Recordando vários discursos do Papa Francisco sobre esse tema, dom Jurkovič ressaltou que não obstante os progressos significativos no reconhecimento dos direitos das pessoas portadoras de deficiência, as percepções negativas arraigadas no valor de suas vidas continuam sendo um obstáculo social.
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano
Não existe vida humana mais sagrada que outra, assim como não existe vida qualitativamente mais significativa que outra. Integrar as pessoas com deficiência, pois elas são portadoras de direitos inalienáveis, riqueza e contribuição humana e social, esses sempre foram os pedidos da Santa Sé.
Foi o que disse o observador permanente da Santa Sé, dom Ivan Jurkovič, a outras organizações internacionais, em Genebra, durante a 43ª sessão do Conselho de Direitos Humanos que abordou o tema dos direitos da pessoas com deficiência.
Recordando vários discursos do Papa Francisco sobre esse tema, dom Jurkovič ressaltou que não obstante os progressos significativos no reconhecimento dos direitos dessas pessoas, as percepções negativas arraigadas no valor de suas vidas continuam sendo um obstáculo social.
O Papa Francisco definiu isso como uma “visão muitas vezes narcisista e utilitarista” que leva, infelizmente, “muitos a considerar marginais as pessoas com deficiência, sem ver nelas a riqueza humana e espiritual multiforme”.
A bioética a serviço do ser humano não do lucro
Outro ponto delicado que dom Jurkovič evidenciou foi “a relação estreita mas conflituosa” entre as perspectivas da bioética e a promoção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência que, ao invés, deveriam encontrar um fundamento coerente no reconhecimento e no respeito da dignidade intrínseca da pessoa humana.
Também nesse caso, emerge o magistério do Papa Francisco que incentiva “ao respeito pela integridade do ser humano e à assistência de saúde desde a concepção até a morte natural, considerando a pessoa como um fim e não como um meio”, frisou o prelado.
“A bioética, disse o Papa em 2016 à Comissão Italiana de Bioética, nasceu para confrontar, através de um esforço crítico, as razões e condições exigidas pela dignidade da pessoa humana com o desenvolvimento das ciências e tecnologias biológicas e médicas, que em seu ritmo acelerado, correm o risco de perder toda referência que não seja a utilidade e o lucro”.
As leis não são suficientes, é necessária uma mentalidade diferente
Dom Jurkovič expressou grande preocupação com as práticas atuais de “rastreamento genético pré-natal” que, segundo ele, podem reforçar a mensagem de que as pessoas portadoras de deficiência “nunca deveriam ter nascido” e, portanto, levar a medidas de aborto forçado de crianças com doenças debilitantes.
Portanto, a Santa Sé recusa inequivocamente qualquer forma de eutanásia e suicídio assistido e expressa sua firme convicção de que “não há vida humana mais sagrada que outra e qualitativamente mais significativa que outra”.
Assinar esta posição na sede da ONU são mais uma vez as palavras do Papa extraídas, neste caso, da mensagem para o Dia Mundial da Deficiência 2019: “Fazer boas leis e quebrar barreiras físicas é importante, mas não são suficientes, se também não mudar a mentalidade, se não se superar a cultura difundida que continua produzindo desigualdades, impedindo que as pessoas com deficiência participem ativamente da vida cotidiana”.