“Fala, Senhor! Teu servo escuta” (1Sm 3,10). Falando da importância da Palavra de Deus como alimento da vida espiritual, diz o Concílio: “A leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada da oração, a fim de que possa desenvolver-se em colóquio entre Deus e o homem; pois que quando rezamos, falamos com Deus; escutamo-lo, quando lemos os oráculos divinos” (DV 25). Serve a leitura de iniciação, ponto de partida para o colóquio interior: a palavra escrita torna-se então palavra viva que Deus mesmo ilumina no fundo do espírito recolhido, dando-lhe a compreender o sentido e as aplicações práticas na vida cotidiana. Assim, da leitura passa o orante à atitude de Maria de Betânia “que, sentada aos pés de Jesus, ouvia sua palavra” (Lc 10,39). Trata-se da atenção amorosa que Jesus definiu a “única coisa necessária” e “a melhor parte” (Lc 10,42), entendo dizer que vale mais uma hora a ouvir a palavra de vida eterna que mil ocupações materiais.
Espontaneamente, depois de ouvir, entra o fiel em oração, que é sua resposta à palavra e à luz do Senhor: é adesão, aceitação, abandono, ímpeto de amor para com Deus, renovado fervor no seu serviço, bons propósitos, ação de graças. A Sagrada Escritura e, particularmente, o Evangelho, as orações do Missal e a Liturgia das Horas oferecem os mais belos e eficazes temas de meditação, justamente por serem palavra de Deus e palavra da Igreja.
Referindo-se o Concílio aos religiosos, diz: “Tenham diariamente em mãos a Sagrada Escritura, a fim de que, da leitura e da meditação dos livros sacros, aprendam a supereminente ciência de Jesus Cristo (PC 6); aos clérigos recomenda “penetrarem sempre melhor a palavra de Deus revelada, torná-la própria com a meditação” (OT 4), e não de outro modo fala aos leigos ao afirmar que “somente na meditação da palavra de Deus” (AA 4) aprenderão a buscar e a reconhecer o Senhor em todas as circunstâncias da vida. A finalidade da meditação é conhecer melhor a Deus para amá-lo mais ou, como diz São João da Cruz, “haurir um pouco de conhecimento e amor de Deus” (Santa Teresa, Subida do Monte Carmelo II, 14,2).
“É mais precioso e vale mais ouvir uma só de vossas palavras, estabelecer convosco corrente de atenção interior, que tudo o que quisera o meu amor oferecer-vos. Eis o grande mérito de Maria, eis a ótima parte que recebeu e não lhe será tirada. Também vos ouça eu, também vos saiba ouvir, ó Mestre!”
Por Dom Félix – Bispo da Diocese de Gov. Valadares
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (16ª Parte).