O “nosso” discernimento consiste na busca da vontade de Deus no ‘aqui e agora’ de nossa vida. São João Clímaco dizia: “O discernimento é definido como a compreensão da vontade divina em toda circunstância, lugar ou ação”. Nesse sentido, o Papa Francisco falava ao clero de Roma: ‘O discernimento é aquilo que concretiza a fé, que a torna ativa por meio da caridade, aquilo que nos permite dar um testemunho crível: eu te mostrarei a fé pelas minhas obras. O discernimento olha em primeiro lugar para o que agrada a nosso Pai, que vê o segredo, não olha para os modelos de perfeição dos paradigmas culturais. O discernimento é do momento porque está atento, como Nossa Senhora em Caná, ao bem do próximo que pode fazer com que o Senhor antecipe a sua hora, ou que salte um sábado para pôr em pé aquele que estava paralisado. O discernimento do momento oportuno (kairós) é fundamentalmente rico de memória e de esperança: recordando com amor, aponta o olhar com lucidez para o que melhor guia para a Promessa.
A vida segundo o Espírito nunca é vida acomodada; ela pede luta, empenho, perseverança. Deus nos treina para que saibamos combater e vencer. A caminhada espiritual é processo permanente de conversão à Bela Notícia do Reino de Jesus. A missão dos evangelizadores é acompanhar “a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam” (EG 24). Nesse processo, entra o discernimento! Abraão partiu sem saber aonde iria; pouco a pouco, compreenderá o chamado divino. Hoje, de maneira renovada e muito exigente, a nós de maneira própria, é pedido um “impulso missionário cada vez mais intenso, generoso e fecundo”; por isso “exorto também cada uma das Igrejas particulares a ingressar decididamente num processo de discernimento, purificação e reforma” (EG 30).
Nesse caminho, o divino Espírito nos conduz. Comentando o Salmo 35, João Paulo II, sem usar o termo discernimento, numa audiência geral (22/08/2001), disse: ‘Cada vez que tem início um dia de trabalho e de relacionamentos humanos, duas são as atitudes fundamentais que cada homem pode assumir: escolher o bem, ou então ceder ao mal. O Salmo 35, que acabamos de ouvir, apresenta precisamente estes dois perfis antitéticos. Por um lado, há quem, desde o seu leito, medita projetos iníquos; por outro, ao contrário, há quem procura a luz de Deus, fonte da vida. O abismo da malícia do ímpio opõe-se ao abismo da bondade de Deus, nascente viva que sacia e luz que ilumina o fiel.