Conversão dos Ministros da Comunidade

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Jesus se apresentava como o Bom Pastor que acolhia o povo, sobretudo os pobres. Seu agir revela novo jeito de cuidar das pessoas. Esse é o desafio daquele que é colocado diante de uma comunidade, principalmente os bispos e os padres. A renovação paroquial depende de um renovado amor à pastoral, que bispos e padres podem e devem exercer como expressão da sua própria existência sacerdotal.
O Concílio Vaticano II evidenciou a relação entre sacerdócio ministerial (proveniente da ordem) e sacerdócio comum dos fiéis (proveniente do batismo), expressando como ambos participam do único sacerdócio de Cristo. Na renovação paroquial, todos estão envolvidos. Os bispos devem ser os primeiros a fomentar, em toda sua diocese, essa revitalização das comunidades pela renovação paroquial. Eles são chamados a estimular e apoiar a revitalização das comunidades de sua Diocese. Eles são os primeiros responsáveis para desencadear o processo de renovação das paróquias, especialmente na missão em direção aos afastados. Eles devem acentuar a missão do pároco como sendo a do pastor que procura as ovelhas mais distantes do rebanho, estando atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos, sendo promotores da cultura da solidariedade.
Os párocos devem ser os agentes da revitalização das comunidades. Tal tarefa exigirá uma profunda consciência de que o padre não é um mero delegado ou um representante, mas um dom para a comunidade à qual serve. Isso exigirá que o padre seja formado para ser o servidor do seu povo; que o padre seja, cada vez mais, aquele que se coloca como o Mestre e lava os pés dos discípulos para dar o exemplo. Será fundamental acolher bem as pessoas, exercer sua paternidade espiritual sem distinções, renovando sua espiritualidade para ajudar tantos irmãos e irmãs que buscam a paróquia. Desse modo, com uma nova postura, estará mais disponível para ir ao encontro de tantos sofredores que nem sempre são bem acolhidos na sociedade. A paróquia há de fazer a diferença no atendimento, começando pelo padre. A paróquia, entendida como comunidade de comunidades, requer uma figura de pastor que cultive uma profunda experiência de Cristo vivo, com espírito missionário, coração paterno, que seja animador da vida espiritual e evangelizador, capaz de promover a participação.
A renovação paroquial requer novas atitudes dos párocos e dos padres que atuam nas comunidades. Em primeiro lugar, o pároco precisa ser um homem de Deus que fez e faz uma profunda experiência de encontro com Jesus Cristo. Sem essa mística, toda renovação ficará comprometida. Essa vivência de discípulo fará o pároco ir ao encontro dos afastados de sua comunidade; caso contrário, contentar-se-á com aspectos da administração e promoverá uma pastoral de conservação. O ministério sacerdotal tem uma forma comunitária radical e só pode se desenvolver como tarefa coletiva.
A maioria do clero brasileiro é qualificada como padre-pastor, com dedicação generosa a serviço da comunidade. Há, contudo, uma sobrecarga de múltiplas tarefas assumidas, especialmente pelos párocos, impostas ou solicitadas pelo bem da comunidade: muitas atividades sociais, muitos atendimentos individuais, muitas celebrações rotineiras dos sacramentos. O grande problema é que esse excesso de atividades pastorais é um sinal preocupante: o prejuízo do equilíbrio pessoal do padre. Exausto, dificilmente o padre conseguirá ser o pastor que sempre desejou ser. A maior tentação que pode ocorrer é a rejeição a tudo o que é novo, pois alegará que não tem mais tempo.
Outra preocupação se refere à atualização do padre diante das aceleradas mudanças que ocorrem na modernidade. Pode ficar atrasado no tempo e afastado da realidade. No ativismo, pode ser que não se dedique ao estudo e não se prepare melhor para escutar e entender os anseios dos que o procuram.
Todas essas importantes tarefas do pároco para a renovação paroquial requerem uma vivência mais comunitária do ministério, evitando personalismos e isolamentos em relação à Diocese. Por isso, para que o ministério do presbítero seja coerente e testemunhal, ele deve amar e realizar sua tarefa pastoral em comunhão com o bispo e com os demais presbíteros da diocese.
Os diáconos precisam fortalecer seu ministério na renovação paroquial. Para isso será imprescindível que diácono e pároco trabalhem em comunhão. A conversão pessoal e pastoral do diácono se traduz nas muitas frentes onde deve atuar como servidor da comunidade. Deve se ocupar com a evangelização, a formação dos discípulos missionários, a celebração dos sacramentos que lhe competem e com as obras de caridade da paróquia.
Os diáconos atualizarão sua missão visitando os enfermos, acompanhando os migrantes, os excluídos, as vítimas de violência e os encarcerados. As comunidades precisam de pessoas atentas à caridade e à defesa da vida em todas as suas manifestações. Dessa forma, as paróquias não verão a função do diácono reduzida às tarefas litúrgicas, o que seria enfraquecer a riqueza do seu ministério.
A revitalização da comunidade supõe que o pároco estimule a participação ativa dos leigos de sua paróquia. Isso supõe valorizar as lideranças leigas, formá-las como discípulas missionárias. Tal postura implica compartilhar com os leigos as decisões pastorais e econômicas da comunidade, através dos respectivos conselhos econômico e pastoral. Isso exige da parte dos pastores, maior abertura de mentalidade para que entendam e acolham o ser e o fazer do leigo na Igreja, que, pelo batismo e pela crisma, é discípulo missionário de Jesus Cristo.
Caberá também ao pároco reconhecer novas lideranças e multiplicar o número de pessoas que realizam os diferentes ministérios nas comunidades. Não raras vezes, quando ocorre a transferência do pároco, tudo é mudado na comunidade. A caminhada é desrespeitada, e os leigos não se sentem mais membros da comunidade, mas apenas executores de tarefas sobre as quais não podem interferir. A conversão pastoral, ao permitir maior participação do leigo, há de superar esse sério problema, respeitando o plano de pastoral paroquial em sintonia com o plano diocesano de pastoral.

17º Artigo de Dom Antônio Carlos Félix sobre a “Urgência da Renovação Paroquial”.

Fonte

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