No tuíte desta sexta-feira (06) o Papa Francisco recorda a celebração do “Dia Internacional para a prevenção da exploração do meio ambiente em tempo de guerra e conflito armado”. A data é celebrada pela ONU desde 2001. Entrevista com o padre Kureethadam: “Deus quis que vivêssemos nesta lar comum como irmãos e irmãs, como uma só família humana”
Adriana Masotti/Jane Nogara – Vatican News
“A guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. Se quisermos um desenvolvimento humano integral autêntico para todos, é preciso continuar incansavelmente no esforço de evitar a guerra”. Palavras do Papa Francisco no seu tuíte desta sexta-feira 6 de novembro por ocasião da celebração do Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempo de Guerra e Conflito Armado celebrado pela ONU desde 2001.
O objetivo deste Dia promovido pela ONU é sensibilizar a comunidade internacional para os efeitos nocivos ao meio ambiente dos conflitos que ainda hoje persistem. Porque, afirma a ONU, as guerras não só fazem vítimas entre soldados e civis com armas, mas também matam ou põem em risco suas vidas através da destruição dos recursos naturais, do empobrecimento da terra e da impossibilidade de cultivar terras agrícolas, do desmatamento, da desertificação e da exposição das pessoas ao amianto e outras substâncias tóxicas, como o níquel e o chumbo.
ONU: prevenir os conflitos também para proteger o ambiente
A mensagem que a Assembleia da ONU pretende enviar promovendo este Dia é garantir que a proteção ambiental faça parte das estratégias mais amplas de prevenção de conflitos e manutenção da paz. Segundo o site das Nações Unidas sobre o Dia de hoje “a humanidade sempre contou suas vítimas de guerra em termos de mortos e feridos, cidades destruídas, meios de subsistência destruídos. No entanto, o meio ambiente tem sido muitas vezes a vítima esquecida. Poços de água contaminados, plantações queimadas, florestas derrubadas, solo envenenado e animais abatidos, tudo isso aproveitado para fins militares”. E continua afirmando “além disso, como aponta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pelo menos 40% dos conflitos internos nos últimos 60 anos foram relacionados à exploração dos recursos naturais, tanto por seu ‘grande valor’, como madeira, diamantes, ouro, minerais ou petróleo, quanto por sua falta, como terra fértil e água. O risco de uma recaída neste tipo de conflito pelos recursos naturais é duas vezes maior do que em outros casos”.
Conflitos e ambiente: tema de grande atualidade
Padre Joshtrom Kureethadam, coordenador do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral no Vaticano, considera a iniciativa “muito oportuna” e recorda: “É um tema antigo porque já na Bíblia, no Deuteronômio, sobre o cerco de uma cidade durante um longo período, é recomendado não cortar suas árvores e não envenenar os poços, pois como sempre na guerra junto com a humanidade também a natureza sofre. Mas é também uma questão de grande atualidade. Tivemos recentemente, por exemplo, as Guerras do Golfo. As bombas caíam no deserto porém mais tarde, quando nevou no Himalaia, a milhares de quilômetros de distância, a neve era preta, porque o impacto ambiental tinha chegado até lá, na Índia”. Em geral, continua Pe. Kureethadam, pensa-se que “a guerra é uma coisa entre os seres humanos, mas além das comunidades que sofrem, e em particular os irmãos e irmãs mais vulneráveis, a natureza também sofre e então as consequências caem sobre nós, sobre as populações”. Portanto, precisamos divulgar e debater cada vez mais sobre este tema”.
Santa Sé: favorecer a abordagem multilateral e o colóquio
Hoje, apesar dos esforços de várias agências da ONU e da adoção de novos instrumentos de proteção jurídica, o meio ambiente continua a sofrer o impacto de conflitos armados em todo o mundo. O que mais poderia ser feito? O padre Kureethadam responde à nossa pergunta. “Os instrumentos jurídicos”, responde, “existem, mas cabe às Nações Unidas garantir, de alguma forma, que a comunidade internacional respeite essas leis, mas sua implementação ainda deixa muito, muito a desejar”. O que a Santa Sé sempre apoiou é uma abordagem multilateral através do colóquio, o que é muito relevante. O colóquio acontece quando consideramos o outro igual a nós, como irmão e irmã, mas também quando vemos todos como irmãos. O Papa Francisco defende este conceito de amor comum, amor público, diria até amor político, que podemos colocar em prática também na esfera da sociedade civil. Então o caminho principal permanece sempre o do colóquio, de caminhar juntos, porque Deus quis que vivêssemos nesta lar comum como irmãos e irmãs, como uma só família humana”.