O padre Tiago Freitas procura no seu novo livro discernir o sentido da fé com estilo sinodal. “O estudo que está presente neste ensaio, tenta afirmar que há diferentes graus e diferentes competências neste processo de discernimento”, afirma o sacerdote português.
Rui Saraiva – Portugal
O sensus fidei, ou sentido da fé, como princípio teológico da sinodalidade é aquilo que nos apresenta o padre Tiago Freitas no seu livro “Quando os cristãos (não) sentem a fé. Discernir com estilo sinodal”. É precisamente para que a fé seja sentida na vida quotidiana de cada cristão que o Papa Francisco deu início ao Sínodo sobre a sinodalidade que entrou agora na sua fase de implementação.
Discernir com todos
O sacerdote português sustenta que no processo sinodal em curso é relevante ter em conta os “diferentes graus de compromisso das pessoas para com a comunidade”. O seu livro nasce a propósito dos 60 anos da “Lumen Gentium”, mas também de uma conversa com o cardeal Grech, responsável pela Secretaria Geral do Sínodo, na qual afirmou que “todos devem participar no processo de discernimento” no âmbito deste Sínodo.
“O livro ‘Quando os cristãos (não) sentem a fé’, e o não está entre parêntesis, nasceu sobretudo por duas razões: a primeira para celebrar os 60 anos da Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, mas a segunda razão é decorrente de uma conversa informal com o cardeal Mário Grech, onde ele dizia que ‘todos devem participar no processo de discernimento’ no contexto do Sínodo sobre a Sinodalidade. Mas, como sabemos, há diferentes graus de compromisso das pessoas para com a comunidade, ou até no sentido mais amplo no modo como vivem a sua fé. Se alguns participam semanalmente, dominicalmente, nos sacramentos e estão comprometidos com atividades da comunidade, outros há que apenas foram batizados, mas depois na prática vivem como não crentes. E, por isso, é legítimo questionar se todas as pessoas são igualmente competentes no processo de discernimento”, afirma.
O exercício do sentido da fé
O padre Tiago Freitas recorda que os critérios apontados pela Igreja para o exercício do sentido da fé são exigentes, mas quando observamos a “multidão de crentes ou de não crentes, é difícil esperar que eles cumpram exatamente os critérios”, assinala o sacerdote.
“É que se nós olharmos para alguns dos documentos da Igreja, os critérios que são apontados para um verdadeiro exercício do sentido da fé, isto é, aquela capacidade inata para discernir, para intuir quando algo vem de Deus ou não, são exigentes. A escuta da Palavra de Deus, participar na vida da Igreja, aderir ao magistério, ter uma vida de santidade ou ainda colaborar para que a Igreja cresça, são critérios que poderíamos aplicar ou esperar destes cristãos mais comprometidos, mas quando olhamos para esta multidão de crentes ou de não crentes, é difícil esperar que eles cumpram exatamente os critérios”, assinala o sacerdote da Arquidiocese de Braga.
Diferentes competências no discernimento
Este ensaio do padre Tiago Freitas procura afirmar que há diferentes graus e diferentes competências neste processo de discernimento”.
“O estudo que está presente neste livro, neste ensaio, tenta afirmar que há, na verdade, diferentes graus e diferentes competências neste processo de discernimento. Por um lado, temos estes cristãos que foram batizados, mas que depois vivem na prática como não crentes, mas há ali uma semente da Palavra que está presente neles e que pode, em determinados momentos, vir ao de cima. É uma intuição inata na pessoa. O segundo grupo é daqueles que foram batizados e que o batismo produz efeitos, ainda que depois no dia-a-dia não vivam em modo tão comprometido, salvo aqueles momentos de festa, como o batismo, ou um casamento ou até um funeral, mas há uma ligação cultural com o Evangelho e também um desejo de se manter próximo com a comunidade. Agora o mais complicado talvez seja pensar nos não crentes. Ainda assim os não crentes podem participar, até pelo bom senso, isto é, deste bom espírito de querer colaborar com a Igreja e que através da sua leitura da realidade cultural podem ser provocadores para a Igreja. Podem ser uma espécie de voz profética que oferece à Igreja elementos essenciais para o discernimento”, sublinha.
“O bom senso, o bom espírito, é a porta de ingresso no senso da fé, no sentido da fé. É um ensaio muito breve, mas que tenta chegar, aproximar-se e corresponder a uma pergunta determinante no processo da sinodalidade que é dar resposta a um legado que o Papa Francisco os deixou: este legado espiritual de discernir o Espírito Santo que está presente na Igreja Católica”, declara o padre Tiago Freitas.
Tiago Freitas tem 41 anos e é sacerdote da Arquidiocese de Braga. É docente da Universidade Católica Portuguesa, onde leciona Eclesiologia, Mariologia, Ecumenismo e colóquio Inter-Religioso. É doutorado em Teologia Pastoral pela Pontifícia Universidade Lateranense em Roma, com a tese “Colégio de Paróquias”.
Entretanto, em Portugal os bispos na sua reunião plenária do passado mês de novembro, reforçaram a importância da implementação do Documento Final do Sínodo. Marcaram um II Encontro Sinodal Nacional para o dia 10 de janeiro de 2026, como informou o secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, o padre Manuel Barbosa.
“No que se refere ao processo sinodal em curso, a Assembleia reforçou a importância de implementar o Documento Final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos no seio das comunidades, seguindo as pistas publicadas pela Secretaria Geral do Sínodo para esta fase de receção sinodal, uma vez que é na vida concreta das Igrejas locais que se experimentam novas práticas e estruturas para concretizar as decisões tomadas, envolvendo todos os membros da Igreja, rumo à Assembleia Eclesial de 2028. Como parte relevante deste caminho de escuta do Espírito, da conversão das relações e da corresponsabilidade diferenciada dos batizados, foi reforçada a relevância do II Encontro Sinodal Nacional, agendado para 10 de janeiro de 2026, no qual deverão participar os Bispos, as Equipas Sinodais e outros organismos diocesanos”, salientou.
Laudetur Iesus Christus

