Neste domingo (15), a data instituída pelo próprio Pontífice foi celebrada na Basílica de São Pedro ao lembrar também dos milhões de novos pobres que surgiram com o pandemia. Francisco insistiu para sermos servos fiéis a Deus, estendendo a mão aos pobres que encontramos diariamente: “peçamos a graça de ver Jesus nos pobres”, “a graça de sermos cristãos não em palavras, mas em obras”.
Andressa Collet – Vatican News
O Dia Mundial dos Pobres deste ano está sendo vivido em contextos desafiadores sobretudo porque a pandemia, segundo dados do Banco Mundial, já fez mais de 100 milhões de novos pobres. No Vaticano, neste domingo (15), o tradicional almoço comunitário com o Papa foi cancelado, mas Francisco presidiu uma missa especial pela data na Basílica de São Pedro, respeitando as medidas sanitárias para prevenir a Covid-19. Cem pessoas carentes participaram da celebração ao representar os pobres do mundo inteiro.
A parábola dos talentos
Na homilia, ao comentar a parábola dos talentos (Mt 25, 14-30) do Evangelho do dia, o Pontífice refletiu sobre o início, o centro e o fim da vida. O início, quando o patrão confiou os talentos, ou seja, as riquezas monetárias aos servos, também Deus o fez conosco:
O Papa destacou a importância de sempre lembrar dessa graça recebida, ao invés de olhar para a nossa vida e ceder à tentação que, o próprio Pontífice define como “quem dera…”: quem dera se eu tivesse aquele emprego, aquela lar, dinheiro e sucesso, se não tivesse tal problema, quem dera que eu tivesse pessoas melhores ao meu redor. Essa é a “ilusão do ‘quem dera’”, enalteceu Francisco, que nos impede “de ver o bem e nos faz esquecer os talentos que possuímos”.
A fidelidade a Deus é servir aos pobres
O Pontífice então abordou o centro da parábola: a atividade dos servos, isto é, o serviço, que representa a nossa atividade, que faz frutificar os talentos e dá sentido à vida. Um estilo de serviço identificado pelos servos bons que, no Evangelho, “são aqueles que arriscam”, disse Francisco. Por exemplo, se não se investir e não se fazer o bem, ele acaba se perdendo:
Segundo o Evangelho, recordou o Papa, “não há fidelidade sem risco”: “é melancólico quando um cristão se coloca à defesa, prendendo-se apenas à observância das regras e ao respeito dos mandamentos. Isso não basta!”, disse Francisco, pois são cristãos que sempre têm medo do risco, são “mumificados”. O servo preguiçoso da parábola, por exemplo, escondido atrás de um medo inútil, foi classificado de mau:
“E, contudo, não fez nada de mal… É verdade! Mas, de bom, também não fez nada. Preferiu pecar por omissão do que correr o risco de errar. Não foi fiel a Deus, que gosta de Se dar; e fez-Lhe a ofensa pior: devolver-Lhe o dom recebido. Ao contrário, o Senhor convida a envolver-nos generosamente e a vencer o temor com a coragem do amor, a superar a passividade que se torna cumplicidade. Nestes tempos de incerteza e fragilidade que correm, não desperdicemos a vida pensando só em nós mesmos, com aquela postura da indiferença.”
A fidelidade a Deus é servir aos pobres, que estão ao centro do Evangelho, que nos enriquecem no amor, salientou o Papa, sobretudo se pensamos a quem devemos servir durante o Natal:
“A maior pobreza que devemos combater é a nossa pobreza de amor. O livro dos Provérbios elogia uma mulher diligente e caritativa, cujo valor é superior ao das pérolas: devemos imitar esta mulher que, como diz o texto, ‘abre a mão ao indigente’ (Prv 31, 20). Em vez de exigir o que te falta, estende a mão a quem passa necessidade: assim multiplicarás os talentos que recebeste.”
A graça de ver Jesus nos pobres
Ao final da parábola ou no fim da vida e “do espetáculo”, como disse o Papa citando São João Crisóstomo, será retirada “a máscara da riqueza e da pobreza”, será desvendada a realidade do poder e do dinheiro ou das obras do amor e da doação. “Se não queremos viver pobremente, peçamos a graça de ver Jesus nos pobres, servi-Lo nos pobres”, comentou Francisco, que finalizou a homilia trazendo o exemplo de servos fiéis de Deus que não se falam, como no Padre Roberto Malgesini: