Ventos que chegaram a 320 quilômetros por hora devastaram numerosas ilhas do leste das Filipinas. Mais de 400 mil pessoas deixaram as suas casas e dezenas de milhares de casas foram destruídas. Frei Joseph: as famílias refugiam-se nas escolas e paróquias.
Marco Guerra e Gabriella Ceraso – Vatican news
Pelo menos 16 mortes foram registadas durante o fim-de-semana quando o tufão Goni passou por algumas províncias orientais das Filipinas. Mais de 420 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas e muitas áreas permanecem isoladas e impossíveis de alcançar com os meios de socorro, por isso, teme-se que o número de vítimas possa aumentar à medida que as horas passam.
Áreas mais afetadas
No domingo Goni tocou terra antes do amanhecer na ilha de Catanduanes – a ilha mais afetada pela devastação – com ventos a 225 quilômetros por hora e rajadas que atingiram 320, descobrindo os telhados das casas, derrubando árvores e destruindo linhas elétricas. As chuvas torrenciais causaram deslizamentos de terras que engoliram muitas casas e as ruas foram transformadas em riachos. O contato foi completamente perdido com a cidade de Virac, em Catanduanes, onde vivem 70 mil pessoas. Só nesta segunda-feira os funcionários locais conseguiram conectar-se com o resto do país através de telefones via satélite e relataram que cerca de 13 mil barracas e casas foram danificadas ou destruídas completamente pelo tufão. Goni também devastou a província vizinha de Albay, onde fortes chuvas destruíram cerca de 150 casas de uma única comunidade na cidade de Guinobatan.
A pandemia dificulta os socorros
A capital Manila foi em grande parte poupada mas, como precaução, algumas favelas localizadas nas áreas mais altas foram evacuadas e o Aeroporto Internacional Ninoy Aquino foi fechado, dezenas de voos foram cancelados. As escolas, fechadas para conter a propagação do vírus, são utilizadas como abrigos, bem como ginásios. As operações de segurança e salvamento são também complicadas por causa da pandemia, que absorve recursos financeiros e logísticos. Oficialmente nas Filipinas, os casos de Covid-19 analisados são mais de 380 mil e mais de 7.200 mortes, mas os dados reais são provavelmente muito mais elevados. O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, irá realizar uma inspecção aérea na região do tufão, informaram funcionários governamentais. As aparições públicas do chefe de Estado filipino foram reduzidas desde o início da pandemia.
Filipinas, território frágil
Goni é considerado um dos tufões mais poderosos deste 2020 e pela sua intensidade recorda a passagem do tufão Haiyan em 2013 que causou mais de sete mil mortos e desaparecidos nas Filipinas. O país do Extremo Oriente banhado pelo Pacífico está também sujeito a terramotos e erupções, eventos que o tornam uma das zonas do mundo mais propensas a catástrofes naturais.
Calamidade complexa devido à presença do Vírus
O testemunho do Frei Joseph A. Salando da Diocese de Legazpi em Albay, contactado por telefone no sul de Manila:
R. – É uma situação muito melancólico porque muitos perderam as suas casas, perderam tudo e gostariam de reconstruir as suas casas. Muitos sobreviventes encontraram refúgio em escolas, outros em paróquias. Ontem encontrei 30 famílias na paróquia que já não têm uma lar para onde regressar. Percorri várias áreas e muitas igrejas estão também danificadas. Há destruição em todo o lado. As pessoas e as famílias estão lidando com a situação, salvando o que podem. Tenho visto famílias alimentando os animais que salvaram da inundação. Ainda existem situações críticas, pessoas que subiram aos telhados das casas para se salvarem e hoje quero ver o que está ocorrendo.
As inundações e o tufão se uniram a uma situação já grave causada pela pandemia…
R. – Estamos perante uma calamidade muito complexa devido à presença do vírus. As pessoas que encontraram abrigo nos campos de ajuda ou nas igrejas estão todas muito próximas. Nas paróquias pedimos aos padres que verifiquem se as pessoas estão usando máscaras ou se de alguma forma conseguem manter a distância. O que vemos é que pelo menos cada família ocupa um canto das instalações em que está alojada e consegue manter-se relativamente afastada uma da outra. Tentamos fazer o que podemos com o que temos mas, claro, esta calamidade torna tudo mais difícil, também a possibilidade de ajudar. Não temos eletricidade. Foi-nos dito que outro tufão chegará, ainda que seja mais fraco do que este. Penso que as pessoas ficarão ainda mais tempo nos centros de evacuação. Os hospitais também foram danificados, os telhados arrancados e sem eletricidade, o que torna tudo mais complicado.