A oração que brota da alma, lembrando as palavras de Santa Teresa: “rezar é estar a sós, muitas vezes, com aquele que sabemos que nos ama muito”.
A amizade exige conhecimento mútuo, amor recíproco; assim acontece na oração. As virtudes teologais: fé e caridade são os elementos básicos da oração entendida como comunhão de amizade com Deus. De vez em quando, a oração torna-se o colóquio silencioso, contemplativo: um simples olhar que penetra a verdade de Deus e dos seus mistérios, e o saboreia. A oração é verdadeira comunhão e comunicação de amizade: quanto mais a criatura contempla o seu Deus, tanto mais dele se enamora e mais necessidade sente de dar-se a Ele com generosidade total.
De outra parte, Deus mesmo se lhe dá, comunicando-lhe sua luz e atraindo-a mais fortemente a si com seu amor e sua graça. “Se a alma busca a Deus, muito mais a busca o seu amado” (São João da Cruz, Chama Viva de Amor 3, 28).
Consiste a oração, diz Santa Teresa, não em falar muito, mas em amar muito. Ao falar de oração, “ter sempre presente Jesus Cristo ajuda em qualquer estado e é meio seguríssimo de progredirmos rapidamente” (Vida 12,3). Ele, conclui ela: ajuda, encoraja, jamais decepciona, é amigo fiel.
Quem toma Cristo como guia da própria oração segue caminho seguríssimo e pode repetir como o salmista: “o Senhor é meu pastor, nada me falta; em verdes pastagens me faz repousar, conduz-me às águas tranquilas. Restaura as forças da minha alma” (Sl 23,1-3).
Ensinando as filhas a fazer oração, diz Santa Teresa: “pois estais sós, buscai companhia. E que melhor haverá que a do divino Mestre? … Não exijo agora que formeis altas e delicadas considerações … só vos peço que O olheis … se estais alegres, contemplai-o ressuscitado … se estais com trabalhos e tristezas, considerai-o a caminho do Horto… ou então considerai-O com a Cruz às costas … vendo-O em tal estado, vosso coração se enternecerá, e então não só O olhareis, mas vos virá vontade de Lhe falar … não com orações compostas, mas com palavras brotadas do coração, o que Ele muito consideração” (Caminho de Perfeição 26, 1-6).
Eis o método de oração muito eficaz e simples, que ajuda o cristão a identificar-se com Cristo, a viver seus mistérios, e não só na oração, mas na vida diária.
“Não há pai, não há mãe, nem amigo, nem ninguém, que nos tem amado tanto como vós, ó Senhor, que nos criastes e nos salvastes no Seu Filho Jesus Cristo” (R. Jordão, Contemplações sobre o Amor Divino 5, página 49-50), pois em Deus seus atributos são infinitos.
Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (21ª Parte).