Essa “clareza evangélica”, apresentada pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium e na Laudato si’, deve ser reassumida pela Igreja quando a tempestade da pandemia passar, afirma Dom Edson Damian. O bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira tem presenciado as consequências da crise sanitária na cidade mais indígena do Brasil: mais de 600 pessoas foram testadas positivas à Covid-19 em 10 dias, colocando em alerta a situação já fragilizada dos mais vulneráveis da Amazônia.
Andressa Collet – Vatican News
O lockdown na cidade mais indígena do Brasil terminou nesta segunda-feira (8). A própria prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, porém, alerta para as medidas de prevenção à Covid-19 que devem continuar sendo reforçadas: “vamos manter o isolamento social para reduzir a possibilidade de propagação do vírus”, “evitar aglomeração de pessoas” e “evitar sair de lar ao máximo”. A preocupação tem origem nos últimos dados da pandemia na cidade.
Mais de 600 casos positivos à Covid-19 em 10 dias
No boletim epidemiológico desta segunda-feira (8), a Secretaria Municipal de Saúde informou que 2.299 são os casos testados positivos para a doença e 27 pessoas as falecidas, vítimas do coronavírus. Em reportagem divulgada pelo Vatican News no início do mês de junho, dom Edson Damian, bispo local e presidente do Regional Norte 1 da CNBB, indicava os números das autoridades divulgados em 30 de maio: 1.647 os casos confirmados e 21 mortes. Isso significa, só em base à comparação desses dois boletins, de 30 de maio e de 8 de junho, que, a cada 24h, 65 novos casos foram testados positivos à Covid-19 – um total de 652 pessoas infectadas nos últimos 10 dias.
Mais casos, mais tratamento
Segundo a imprensa nacional, os números são resultado de testes realizados em grande quantidade na população, principalmente a urbana, formada por 90% de indígenas, pertencentes a 23 povos diferentes: desde o início da pandemia foram mais de 3 mil testes. O alto índice detectado de casos positivos pode ter inclusive ajudado o município a reduzir a mortalidade por Covid-19, afirma o secretário municipal de Saúde, Fábio Sampaio, ao UOL: “com a testagem, conseguimos tratar da forma mais precoce possível, e estamos com um índice baixo de mortalidade. Isso significa que houve não somente o diagnóstico, mas também o tratamento”.
A Igreja na pós-pandemia
“Quando essa tempestade da Covid-19 passar”, afirma dom Edson Damian, o convite é para “reassumir com vigor dois documentos proféticos do Papa Francisco”: Evangelii Gaudium e a Laudato si’. Segundo o bispo de São Gabriel da Cachoeira, o Pontífice indica com “clareza evangélica” como deverá ser uma Igreja em saída e de cuidado da lar Comum:
“Já começamos a nos questionar o que é essencial que a Igreja retome, regenere e permita que o espírito de Pentecostes acenda como missão especial. Se Cristo está caminhando conosco – e está mesmo neste momento trágico – para onde Ele quer nos levar? O amor por Jesus, que só merece ser amado apaixonadamente, nos conduzirá sempre para amar e servir a todos; começando pelo amor preferencial pelos pobres, pelos excluídos nas periferias geográficas e existenciais. E a Igreja enlameada que deve ir nas periferias onde estão os últimos e esquecidos e abandonados, aqueles milhões de brasileiros que nem certidão de nascimento tem. É coisa de doer o coração e partir a alma! Além disso, a Covid confirma a Laudato si’ que reúne a espiritualidade de Francisco de Assis com a melhor ciência sobre o cuidado da nossa irmã, mãe terra. Uma das características mais notáveis da Laudato si’ é o colóquio com a ciência moderna. Desde o início, a resposta pastoral do Papa Francisco à pandemia levou em consideração as recomendações dos cientistas, dos médicos especialistas.”
Colaboração: Pe. Luis Miguel Modino