O país africano, que recebeu Francisco em setembro de 2019, está passando por uma situação de instabilidade e conflito. Em várias ocasiões, como aconteceu neste domingo (23), no Angelus, o Papa mostrou que acompanha e reza pelo que acontece em Moçambique. Dom Inácio Saure, vice-presidente da Conferência Episcopal, escreve carta aos cristãos, recorda mensagem de esperança e reconciliação deixada pelo Pontífice, e afirma: ninguém pode “descansar enquanto Moçambique não alcançar uma paz autêntica e efetiva”.
Anna Poce, Andressa Collet – Vatican News
O Papa Francisco, em mais uma oportunidade, desta vez ao final da oração mariana do Angelus deste domingo (23), demonstrou proximidade a Moçambique, em especial à população de Cabo Delgado. O Pontífice lembrou como estão sendo vítimas do terrorismo internacional, enquanto recordava a visita que fez “àquele querido país há cerca de um ano”. A viagem de Francisco foi realizada de 4 a 6 de setembro de 2019, em Maputo, “para atiçar o fogo da esperança que ardia” em toda população.
Carta aos fiéis de Moçambique
Através de uma carta pastoral dirigida a todos os cristãos, datada de 20 de agosto, o arcebispo de Nampula e vice-presidente da Conferência Episcopal, dom Inácio Saure, também lembrou do aniversário de um ano da visita apostólica:
“Damos graças a Deus por ter abençoado a visita do Santo Padre ao nosso país. A sua presença no meio de nós foi mais um sinal da sua proximidade e solidariedade para com todos os moçambicanos, sobretudo para com aqueles sobre os quais se abateram os ciclones Idai e Kenneth, bem como para com as vítimas da guerra no norte e centro de Moçambique.”
O arcebispo, ao recordar e agradecer a todos que ajudaram em diferentes frentes para que a visita do Papa em Moçambique fosse “um sucesso”, dando “o melhor de si para que isso acontecesse”, manifestando “a hospitalidade que caracteriza o povo moçambicano”, também fez uma menção especial à Nunciatura Apostólica no país e a todos os grupos da Igreja Católica. Um agradecimento relevante também foi dirigido ao governo que conseguiu interpretar “correta e plenamente o sentimento dos moçambicanos”.
A mensagem do Papa a Moçambique
Ao recordar como o Papa Francisco, um ano atrás, tenha deixado “palavras de encorajamento, animação e orientação para a atual conjuntura nacional, marcada sobretudo de ausência de uma paz efetiva”, o arcebispo salientou que o lema da visita apostólica do Pontífice foi “Esperança, Paz e Reconciliação”. Mais do que nunca, continuou o prelado, “estas palavras devem nos servir como um verdadeiro programa de ação” no contexto atual. De fato, “nem os governantes, nem a sociedade civil, nem a juventude, nem as religiões podem descansar enquanto Moçambique não alcançar uma paz autêntica e efetiva”.
Dom Saure acrescentou na carta que a proximidade do Papa ao país tem se dado também em outros momentos: na mensagem do Domingo de Páscoa, durante a tradicional saudação Urbi et Orbi, em 12 de abril deste ano, quando expressou pesar pela situação vivida em Cabo Delgado, vítima de ataques das milícias islâmicas; e, na última quarta-feira (19), quando telefonou ao bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, preocupado com “a situação dramática que se vive em Cabo Delgado”.
O mal não pode ter a última palavra
Enfim, o arcebispo de Nampula, em nome de todos os bispos do país, insistiu no desafio da “construção da paz genuína”, na “colaboração e no otimismo de todos os cidadãos e forças vivas” porque “o mal não pode ter a última palavra”. A cultura da paz “é um processo que comporta reconciliação”, ressaltou ele, que requer “uma mudança de mentalidade de todos e de cada um de nós. É preciso terminar com todas as formas de violência e, com transparência”, realizar os processos de “Desmobilização, Desarmamento e Reintegração dos homens da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), descentralização de poderes, colóquio sincero e participação de todos”, atores políticos e civis.
Como Igreja, ainda afirmou o prelado, os esforços não serão poupados para “encorajar e apoiar esses processos”, para continuar “a promover uma cultura da paz no nosso país, não só nos discursos, mas na vida concreta de cada dia, pois a boa política está a serviço da paz”.