CF-2022: Fraternidade e Educação

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Quaresma

Estamos na Quaresma, tempo favorável para a conversão do coração, deixando de lado o individualismo, vivendo a solidariedade em colóquio e como compromisso de amor.
Desde 1964, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade como um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal, com o objetivo de despertar a solidariedade dos fiéis em relação a um problema social concreto, buscando caminhos de solução à luz do Evangelho. Ela é realizada durante a Quaresma, mas não se reduz a ela. Em 2022, vamos refletir sobre a educação em nosso país, convictos de que ela é indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno.

A realidade da educação nos interpela e exige profunda conversão de todos, mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal e integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania, que nos ajude a crescer na vivência do amor, do cuidado e da fraternidade, que esteja alicerçada na justiça e na paz.

Educar é um ato eminentemente humano, mas também é uma ação divina. Com essa certeza, a CF-2022 nos convida a refletir sobre a indispensável relação entre fraternidade e educação, pois o mundo está diante de um grande desafio: redescobrir caminhos para uma reconstrução que não é parcial, mas global, que exige uma educação para a fraternidade, o colóquio, a reciprocidade.

Essa é a razão pela qual a CF-2022 nos convoca a refletir sobre os fundamentos do ato de educar, nos adverte que mais relevante e urgente é a pergunta pelos motivos, pela abrangência e pelas metas de qualquer processo educativo e nos recorda que educar não é um ato isolado: é tarefa da própria pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade, pois “é preciso uma aldeia para se educar uma criança” (Provérbio Africano).

À luz da Palavra de Deus, a Campanha da Fraternidade de 2022 quer nos ajudar a compreender duas lições sobre o ato de educar: o valor da pessoa como princípio da educação; e a correção não como repressão, mas como uma forma de orientar a pessoa no caminho de uma vida transformada, verdadeiramente convertida à luz da verdade.

Fraternidade e Educação

Educação é conduzir e acompanhar a pessoa para sair do não saber para o saber, rumo à consciência de si e do mundo em que vive. É tornar a pessoa consciente, para que se torne sempre mais sujeito de seus sentimentos, pensamentos e ações.
Nesse sentido, o ato de escutar é fundamental. Escutar é mais que ouvir. Escutar está na linha da comunicação; ouvir está na linha da informação. Escutar supõe proximidade, sem a qual não há verdadeiro encontro.
A realidade também nos fala através dos acontecimentos, das tendências, tensões sociais, ações solidárias, enfim, através de seus avanços e recuos. Escutar a realidade é perceber os sinais dos tempos. É uma escuta integral, com o ouvido e com o coração, a exemplo de Jesus, para perceber a vontade de Deus e os caminhos que podemos escolher. Porém, para escutar o “todo” é necessário não se perder diante de “tudo”; hoje, o excesso de informações, de notícias verdadeiras e falsas, é um grande desafio.

Durante a pandemia, vivemos uma crise particular de informações contraditórias sobre o que está acontecendo e sobre o que funciona e não funciona no enfrentamento do vírus. Isso nos leva a perceber que ampliar o volume e a circulação de informações é uma condição, mas não uma garantia da construção de uma sociedade com mais conhecimento, pois ‘mais conhecimento’ não significa ‘mais sabedoria’. O tipo de envolvimento com a informação e o tratamento que dispomos ao que nos foi informado é que pode garantir a construção de um novo conhecimento e uma postura de sabedoria diante da vida.

A formação humana integral nos conduz a refletir sobre as diversas formas de educar e construir as comunidades humanas, as sociedades e as civilizações, tecidas universalmente pelas relações pessoais e coletivas. Por isso, ela faz parte do reconhecimento mútuo entre as realidades sociais, culturais, econômicas, nas quais cada pessoa é levada a ampliar suas competências críticas em relação às suas próprias condições reais.
O ato educativo pressupõe ações amplas e complexas que exigem um reconhecimento do lugar que a pessoa ocupa na sociedade em que está inserida, tornando-se um agente que contribua com o desenvolvimento de uma cultura do acolhimento. Cada contexto educativo possui sua particularidade, seus desafios e sua contribuição potencial para a construção de uma sociedade fraterna.

Por Dom Félix – Bispo da Diocese de Gov. Valadares

Fonte

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