A Arquidiocese do Rio de Janeiro celebrou neste domingo (8) uma missa em ação de graças pelo centenário de nascimento de dom Eugenio Sales, que esteve à frente da Igreja do Rio durante 30 anos. A vida e missão de dom Eugenio foram homenageadas na celebração presidida pelo arcebispo metropolitano, cardeal Orani João Tempesta, na Catedral de São Sebastião: “comemorar 100 anos é celebrar a sabedoria de quem soube manter a lâmpada acesa”, ao refletir sobre a parábola das dez virgens (Mateus 25, 1-13) e um cardeal que “deu preferência aos refugiados, pobres, pessoas em situação de rua, promovendo dignidade e direito à moradia das pessoas nas periferias”.
Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro
Gastar-se inteiramente por aqueles que Deus o confiava. O lema de episcopado de dom Eugenio de Araujo Sales se perpetua até os dias de hoje, mesmo após a partida para a eternidade, como um exemplo de fidelidade a Deus e à Igreja. Agradecendo ao Senhor pela vida e missão de dom Eugenio, a Arquidiocese do Rio de Janeiro celebrou a missa em ação de graças pelo centenário de nascimento daquele que esteve à frente da Igreja do Rio durante 30 anos.
Exemplo de fidelidade e união
Presidida pelo arcebispo metropolitano, cardeal Orani João Tempesta, a celebração foi realizada neste domingo (8), na Catedral de São Sebastião, e contou com a presença de bispos auxiliares, sacerdotes, colaboradores e fiéis. Na ocasião, dom Orani destacou os exemplos deixados pelo cardeal Sales:
Refletindo sobre a parábola das dez virgens (Mateus 25, 1-13), o arcebispo reforçou a importância da prudência. “Aproximamo-nos do fim de mais um ano litúrgico, que sempre nos recorda a necessidade de sermos vigilantes e de estarmos estar com nossas lâmpadas acesas. Isso requer uma sabedoria para que possamos nos movimentar neste mundo sem apagar nossa lâmpada, olhando para a luz de Cristo, sempre suprindo nossa vida com o olhar do Senhor. Comemorar 100 anos é celebrar a sabedoria de quem soube manter a lâmpada acesa”, destacou.
Porém, segundo o arcebispo, o episcopado de dom Eugenio não foi composto apenas de alegrias, mas, também, de muitos obstáculos: “a missão de dom Eugenio nem sempre foi fácil. Ele enfrentou diversas situações difíceis, mas soube viver com sabedoria porque, quem tem a lâmpada acesa, permanece seguro no Senhor. Ele deu preferência aos refugiados, pobres, pessoas em situação de rua, promovendo a dignidade e o direito à moradia das pessoas nas periferias. A arquidiocese tem uma história de lutas sociais muito antiga, não passando ao lado dos que sofriam, mas ajudando-os, seja de forma direta ou através das pastorais, movimentos e comunidades”.
Dom Orani também frisou os demais legados deixados por dom Eugenio:
“Ele não se descuidou da questão cultural, do colóquio com lideranças e autoridades, da comunicação – com o fortalecimento do jornal Testemunho de Fé e a criação da Rádio Catedral, que inicialmente era um canal também de alfabetização, de acesso à educação. Além disso, promoveu uma comunicação séria nas demais mídias, sempre preocupado com o bem estar social. Incentivou as missões, aderidas pelos padres e fiéis, que iam de lar em lar, evangelizando, chamando os demais à conversão.”
Para o cardeal Orani, “dom Eugenio foi um homem do seu próprio tempo, da realidade e que hoje celebramos sua vida na eternidade. Tenho certeza de que, ao partir, levou sua lâmpada acesa, a luz da fé, para ingressar na familiaridade com o Senhor, intercedendo por esse país e por essa Igreja”, finalizou.
Incansável pastor
O primeiro sacerdote ordenado pelo então arcebispo cardeal Sales, na Catedral recém inaugurada, dom Edson de Castro Homem, hoje bispo de Iguatu, no Ceará, comparou a missão de dom Eugênio tal como a de Moisés, no Egito. “Vejo dom Eugenio como uma liderança extraordinária, tanto no Rio de Janeiro como no Brasil. Comparo-o a Moisés, que conduziu o povo de Deus no deserto. Dom Eugenio conduziu bem a Igreja desta cidade em tempos tumultuados. Essa cidade nunca teve paz, alguns problemas ainda persistem, como a violência e o descaso das autoridades, mas ele usava da influência que tinha para ajudar a população carioca. Acredito que não teremos alguém como ele tão cedo no episcopado, porque Deus só nos manda homens assim de tempos em tempos”, afirmou.
O vigário da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Pe. Jorge (Jorjão) Luiz Neves Pereira da Silva, recordou um testemunho dado por dom Hélder Câmara:
Fundo Sacerdotal Cardeal Sales
O bispo auxiliar do Rio, dom Roque Costa Souza, abordou sobre a importância do Fundo Sacerdotal Cardeal Sales, como o legado deixado pelo arcebispo com relação às vocações. “Em 1994, minha turma foi ordenada por dom Eugenio e tivemos a oportunidade de celebrar nossos 10 anos de ordenação com ele, já como arcebispo emérito. Dom Eugenio tinha muita preocupação com a formação dos futuros padres e com a formação permanente do clero. Naquela época, e acontece ainda hoje, ele abriu o Seminário São José para acolher seminaristas de outros estados. Assim, muitos sacerdotes foram formados no Rio para servir o Brasil, sempre com a visão de Igreja aberta às necessidades de outras realidades. Recentemente, despertou no coração de dom Orani o desejo de continuidade dessa formação permanente, criando o Fundo Sacerdotal Cardeal Sales, com a preocupação de formar os futuros padres e leigos para o mundo”, completou.
Orações e homenagens
Após a celebração, dom Orani homenageou dom Eugenio em frente à estátua de São Francisco de Assis, situada no interior na Catedral, soltando uma pomba branca. Mais do que desejar um descanso de paz na eternidade, junto de Deus, dom Orani fez memória no dia da missa de exéquias de dom Eugenio, na Catedral, quando uma pomba branca ficou por muito tempo em cima do caixão.
Ainda na cripta, no subsolo da Catedral, onde estão sepultados os bispos e arcebispos do Rio de Janeiro, dom Orani presidiu um momento de oração e depositou flores no túmulo de dom Eugenio. O momento de oração foi acompanhado pelo clero e por parte dos fiéis que estavam na celebração. Entre os fiéis, estavam três leigos que trabalharam próximos a dom Eugenio durante seu governo pastoral: Maria Cristina Sá, que atou na Pastoral do Menor; Adionel Carlos Cunha, como assessor de imprensa; e Cândido Feliciano da Ponte Neto, no economato da Mitra e ainda responsável pelo atendimento aos refugiados.