Discurso do Papa João Paulo II sobre a Família aos Bispos do Leste em 22/11/2002
A ocasião é propícia para uma nova evangelização dos batizados, quando se aproximam da Igreja para pedir o sacramento do matrimônio. Neste sentido, chama à atenção a educação escolar e superior que, mesmo tendo dado passos significativos, carece da correlativa evolução na vida cristã das jovens gerações. Neste setor, as comunidades eclesiais têm um papel importante a desempenhar, pois, ao experimentar e testemunhar o amor de Deus, elas poderão manifestá-lo com eficácia e em profundidade àqueles que necessitam conhecê-lo. Uma proposta pastoral para a família em crise supõe, como exigência preliminar, uma clareza doutrinária, efetivamente ensinada no campo da Teologia Moral, sobre a sexualidade e a valorização da vida. As opiniões contrastantes de teólogos, sacerdotes e religiosos, divulgadas inclusive pela imprensa escrita e falada, sobre as relações pré-matrimoniais, o controle da natalidade, a admissão dos divorciados aos sacramentos, a homossexualidade, a fecundação artificial, o uso de práticas abortivas ou a eutanásia mostram o grau de incerteza e a confusão que perturbam e chegam a anestesiar a consciência de muitos fiéis.
Na base da crise, percebe-se a ruptura entre a antropologia e a ética, marcada por um relativismo moral segundo o qual se valoriza o ato humano, não com referência a princípios permanentes e objetivos, próprios da natureza criada por Deus, mas conforme a uma ponderação meramente subjetiva acerca do que é mais conveniente ao projeto pessoal de vida. Produz-se então uma evolução semântica em que o homicídio se chama morte induzida, o infanticídio, aborto terapêutico e o adultério passa a ser uma simples aventura extramatrimonial. Não havendo mais certeza absoluta nas questões morais, a lei divina torna-se uma proposta facultativa na oferta variada das opiniões mais em voga.
Certamente, devemos dar graças a Deus porque estão bem enraizadas as tradições religiosas da família mineira, donde surgem muitas vocações religiosas e para o Seminário. Mas, sem descurar as demais prioridades do trabalho pastoral – de modo especial a Pastoral vocacional e o acompanhamento e formação dos candidatos ao sacerdócio – é necessário um esforço generoso no amplo campo do apostolado da família através da catequese, das pregações, do aconselhamento pessoal.
(5ª parte do artigo sobre o “Discurso do Papa João Paulo II sobre a Família aos Bispos do Leste em 22/11/2002”).