Após a solenidade de Pentecostes, a declive do Espírito Santo sobre os apóstolos com Maria santíssima no cenáculo, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade, Deus Uno e Trino.
Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA
Pelo batismo nós fomos inseridos no mistério tão grandioso e tão próximo de nós, porque Ele mora em nossos corações. Nós somos chamados a viver a presença de Deis no mundo de hoje testemunhando com nossas orações e nossas vidas, Deus que é Pai, Deus que é Filho, Deus que é Espírito Santo, não sendo três deuses mas um único Deus em três Pessoas. É relevante perceber esta doutrina, em Santo Hilário, bispo de Poitiers, na França, século IV, niceno, que defendeu a divindade do Filho de Deus, sendo Este co-eterno com o Pai desde sempre. Ele lutou contra os arianos porque eles não consideravam a divindade do Verbo mas o seu ser criatura, de modo que Ele defendeu que o Filho é Deus desde sempre junto com o Pai e o Espírito Santo.. Este bispo desenvolveu muito o tema da grandeza na Santíssima Trindade. Veremos a seguir alguns dados sobre a grandeza em Deus.
A encarnação do Verbo, a glorificação pela cruz
O Filho de Deus fez-se homem para que crêssemos nele, e assim dar-nos testemunho das coisas divinas. Ele assumiu tudo aquilo que é nosso, realizando em si mesmo a vontade do Pai, conforme a sua palavra: “Vim fazer a vontade daquele que me enviou” ( Jo 6,38)[1]. Ele quis fazer a Vontade do Pai, obedecendo-a, com amor. O Bispo teve também presentes as palavras de Jesus na última ceia que disse: “Pai, chegou a hora, glorifica teu Filho para que teu Filho também te glorifique” (Jo 17,1-2). Ele diz que chegou a hora: mas de qual hora se trataria? A hora da glorificação, que será a sua elevação na cruz. “Eis que vem a hora em que será glorificado o Filho do Homem”(Jo 12,23)[2]. Esta é portanto a hora que o Filho roga ao Pai a fim de que o Pai seja glorificado por Ele. O significado dessas afirmações é que Aquele que há de ser glorificado será glorificado, o que há de prestar honra pede a honra[3]. Jesus pede ao Pai para que glorifique o Filho. Ele que nascera da Virgem Maria, fez-se homem, cresceu na família humana, e agora deveria passar pelo sofrimento, morte e cruz, para chegar à grandeza da ressurreição. É o Pai que glorifica o Filho na cruz[4].
As palavras do centurião
Santo Hilário de Poitiers falou também que as coisas se confirmaram pela glorificação do Filho pelo Pai quando o centurião romano ao guardar a cruz, e Aquele que lá fora crucificado, afirmou: “Verdadeiramente este era Filho de Deus” (Mt 27,54)[5]. O centurião proclamou a verdade de que Jesus é o verdadeiro Filho de Deus de modo que as palavras de Jesus foram confirmadas: “Glorifica o teu Filho” (Jo 17,1). Jesus declarou ser Filho, não só pelo nome, mas também pela natureza, pela origem, pela natividade, não por criação[6].
As posições de Santo Hilário contra o arianismo
Essas considerações especificaram a posição de Santo Hilário contra o arianismo afirmando a geração eterna do Filho para com o Pai. O Filho não é criatura, mas é eterno como o Pai é eterno, é eterno como o Espírito Santo é eterno. Se o Filho pede ao Pai que o glorifique, não era o fato de que fosse menor, afirmou o Bispo de Poitiers. O fato é que a honra do Pai não diminui a grandeza do Filho. A glorificação pedida pelo Filho ao Pai não admite diminuição, por isso, tendo dito, segundo o Bispo de Poitiers, porque o Senhor afirmou: “Pai, glorifica teu Filho, e em seguida acrescenta: para que teu Filho te glorifique”(Jo 17,1)[7]. Uma pessoa dará a grandeza à outra Pessoa. Por isso o pedido de glorificação a ser dada e retribuída não priva o Pai de nada, nem enfraquece o Filho; do contrário ela mostra a força da mesma divindade em ambos, quando não só o Filho pede ao Pai para que seja glorificado, mas também ao Pai não é recusada a grandeza que virá do Filho. A unidade de natureza entre o Pai e o Filho mostra-se pela reciprocidade da grandeza a ser dada e retribuída[8].
O sentido da grandeza em Deus
Santo Hilário aprofunda o sentido da grandeza. Como Deus é imutável, na eternidade não existe carência, necessidade de emenda, progresso ou dano. Aquele que sempre é não pode, por natureza, em tempo algum, deixar de ser[9]. O Pai é glorificado pelo Filho, pelo reconhecimento humano, de modo que é esta a grandeza que o Filho tenha recebido o poder sobre toda a carne, na qual Ele dá a vida eterna aos mortais[10]. A grandeza, segundo Santo Hilário não é acrescentada em Deus, mas pelo Filho, é glorificado em nós, tenebrosos, mas necessitados da graça de Deus. Pela obra do Filho, é glorificado o Pai, o Pai no Filho, pelo poder que o Filho recebeu sobre toda a criação, dando assim a vida eterna, como dom e como responsabilidade humana. O Filho é glorificado pelo Pai quando todas as coisas são feitas pelo Filho[11]
O Filho é da mesma natureza do Pai
O Filho é homoousion, isto é da mesma natureza do Pai. Esta foi a definição do Concílio de Nicéia(325) na qual Santo Hilário seguiu e assumiu a sua determinação, diante do arianismo, doutrina condenada pelo mesmo Concílio. A Igreja reconhece no creio professado pelas pessoas fiéis, um só Deus, de que tudo vem e Ela conhece um só Senhor, Jesus Cristo por meio de quem tudo vem[12].
A unidade na Trindade
O bispo de Poitiers afirmou a Unidade na Trindade. Um de quem tudo procede. Um de quem tudo foi feito, a origem de todas as coisas e que estão em Um só. Naquele que é Um, Deus, de quem tudo procede, reconhece o poder da inacessibilidade; no que é Um, por meio do qual tudo foi feito, o Senhor Jesus Cristo. Conhece a Igreja o Deus Espírito, impassível e indivisível. Desta forma a Igreja confessa pelo seu creio dos fiéis, o único Deus inacessível, confessando o Pai eterno e sem origem; confessa o Filho gerado desde toda a eternidade pelo Pai e do Espírito Santo do qual procede daquele que sempre existiu, o Espírito Santo, o amor do Pai e do Filho. Esta é a profissão de fé dos cristãos[13], católicos e católicas. Nós somos chamados a adorar a Unidade Onipotente de Deus Uno e Trino em todo o universo e Ela mora em nossos corações, famílias, comunidades, pessoas que procuram o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.
[1] Cfr. Santo Hilário de Poitiers. Tratado sobre a Santíssima Trindade, 3,9. São Paulo: Paulus, 2005, pg. 82.
[2] Cfr. Idem, 3,10, pg. 83.
[3] Cfr. Ibidem.
[4] Cfr. Ibidem, pg. 84.
[5] Cfr. Ibidem, 3,11, pg. 84.
[6] Cfr. Ibidem.
[7] Cfr. Ibidem, 3,12, pg. 85.
[8] Cfr. Ibidem.
[9] Cfr. Ibidem, 3,13, pg. 85.
[10] Cfr. Ibidem, 3,13, pg. 86.
[11] Cfr. Ibidem.
[12] Cfr. Ibidem, 4,6. pg. 102.
[13] Cfr. Ibidem, pg. 102.