O suicídio: último grito por socorro

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O suicídio sempre existiu. As culturas mais arcaicas registram a ocorrência de autoextermínio, embora, tais registros, como ainda ocorre atualmente, sejam marcados por muita discrição, afinal, trata-se de uma situação complexa e de difícil análise.
Nos últimos séculos o suicídio tem sido estudado de forma mais técnica por pesquisadores que tentam compreender para superar os estigmas, medos, preconceitos e obscurantismo que frequentemente marcam esta melancólico realidade. Neste artigo avaliaremos três aspectos, sem prejuízo de tantos outros, relativos ao tema.

O primeiro aspecto remete à importância de termos cuidado com relação à depressão e outros transtornos psicoemocionais que podem levar ao suicídio. Muitas vezes a sociedade trata as patologias psicológicas e emocionais como fraqueza ou falta de Deus, e isso é um imenso e perigoso erro.

Os transtornos psíquicos são reais e devem ser enfrentados como doenças a serem tratadas. Não representam fraquezas das quais se deve envergonhar ou erros de caráter a serem mantidos escondidos. Por inúmeras razões, que não dependem diretamente da própria pessoa, alguém pode adoecer psicologicamente e é preciso que haja liberdade para buscar ajuda, muitas vezes profissional e cuidado sincero com a pessoa que sofre. Nada de pensar e falar que se trata de preguiça, falta de fé, moleza… A melhor ajuda é o acolhimento e o encaminhamento da pessoa para tratamento.

O segundo aspecto está ligado ao sentido da vida. Deve haver grande cuidado com a formação de um sentido para a vida, de um projeto para o existir. A vida não pode simplesmente acontecer, não pode ir passando sem um propósito. A falta de sentido gera um vazio que pode levar à desvalorização da vida.

Todos somos responsáveis por criar ambientes que fomentam os sonhos, os ideais, a certeza de que vale a pena lutar por dias melhores. A crença em um amanhã melhor, a batalha diária para chegar a um objetivo, o sentimento de pertença a algo maior e mais forte orientam as escolhas e geram motivos para levantar a cada manhã e lutar, apesar das adversidades inevitáveis da vida. É preciso aprender e ensinar (é preciso cultivar!) sobre ter projeto de vida. A vida precisa ter sentido.
O terceiro aspecto trata das pressões sociais e artificialmente criadas e impostas sobre as pessoas. As convenções sociais; a necessidade de responder a certo padrão; o império da aparência sempre perfeita, especialmente ditado pelas redes sociais, geram em algumas pessoas um sentimento de impotência e angústia que pode levar à fragilização emocional ou à impressão de não haver saída viável para vida.

As pressões sociais devem ser filtradas a fim de não massacrar e oprimir; portanto, é relevante ter atenção sobre este ponto e criar mecanismos que permitam às pessoas ser o que são, sem reservas e máscaras. Todos precisam de momentos de liberdade e descontração; todos precisam de válvulas de escape para transparência.

Por fim, em regra, o suicídio é grito alto de alguém que sussurrou várias vezes e de diversas formas. O desafio é abrirmos nossos ouvidos e nossa sensibilidade para escutar e levar a sério as manifestações discretas de alguém que precisa de acolhimento e ajuda. Deixemos de lado os preconceitos e as certezas que distanciam e cultivemos a proximidade que se faz amor-cuidado com a vida.

Por José Luciano Gabriel – Diácono Permanente da Diocese de Gov. Valadares/MG, Professor, Advogado. Blog: jlgabriel.blogspot.com.br | e-mail: [email protected]

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