A missão de Jesus na Galiléia segundo Santo Ambrósio de Milão

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Aquele povo viu uma grande luz, como já o relatou o profeta Isaias (cf. Is 8,23), sendo Jesus Cristo a grande luz que “ilumina todo o ser humano que vem a este mundo” (cf. Jo 1,9).

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

O Evangelista São Lucas colocou a missão de Jesus, na Galiléia, após vencer as tentações do Diabo, no deserto, referentes ao ter, poder e prazer, como ponto fundamental de sua vinda neste mundo em vista da salvação da humanidade. Jesus estava cheio da força do Espírito de modo que iniciou a sua missão na Galiléia, que o levaria até Jerusalém, pela paixão, morte e ressurreição. Aquele povo viu uma grande luz, como já o relatou o profeta Isaias (cf. Is 8,23), sendo Jesus Cristo a grande luz que “ilumina todo o ser humano que vem a este mundo” (cf. Jo 1,9). A seguir nós veremos a descrição elaborada por Santo Ambrósio na colocação da missão de Jesus a partir da Galiléia[1].

A palavra de Jesus nos profetas

Seguindo o evangelho de Lucas tem presente que Jesus foi para a sinagoga de Nazaré, sua terra natal no sábado e logo lhe deram o livro do profeta Isaias. Santo Ambrósio colocou a presença do Senhor na vida dos profetas e nas profecias. Foi Ele quem falou nos profetas para afirmar a unidade do Antigo Testamento com o Novo Testamento e que o Espírito do Senhor estava sobre Ele (cf. Lc 4,17)[2].

A presença da Trindade santa

Na passagem do livro do profeta Isaias que fala da presença do Espírito Santo, (cf. Is 61,1s) santo Ambrósio viu também a Trindade Co-eterna e perfeita. Jesus é Deus e homem, perfeito em ambas as naturezas com a presença do Pai e do Espírito Santo, sendo este cooperador, quando em forma corporal, ao modo de pomba, desceu sobre Cristo no momento que em que o Filho de Deus era batizado no rio, e o Pai falava do alto do céu (cf. Lc 3,21-23)[3].

O texto de Isaias

Jesus tomou o livro de Isaias na qual disse que Ele foi ungido com o óleo espiritual e com o celeste poder, a fim de regar a pobreza da humana condição com o tesouro eterno da ressurreição, afastar as pessoas do cativeiro, iluminar as cegueiras das almas, pregar o ano do Senhor que se estenderá pela perpetuidade dos tempos (cf. Lc 4, 18-19)[4] . Jesus assumiu este programa de vida, para libertar as pessoas de suas escravidões, dando-lhes vida, paz e amor.

A recusa do seu povo

O povo tinha os olhos fixos nele, admirado pelas palavras cheias de feitiço que saiam de sua boca. Em seguida este povo se fechou à presença do Senhor, na qual ele disse que nenhum profeta é bem aceito em sua pátria (cf. Lc 4,24). Para o bispo de Milão a inveja daquelas pessoas falou mais alto que a caridade. O Senhor não foi acolhido pelo povo de sua terra natal, sendo desprezado por pessoas invejosas que não viam nele a manifestação da divindade, da presença de Deus em sua vida, porque eles permaneceram na realidade visível, humana[5].

Não realização de milagres

Diante da incredulidade daquelas pessoas em Nazaré, sua terra, Jesus não realizou milagre algum em sua pátria, não pelo fato de que foi indiferente ao afeto de sua pátria, mas pela sua incredulidade, porque Jesus amava os seus concidadãos. No entanto, segundo Santo Ambrósio, foram estes que abdicaram da caridade à pátria por assumirem uma atitude invejosa, uma vez que a caridade não tem inveja e também não é orgulhosa (cf. 1 Cor 13,4)[6]. O fato de que Jesus cresceu naquela pátria, não seria o maior milagre? No entanto a inveja daquelas pessoas não deu uma atitude de acolhida e de amor a Jesus[7].

Os exemplos da viúva de Sarepta e do sírio Naamã

O bispo de Milão teve presentes os casos da viúva de Sarepta, na Sidônia onde Elias prestou uma grande ajuda pela sua confiança em Deus enquanto as outras pessoas manifestaram-se incrédulas, não se convertendo ao Senhor (cf. Lc 4,25). Igualmente haviam muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã (cf. Lc 4,27)[8]. O Senhor quis dizer, segundo Santo Ambrósio, que nenhuma pessoa é curada ou libertada da doença que lhe macula o corpo senão se empenha em busca da saúde com uma religiosa submissão, porque os benefícios divinos não se concedem aos que dormem, mas eles são dados aos observantes do mandamento da lei de Deus[9]. O fato é que o profeta Eliseu não fez curas de leprosos ao povo de Israel pelas suas incredulidades. O beneficio divino supera a nacionalidade das pessoas porque é dado para aqueles e aquelas que manifestam a bondade no Senhor, a confiança na cura pela medicina, o amor de Deus dado às pessoas nas quais os dons divinos são concedidos[10] .

A revolta das pessoas de Nazaré

Diante daquelas palavras e ações, os nazarenos levantaram-se contra Jesus e lançaram-no fora da cidade (cf. Lc 4,28-29). A sua missão passou pelo sofrimento naquele momento, mas ela será dada em Jerusalém. Enquanto Jesus distribuiu benefícios divinos entre os povos, em outras comunidades, as pessoas de lar, em Nazaré, infligiram-lhe injúrias. Sendo o verdadeiro Mestre, com o exemplo de vida, ensinou aos seus discípulos e a todas as pessoas que o seguem como fazer-se tudo para todos, não rejeitou aqueles que o queriam acolhê-lo, nem constrangiu os que não o almejavam, não resistiu aos que o lançaram fora, nem faltou aos que o invocavam[11]. Desta forma Jesus abandonou os nazarenos, como gente fraca e ingrata, segundo o bispo de Milão, por não poderem suportar os seus milagres, por não verem nele o Filho de Deus na carne[12].

A missão de Jesus na Galiléia foi o inicio de sua grande caminhada que o levará até Jerusalém na qual ele doará a sua vida pela salvação humana. Santo Ambrósio teve presentes estes pontos nas quais viu Jesus como Redentor, o Salvador do gênero humano.

[1] Cfr. Santo Ambrósio. Comentário ao Evangelho de São Lucas. Tradução de Luciano Rouanet Bastos. São Paulo: Paulus, 2022, pg. 220.

[2] Cfr. Idem, pg. 220.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 220-221.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 221.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 221

[6] Cfr. Ibidem, pg. 222.

[7]  Cfr. Ibidem, pg. 222.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 222.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 223.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 223.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 223.

[12] Cfr. Ibidem, pg. 228. 

Fonte

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