“Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1Cor 5,7), realiza-se também a obra da nossa Redenção” (LG 3).
Podemos dizer não só que cada um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade conosco: “chamei-vos amigos” (Jo 15,14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: “o que me come viverá por mim” (Jo 6,57). Na comunhão eucarística realiza-se de modo sublime a inabitação mútua de Cristo: “permanecei eu mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15,4).
Deste modo, a Eucaristia apresenta-se como fonte e cume de toda evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n’Ele, com o Pai e com o Espírito Santo. A Eucaristia consolida a incorporação em Cristo realizada no batismo pelo dom do Espírito Santo (1Cor 12,13.27).
A integridade dos vínculos invisíveis é um dever ética concreto do cristão que queira participar plenamente da Eucaristia comungando o corpo e o sangue de Cristo. Tal dever recorda o apóstolo Paulo com a seguinte advertência: “examine-se cada qual a si mesmo”; então, “coma desse pão e beba desse cálice” (1Cor 11, 28). Com a sua grande eloquência, São João Crisóstomo assim exortava os fiéis: “também eu levanto a voz e vos suplico, peço e esconjuro para não vos abeirardes desta Mesa sagrada com uma consciência manchada e corrompida. De fato, tal aproximação nunca poderá chamar-se comunhão, ainda que toquemos mil vezes o corpo do Senhor, mas condenação, tormento e redobrados castigos”.
A Eucaristia cria comunhão e educa para comunhão. Ao escrever aos fiéis de Corinto, São Paulo fazia-lhes ver como as suas divisões, que se davam nas assembleias eucarísticas, estavam em contraste com o que celebravam, a ceia do Senhor. E convidava-os, por isso, a refletirem sobre a verdadeira realidade da Eucaristia, para fazê-los voltar ao espírito de comunhão fraterna (1Cor 11,17-34). Quem recebe o sacramento da unidade, sem conservar o vínculo da paz, não recebe um sacramento para o seu benefício, mas antes uma condenação.
Quando se considera a Eucaristia como sacramento da comunhão eclesial, há um tema que, pela sua importância, não pode ser transcurado: refiro-me à sua relação com o empenho ecumênico.
Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (6ª Parte).