Na missa de ação de graças pela independência do Brasil celebrada nesta segunda-feira (7) no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, o card. João Braz de Aviz exortou sobre a necessidade de se construir diálogos possíveis e “valores autênticos” numa unidade cristã. Sobretudo diante das várias crises enaltecidas pela pandemia no país, a Igreja quer “arregaçar as mangas” junto com o povo para vencer a polarização ideológica e política, criando pontes de amor, perdão e misericórdia: “não penso que chegamos ao fim da linha, nós estamos chegando no começo de uma nova linha”, afirma o cardeal.
Silvonei José, Andressa Collet – Vatican News
O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica foi quem presidiu a celebração pelo Dia da Pátria, no Colégio Pio Brasileiro, em Roma. O card. João Braz de Aviz, na sua homilia nesta segunda-feira, 7 de setembro, discorreu sobre a importância – entre erros e acertos vividos ao longo da história – da nação portuguesa pela herança da fé católica e da língua, além de enaltecer a proclamação da independência do Brasil ao superar a condição de colônia. No entanto, segundo o cardeal, ainda carregamos “dívidas históricas” diante das comunidades indígenas e povos negros.
Agora, com a pandemia, o povo precisa se unir para se salvar junto, para buscar “a conversão pessoal e social”, seguindo as luzes do Evangelho:
“Nós estamos num momento muito precário, muito difícil, muito confuso. Mas penso que, aqueles que têm a sua fé em Deus e tem o Evangelho pela frente, sabem que todos nós podemos continuar a trabalhar com esperança e a trabalhar também participando – daquilo que é possível para nós – para que esse momento se torne uma chance nova mais profunda de vida. Eu penso que nós não poderemos voltar desta experiência tão dolorosa que está sendo também com essa pandemia e com tudo que ela provocou, não podemos voltar da mesma forma que nós estávamos antes. Precisa construir valores autênticos, precisa sair desse pensamento líquido – que não tem valores comuns –, precisa sair da antítese dos grupos, de ver onde o colóquio é possível fazer, as diferenças não são problemas, há valores que nós podemos cultivar juntos. Então, celebrar juntos aqui no Pio, hoje, para mim foi um momento precioso de tomar consciência da nossa nacionalidade, do nosso povo e arregaçar as mangas juntos como Igreja. A Igreja também precisa agora rever um pouco as suas posições para que se manifeste muito mais solidária, não posicionada em várias posições muito opostas que, depois, criam divisões e problemas e às vezes até neutralizam as ações.”
Buscar o caminho da unidade
O Padre Geraldo dos Reis Maia, que está prestes a encerrar seu período de mais de 6 anos na direção da lar – já que em outubro chegará o novo reitor nomeado pela CNBB – também abordou o tema da polarização vivida no Brasil:
“Vivemos uma polarização muito grande no campo ideológico, no campo político. Tudo que se fala hoje tem um viés de interpretação dessa polarização: os que acham que é da direita, que é da esquerda e uma situação assim muito difícil. E as pessoas sofrem com isso também porque geram uma divisão na família, geram uma divisão nas comunidades, uma divisão na Igreja, uma divisão da sociedade; isso não faz bem. Precisamos procurar um caminho de unidade que passa pelo respeito, que passa pelo cuidado. A CNBB tem trabalhado muito uma campanha ‘É tempo de cuidar’: é tempo de cuidar do outro, cuidar da saúde do outro, do bem-estar do outro, da amizade, do afeto e do afeto. Precisamos superar essa polarização que não nos leva para vivermos o sentido mais forte de fraternidade, justamente agora que o Santo Padre está por lançar uma belíssima encíclica pelas notícias, que temos recebido, sobre a fraternidade, como o irmão, Francisco de Assis.”
O começo de um novo tempo
Dom João Braz de Aviz falou, então, sobre como o povo tem sofrido diante das várias crises enaltecidas pela pandemia no país: “nós sentimos que estamos muito machucados por todos esses fatos da nossa história. Ultimamente, toda essa situação, somos um espetáculo até diante do mundo, porque é onde mais morre gente. O nosso país é um dos que mais morre gente pela pandemia. Nós temos um grandíssimo número de contaminações, o problema acentuado do desemprego, o problema acentuado da falta de acompanhamento da saúde e assim por diante”. E o cardeal finalizou: