Acaba de realizar-se, na Penitenciaria Apostólica, em Roma, o terceiro Seminário de formação sobre o tema: “Façamos festa… ele estava morto e voltou à vida” (Lc 15,32), dirigido, sobretudo, aos leigos. Entre os objetivos, o evento tratou as dificuldades, que podem surgir no confessionário.
Lorena Leonardi – Cidade do Vaticano
“Os sacramentos incluem toda a nossa existência: a vida de cada dia, o modo de morrer e viver, comer, beber, trabalhar, mas, também, nossos pecados, fraquezas e enfermidades. Tudo leva à unidade da condição do homem novo, em Cristo. Através da vida sacramental, toda a humanidade se salva”. Com estas palavras, o Cardeal penitenciário-mor, Dom Angelo de Donatis, dirigiu-se aos participantes, na sua maioria leigos, do terceiro Seminário, de dois dias, sobre a Confissão, sobre o tema “Façamos festa… ele estava morto e voltou à vida” (Lc 15,32)”, que terminou nesta sexta-feira, 25, no Palácio da Chancelaria, em Roma.
Redescoberta do mistério dos grandes dons sacramentais
Em sua saudação inaugural, o Cardeal de Donatis disse: “O homem, por um lado, fez conquistas maravilhosas; por outro, está perdido e precisa recobrar a sua identidade; ele tenta libertar-se dos fechamentos e dependências, mas, mais cedo ou mais tarde, terá que descobrir que não pode fazer isso sozinho: ao invés de confiar apenas em si mesmo, sem confiar em Deus e nos outros, terá uma experiência dolorosa e, em seu coração, surgirá uma desolação que o leva ao desespero”. E conclui recordando “a importância de redescobrir o mistério dos grandes dons sacramentais, que a Igreja nos oferece”.
Perdoar-se, deixar-se perdoar e perdoar os outros
Cristiana Freni, da Pontifícia Universidade Salesiana, tratou do tema “Culpa, pecado, perdão: gramática antropológica do quarto sacramento”, aprofundando o aspecto da ‘restituição de si’ ao ser humano, que ocorre através da Confissão: “Nesta perspectiva, é fundamental fazer as contas com o fato que o homem não é uma realidade, que pode ser resolvida externamente, do ponto de vista material; desta forma, reivindica a transcendência, que está dentro de nós, dotada, na sua constituição, de um sentido de horizonte”. “Portanto, a gramática do quarto sacramento, continua Cristiana Freni, passa através de grandes aspectos da antropologia: reeducar a interioridade – em relação à qual o homem do terceiro milênio está mal informado – significa aceitar-se como ‘seres limitados’, eliminar seu delírio de onipotência, deparando-se com a sua pobreza, perdoando-se, deixando-se perdoar e perdoar os outros”.
Levar as pessoas de volta à Vida
Por sua vez, o Padre Fabio Rosini, diretor da Pastoral Universitária da Diocese de Roma, destacou: “Através da reconciliação temos a oportunidade de reconduzir as pessoas à vida verdadeira, sem limites. É inútil tentar modificar o homem se não lhe for dada a oportunidade de regenerar-se. O homem foi feito para ser redimido, a memória da beleza está nele”. E o sacerdote acrescentou: “Todas as vezes que um jovem vem se confessar, tenho que ser para ele um profeta justo que deseja a sua grandeza; tenho que levá-lo de volta à sua sublimidade. Talvez, isso pode demorar, porque a liberdade é o único caminho para o amor, mas, o Céu, sem ele, não seria o mesmo”.
Como (não) se confessar
Dom Krzysztof Józef Nykiel, regente da Penitenciaria Apostólica, em sua intervenção sobre o tema “Como (não) se confessar”, incentivou os participantes a “ser apóstolos da Confissão, sem ter medo deste Sacramento”. Assim, propôs dicas e truques para uma boa confissão, oferecendo aspectos práticos, ligados ao sacramento, que o Papa Francisco chama de ‘cura e felicidade’.
Para fazer uma boa confissão, afirmou o Bispo, “é preciso, primeiro, confiar no amor misericordioso de Deus e na sinceridade de coração, evitando qualquer tipo de diplomacia e astúcia, porque não são atitudes que abrem à graça, mas a verdadeira ‘contritio cordis’. Quando se fala de ‘confissão’, para alguns, parece algo desagradável, que seria melhor evitar. É verdade que confessar os pecados cometidos não é a coisa mais agradável que se possa imaginar; porém, há muitos deveres na vida, que não são agradáveis, mas devem ser cumpridos. Além das numerosas desculpas para não se confessar, nenhuma delas, objetivamente, justifica a privação deste grande sacramento”.
