional e regional para prevenir todas as formas de tráfico, responder às necessidades específicas das vítimas – “incluindo a reunificação familiar em tempo oportuno” – e promover respostas eficazes por meio da justiça penal.

“Reverter a tendência desumanizadora”

O representante vaticano também enfatizou que migrantes e refugiados estão entre os mais afetados pelo tráfico de pessoas: “É relevante lembrar que os mais vulneráveis ​​são os que mais sofrem”. Daí, o apelo, já expresso pelo Papa Leão XIV, por um “compromisso coletivo e solidário com o objetivo de reverter a tendência desumanizadora das injustiças sociais e promover o desenvolvimento humano integral”.

As reservas da Santa Sé

Monsenhor Formica também delineou algumas das reservas da Santa Sé em relação a partes da Declaração Política. Quanto à “exploração da maternidade de substituição”, reiterou que essa prática é “deplorável em todos os casos, pois constitui uma grave violação da dignidade tanto da mulher quanto da criança”. Em relação aos “serviços de saúde sexual e reprodutiva”, o Vaticano interpreta seu significado à luz de um conceito “holístico” de saúde que não inclui o aborto ou o acesso a ele. Por fim, a Santa Sé entende o termo “gênero” como referente à identidade sexual biológica, masculina e feminina.

Relançando o apelo do Papa Leão XIV

Monsenhor Formica concluiu seu pronunciamento citando novamente o Papa Leão XIV: “Diante das guerras, do terrorismo, do tráfico de seres humanos e da agressão generalizada, as crianças e os jovens precisam de experiências que os eduquem na cultura da vida, do colóquio e do respeito mútuo.”

Fonte

Escreva abaixo seu comentário.

Por favor escreva um comentário
Por favor insira o seu nome aqui