O povo iraquiano é um campo de batalha, quem ajuda os refugiados?

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“Vocês são um campo de batalha”. Com estas palavras no final da Audiência Geral da última quarta-feira (26), o Papa Francisco saudava um grupo de peregrinos provenientes do Iraque. Entrevista com o padre Mario Cornioli, sacerdote Fidei donum em Amã, na Jordânia, que ajuda os numerosos refugiados iraquianos que passam pela Jordânia, fugindo da guerra

Antonella Palermo – Cidade do Vaticano

Ao renovar as orações pelo Iraque, país que o Papa pretendia visitar neste ano, Francisco saudou os fiéis, presentes na Audiência Geral da última quarta-feira (26) definindo-os com tristeza “um campo de batalha”. Manifestou a sua proximidade e disse: “Vocês sofrem uma guerra de um lado e do outro”. Sobre as recaídas da guerra na vizinha Jordânia, o padre Mário Cornioli, Fidei donum em Amã, a serviço do Patriarcado de Jerusalém na paróquia de São José fala sobre sua missão no campo de refugiados.

A extraordinária acolhida da Jordânia

“O povo iraquiano é um povo extraordinário e não merece viver neste campo de batalha”, afirma com muita dor o sacerdote italiano em missão na Jordânia. “Aqui nós vivemos as consequências. Chegaram muitos refugiados, iraquianos e sírios. Trabalhamos principalmente com os iraquianos. A resposta da Jordânia foi extraordinária ao acolher estes irmãos que fugiam da guerra. Já faz cinco anos que os ajudamos. Porém a emergência continua. Muitos, depois de serem acolhidos nas paróquias, foram acomodados em casas, moram nos bairros mais pobres de Amã, mas ao menos alguém cuida deles com projetos que vão além da emergência”.

Aqui é sempre uma “quaresma”

Padre Cornioli esclarece que para estes refugiados “A Jordânia é um país de trânsito. Quando chegam aqui – explica – logo fazem o pedido para ir para a Austrália, principalmente, porque há menos restrições, ou o Canadá e os Estados Unidos. Muitas famílias conseguiram partir e isso dá oportunidade a outras que precisam partir. Portanto o fluxo ainda continua e continuará enquanto não houver paz e estabilidade. Atualmente não há futuro no Iraque”. Padre Mário chega a afirmar que “o maligno se instalou naquela terra e não cessa de causar mal”. Por isso convida a rezar. “Iniciamos a Quaresma nesta quarta-feira, mesmo se aqui, para nós, é sempre quaresma, porque as próprias famílias jordanianas, mesmo vivendo em condições aceitáveis, passam por muitas dificuldades econômicas, não é fácil. Rezemos para que realmente esta quaresma possa se concluir com a Páscoa da ressurreição para todos”.

Os projetos de Habibi Valtiberina (HAVA)

O padre Cornioli fala sobre vários projetos levados adiante junto com aassociação Abibi Valtiberina que trabalha para sustentar as famílias iraquianas que fugiram das perseguições do ISIS, e a população local mais vulnerável. Trata-se iniciativas que pretendem promover a colocação no mundo do trabalho, com o objetivo de dar-lhes competências técnicas para adquirir uma maior autonomia econômica e melhorar a qualidade de vida. “Estamos celebrando quarto ano do projeto do ateliê de moda Rafedin”, conta o sacerdote. Rafedin significa “os dois rios”, o Tigre e o Eufrates que contornam a Mesopotâmia, a terra do Iraque e este foi o nome escolhido pelas jovens iraquianas para recordar a sua terra. Nestes quatro anos cerca de sessenta jovens puderam aprender a costurar e atualmente temos cerca de vinte jovens no nosso ateliê.

Sem a Igreja os refugiados não teriam dignidade

“Agradecemos à Conferência Episcopal Italiana pela ajuda recebida, com a qual abrimos uma pizzaria e um restaurante, e cursos a produção de queijo e ricota de ovelha com as mulheres jordanianas. Estamos trabalhando muito para ajudá-los com dignidade”, conta ainda padre Mario, agradecendo a contribuição de alguns voluntários internacionais, franceses em particular. “Para as crianças abrimos uma escola informal frequentada por 406 crianças. Os refugiados iraquianos não têm os status de refugiados, mas de requerentes de asilo, o que não lhes permite trabalhar, frequentar as escolas, ou ter acesso aos serviços de saúde. Portanto se a Igreja não os ajuda ninguém o fará. Nós estamos aqui, com estes nossos irmãos, para lhes dizer que Deus não os abandonou. Rezem por nós”.

 

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