Cinco passos da Confissão
Aqui, o Bispo Regente expôs cinco passos para fazer uma boa confissão, indicados por catecismos, textos religiosos e devocionais: exame de consciência, ato de contrição, intenção de reparar o mal cometido, confissão dos pecados, cumprimento da penitência.
Exame de consciência e ato de contrição
Entre os vários métodos de exame de consciência, Dom Nykiel indicou: fazer a comparação com os dez Mandamentos, com as virtudes cristãs e humanas, o exame de como cumprir os deveres para com Deus e os outros. Ao examinar a consciência, o Bispo sugeriu: “Pode-se escrever os pecados em papel, mas, depois da Confissão, deve ser rasgado, um gesto semelhante ao que Deus faz com os pecados: depois da confissão, com a absolvição, eles não existem mais. Uma vez identificados os pecados, o penitente deve se arrepender, ou seja, ficar sentido pelos pecados cometidos; por isso, a sugestão seria ‘pensar no amor infinito de Deus por nós e no quão somos ingratos”.
Desejo de reparar, confissão, penitência
Intimamente ligada ao ato de contrição ou arrependimento é a intenção de reparar, também porque “se não houver desejo de reparar, isto é, de corrigir-se, não poderá haver verdadeiro arrependimento”. Na hora da Confissão é preciso expor todos os pecados graves não confessados, cometidos desde a última Confissão. Mas, seria “conveniente também”, – segundo as orientações do Bispo – confessar os pecados veniais, para “receber mais graças de Deus”: “Ao confessar os pecados graves é preciso indicar, aproximadamente, quantas vezes os cometemos e as circunstâncias, que agravam ou alteram a natureza do pecado. Porque, por exemplo, roubar num supermercado não é a mesma coisa que roubar numa igreja; e ‘adultério’ não é a mesma coisa que pecado de fornicação”.
Em todo caso, assegurou Dom Nykiel, “não devemos ter medo de confessar os nossos pecados, por maiores que sejam, porque o confessor não vai se assustar: é praticamente impossível dizer um pecado que o confessor nunca tenha ouvido na sua vida. Porém, esconder, voluntariamente, um pecado, é um sacrilégio e a confissão será anulada. Logo, se não estivermos dispostos a confessar todos os nossos pecados graves, é melhor não ir se confessar”. É bem diferente – acrescenta o Bispo – se um pecado grave for esquecido: neste caso, a Confissão é válida, mas o penitente é obrigado a confessar o pecado esquecido na próxima Confissão; entre ambas as confissões, ele pode receber a Comunhão. Quanto à penitência, não é para nos punir, mas para nos ajudar a reparar os nossos pecados”.
Precauções práticas
Por fim, o Bispo Regente recordou algumas precauções práticas no confessionário, para respeitar o desejo de muitos fiéis de não ser reconhecidos em confissões frequentes: “Confessar-se não é um cartão que se para carimba; porém, é bom confessar-se com assiduidade. Aqui, chegamos à questão do segredo sacramental, que em nenhum caso pode ser violado, nem mesmo depois da morte do penitente ou tampouco se o Papa isentasse o confessor desta obrigação”.
Ser “amigos” da Confissão
Por fim, Dom Krzysztof Nykiel, encorajou os participantes do Seminário a “ser amigos do sacramento”, que não faz perder nada, mas a adquirir muito. Ele concluiu sua intervenção, recordando: “Fiquei impressionado, na liturgia penitencial de Quaresma, que o Papa Francisco celebra, desde o início do seu pontificado, na basílica de São Pedro, ao ver o Santo Padre ingressar num confessionário, ajoelhar-se e confessar seus pecados”. Este gesto é um grande exemplo para todos os católicos. O Papa, os cardeais, os bispos, os sacerdotes, todos se confessam como leigos”.
Antes da conclusão do Seminário, Padre Marco Panero, conselheiro da Penitenciaria Apostólica, falou deum tema, sempre atual e consolador: “Temos, realmente, que nos confessar?”. Por sua vez, o Padre Ján Ďačok, da Universidade Eslovaca de Trnava, tratou da “Confissão como oportunidade de experimentar a graça”.