“A barca, já distante da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário” (Mt 14,24)
As batalhas mais profundas do espírito (a quebra de limites da mente e dos costumes, o avanço sobre novos ideais e sonhos) se conquistam com a ousadia da coragem, com a força da fé, com a imaginação solta, com a criatividade livre e desimpedida.
Desafiando os medos aprende-se a ter coragem. Aceitar os medos é o caminho para tornar-se destemido. O conhecimento da própria fraqueza é a maior força.
Cada medo não resolvido é um peso na vida. É preciso descobri-los, identificá-los, nomeá-los e tomá-los do jeito que são até que se possa dissolvê-los em consciência e coragem.
Também a Igreja se mostra, muitas vezes, presa ao medo, matando seu espírito profético. Uma Igreja medrosa torna-se conivente com a cultura da violência e da morte. Quanto mais ela teme, mais se fecha e se entrincheira atrás de normas, doutrinas, ritos e proibições; e, quanto mais se entrincheira, mais frágil ela se torna.
A comunidade dos seguidores de Jesus é chamada por Ele: a viver contínuas travessias; a sair dos seus espaços estreitos e de normalidade doentia; a ser “provada” pelas tormentas e ventos contrários; a esvaziar sua barca de tantos pesos para poder fluir com mais leveza, levantando suas velas e aproveitando da força dos mesmos ventos.
É o mesmo Espírito de Jesus que sopra as velas da barca da Igreja, conduzindo-a para a “outra margem”, a margem do compromisso em favor da vida, com muito cuidado e sem medo.
Não podemos mudar o passado, mas podemos mudar o porvir. O porvir está em nossas mãos; ele depende do nosso esforço pessoal e da graça divina, que nunca nos faltará. O porvir da Igreja também está em nossas mãos; é Jesus quem está no leme, mas somos nós que devemos remar, com cuidado, mas sem medo.
Fonte: Artigo do Pe. Adroaldo Palaoro, SJ.
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