Na manhã de quinta-feira, 27, o Papa Francisco recebeu no Vaticano uma delegação do Movimento Católico Global pelo Clima (MCGC). Uma oportunidade para compartilhar os frutos do trabalho de cinco anos desde a sua fundação. O Vatican News conversou com seu diretor executivo, Tomas Insua.
Antonella Palermo – Cidade do Vaticano
O Movimento Católico Global pelo Clima (Global Catholic Climate Movement) nasceu dois meses antes da publicação da Encíclica Laudato Si, fazendo-se promotor do conhecimento e da aplicação desse documento. Para compartilhar o compromisso desses cinco anos, o Papa Francisco recebeu no Vaticano uma delegação de doze membros. O argentino Tomas Insua, diretor executivo do Movimento, fala de “um bellíssimo encontro”.
R: – O encontro foi planejado para compartilhar com o Papa os frutos dos primeiros cinco anos do Movimento. De fato, nós o fundamos em janeiro de 2015, dois meses antes da publicação da Encíclica Laudato Si, no dia em que o Papa chegou em Manila, nas Filipinas, tanto que o cardeal Tagle nos acompanhou na audiência de ontem. Podemos dizer que foi o ‘patrocinador’ que acompanhou nosso caminho desde o início. O Papa nos agradeceu por nosso trabalho, nos encorajou neste serviço à Igreja, nos disse para aprofundar e seguir em frente.
Como vocês receberam o texto da Exortação pós-sinodal “Querida Amazônia”?
R: Na verdade, digo que lamento que a cobertura da mídia tenha se concentrado somente no quarto capítulo e no celibato dos padres. Os jornalistas falaram muito pouco sobre os outros pontos relacionados aos sonhos ecológicos e sociais. Ficamos muito satisfeitos em ver como Laudato Si foi aplicada a um território particular, e a denúncia por parte do Papa dos ataques aos povos indígenas e a seus territórios. São crimes e injustiças, como escreveu Francisco. A Laudato Si é um convite ao diálogo, mas isso é reafirmado com mais força na Exortação: o diálogo deve começar com os últimos, com aqueles que são mais atingidos.
Quais são os projetos nos quais vocês estão mais envolvidos atualmente?
R. – Temos um programa para animadores Laudato Si – conversamos sobre isso também com o Papa – temos cerca de 2000 animadores locais, líderes nas paróquias, escolas, comunidades católicas em mais de cem países do mundo. Nós fornecemos suporte para eles. Trata-se de uma formação on-line para aprofundar os conteúdos da Encíclica, mas sobretudo para colocá-la em prática. O objetivo é fazer com que surjam projetos no âmbito das próprias comunidades. Por exemplo, em colaboração com a Diocese de Roma, organizamos um retiro em Assis para os dias 7 e 8 de março. Depois há a iniciativa, lançada no ano passado pelo próprio Pontífice do ‘Tempo da criação’. De 1° de setembro a 4 de outubro de cada ano, quer ser um momento especial em que celebramos juntos a criação, rezamos juntos pela criação, agimos juntos pela criação. É uma iniciativa ecumênica, que teve sua inspiração original no âmbito ortodoxo.
Greta Thunberg participará da reunião semanal da Comissão Europeia dedicada à legislação sobre o clima em 4 de março e estará na reunião da Comissão do Meio Ambiente (ENVI) do Parlamento Europeu. Como você avalia seu trabalho de mobilização em todo o mundo sobre os riscos da crise climática?
A: – Tive a graça de acompanhar Greta em seu breve encontro com o Papa há um ano. Para mim, é importante não falar da Greta em si, mas enquanto representante de uma geração que realmente teme por seu futuro. Greta fala em nome dos jovens e diz as mesmas coisas sobre as quais os cientistas nos alertam. O fato de ser uma garotinha catalisa mais a mídia, só isso. Considero sua mobilização muito positiva, está mudando a opinião pública sobre o tema, na Alemanha e em outros lugares, por exemplo, a questão da crise climática está sendo levada muito mais a sério. Poucos outros tiveram sucesso nesse testemunho profético. Isso é maravilhoso.
Temos visto circular imagens da Antártica, quase sem mais gelo. O que pode ser feito?
A: – Infelizmente, são sinais muito claros dos tempos. Isso é muito grave. Estamos em uma espiral de autodestruição. Talvez não estejamos plenamente conscientes disso. Cidades como Veneza sofrerão as conseqüências do aumento do nível do mar. É preciso mudar nosso estilo de vida para torná-lo mais sustentável. Devemos aprofundar nossa conversão ecológica, o que o Papa Francisco nos convida a fazer. Precisamos ter uma mudança dos corações e uma conexão real com a criação.
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Papa Francisco com membros Global Catholic Climate Movement